“No
decorrer do ano, a Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de
Cristo”... “Nos vários tempos do ano litúrgico, aperfeiçoa a formação dos fiéis
por meio dos exercícios espirituais e corporais, pela instrução e oração e
pelas obras de penitência e de misericórdia” (HGMR, 1).Todo ano é caminho espiritual e
formativo na fé e na prática cristã. Iniciamos a caminhada para a Páscoa que é
o centro da vida cristã e das celebrações. “Nela Cristo realizou a obra da
redenção humana e da perfeita glorificação de Deus... quando morrendo destruiu
a nossa morte, ressuscitando renovou a vida” (Ibd 18). A finalidade da Quaresma, que se
formou e tomou formas diversas durante os séculos, é preparar a celebração da
Páscoa. Ela se destina a preparar os batismos pelo catecumenato, como também
preparar os fiéis para comemoração do batismo e pela penitência. A Igreja
precisa renovar e aprofundar espírito quaresmal. Da Quaresma guardou só o
carnaval que era a despedida das “carnes” para iniciar o tempo forte do jejum e
penitências para esse momento fundamental da nossa fé. Os tempos mudaram, a
Quaresma perdeu sua característica tão típica nesse período do ano. Não adianta
voltar, mas encontrar novos modos para que o Mistério Pascal de Cristo penetre
nossas vidas e seja fonte de perene renovação para a vida das comunidades. Não só
uma mudança de cores mas de vida.
2003.
Imposição das Cinzas
A
cerimônia de imposição das cinzas sobre a cabeça vem de longa data. Já no
Antigo Testamento temos muitos momentos em que a penitência e o arrependimento
são demonstrados com as cinzas. Jesus usa esse modo quando fala da impiedade
das cidades de Corazim e Cafarnaum. Diz que cidades pagãs, se tivessem visto
seus milagres, teriam se arrependido com cilício e cinza (Mt 11,21). O
fundamental não é a cinza, mas a conversão e o arrependimento. Quando havia
ainda a penitência pública, os penitentes deveriam receber as cinzas para fazer
a penitência. Esses pecados públicos eram os que feriam diretamente a
comunidade. Na Quarta-Feira era o início da Quaresma (40 dias antes do Tríduo Pascal) e eram
reconciliados publicamente na Quinta-Feira Santa num solene ritual. Somente
pelo século IX foi dada a todos os fiéis. Por que 40 dias? O número é simbólico,
como vemos em outros momentos da história do povo de Deus. Significa um tempo
completo. As cinzas também nos lembram a fragilidade de toda criatura. Recordam
ao homem que ele é pó, cinza, conforme nos traz o livro do Gênesis 19,3:
“Lembra-te que és pó e ao pó retornarás”. A cerimônia atual recorda mais que a
fragilidade e o dever de conversão que se fazem através do Evangelho:
“Convertei-vos e crede no Evangelho”.
2004.
Vivendo a Quaresma
A liturgia traz um programa e apresenta os três modelos eficientes
tirados da pregação de Jesus para a vivência cristã. São simples, não tem
mistério, não precisa de algo especial para acontecer em nossa vida. O Senhor
faz acontecer quando nos abrimos à simplicidade da fé: esmola, oração e jejum. É
tempo de rezar mais, de procurar fazer a caridade. Jejum não é passar fome, mas
deixar de lado os exageros e despojar-se do supérfluo. Papa Francisco traz uma
bela lista de ações que podemos fazer na Quaresma que preenchem esse quadro. Já
que não existe mais a Quaresma de antigamente, podemos fazer algo novo que
recupere parte de seu sentido de conversão. Nem só de pão vive o homem, mas de
toda Palavra que sai da boca de Deus. Esta verdade precisa ser para nós.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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