PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA-REDENTORISTA 50 ANOS CONSAGRADO |
1420. A Ressurreição do
mundo
Sempre rezamos: “Enviai, Senhor, o
vosso Espírito e renovareis a face da terra”.
Normalmente ficamos no aspecto espiritual. O homem, na linguagem da
Escritura e mesmo de mitos, foi feito do barro ao qual foi dada a inteligência
e a alma espiritual. O ser humano é um todo. A matéria, mesmo perecível, é
animada por uma alma que lhe dá sentido e consistência vital. Graças a Deus, a
partir do crescente respeito ao ser humano, também a natureza foi beneficiada.
Temos o sentido da preservação da natureza como condição de vida para as
pessoas. Mas há uma dimensão espiritual que pode fundamentar melhor este
cuidado. São Paulo nos ensina na carta aos Romanos sobre a vida do Espírito em
nós e na natureza: “A criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos
de Deus. De fato, a criação foi submetida à vaidade – não por seu querer, mas
por vontade daquele que a submeteu – na esperança de ela também ser libertada
da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de
Deus.” (Rm 8,19-22). A Ressurreição de Jesus e nossa ressurreição, pelo dom do
Espírito, são a base da ecologia que é também espiritual. Por isso podemos
dizer que uma vida espiritual só será coerente se preservar também os bens na
natureza. O pecado que desequilibra a pessoa tem ressonância na natureza.
Quando a Bíblia, ao narrar a criação do homem, diz: “Sede fecundos e
multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). O sentido é dominação
para não ter a terra como um deus. Mas podemos entender um lado positivo de
cuidar da terra, como lemos mais adiante: “Deus tomou o homem e o colocou no
jardim de Éden para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15).
1421. A natureza caminho
para Deus
Quando se fala de espiritualidade,
há uma tendência de sair da realidade, até com desprezo da natureza, inclusive
a humana. Isso contradiz o ensinamento da Escritura que criou tudo na unidade.
Essa unidade chega ao máximo na pessoa de Jesus que é Homem-Deus. A Divindade
se uniu à matéria. Esta matéria participa de sua Ressurreição e está
glorificada Nele. Por isso, a natureza é caminho para Deus. Por ela podemos compreender
o amor criador do Pai e força redentora da Ressurreição. A Palavra ensina: “Os
céus cantam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” ( ).
S. Bernardo dizia que aprendera mais nas plantas do que nos livros. Rezamos nos
salmos o quanto as belezas da natureza são motivo de louvor a Deus. No hino das
criaturas damos voz a todo o Universo para o louvor a Deus: “Obras do Senhor,
bendizei o Senhor….” (Dn 3,57ss). No salmo 64, depois de louvar a ação de Deus
na natureza, explode em grito que resume tudo: “Tudo canta e grita de alegria”
(Sl 64,14). A espiritualidade sem a união ao outro e à natureza é “um sino que
toca e um címbalo que retine” (1Cor 13,1).
1422. Por causa do homem
O ser humano, como natureza, está
unido ao Universo. Com a Ressurreição de Jesus o universo iniciou sua
renovação. Ressuscitar com Jesus é integrar-se sempre mais no cuidado do mundo
que nos foi confiado. O respeito, promoção e integração da pessoa na vida digna
leva consigo a natureza. Se por causa do pecado do homem a natureza sofre,
mesmo que não saibamos explicar, viver na graça é sua redenção. Na Eucaristia a
natureza que chora e geme em dores de parto (Rm 8,22), enxuga suas lágrimas e
oferece a Deus o pão e o vinho, Corpo e Sangue do Senhor, que são sua
ressurreição. Somos chamados a dar ao mundo e a todas as pessoas o direito de
amar a Deus com totalidade, unindo a sua resposta de fé, a natureza criada com
muito amor.
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