PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA |
Parece um absurdo, mas até hoje não tiveram o
interesse de avisar que um dos Magos desapareceu. E porque não contam? Não era
importante? Eles voltaram por outro caminho, como diz o Evangelho de Mateus. E
nisso um se extraviou. Onde foi parar este infeliz? A tradição colocou os três
magos como vindo de mundos diferentes: África e Ásia. Na realidade parece que
são persas. Havia nas pinturas da Basílica de Belém um mosaico dos Magos
apresentando as oferendas ao Menino. Esta Basílica foi iniciada no ano 327 por
santa Helena, mãe de Constantino. Quando chegaram os persas nos inícios de 600,
destruíram as igrejas cristãs mas pouparam Belém porque estavam desenhados os Magos
usando trajes persas.
Então, um deles desapareceu. Qual? Tenho certeza que
você já se encontrou com ele. Foi aquele que trouxe a mirra! Os outros dois
trouxeram ouro e incenso. Mirra é uma resina perfumada, mas amarga. Ela
preanuncia os sofrimentos do Cristo. É apresentada a Jesus quando sofria na
Cruz, pois servia de anestésico para a dor (Mt 15,23). Servia também para a
conservação no embalsamamento dos cadáveres. Na sepultura de Jesus, Nicodemos
levou 30 libras
de uma mistura de mirra e aloés (Jo 19,39). Em curso sobre arqueologia cristã,
estudamos o túmulo de Jesus. Ali foi ainda encontrado, na pedra, sinal desta
mistura, pois as 30 libras
eram para ungir o túmulo. Pode parecer absurdo, mas foi afirmado pelo
cientista.
A mirra aparece em dois momentos centrais da vida de
Jesus: seu nascimento como um suave perfume que desceu sobre a terra. Os
Cânticos dos Cânticos dizem: “Meu amado é para mim, como um saquinho de perfume
entre meus seios” (Ct 1,13). As mulheres levavam este perfume sob os vestidos.
Jesus é este agradável perfume que se expande pelo mundo através de nós. Somos
o bom odor de Cristo (2 Cor, 2,15). A mirra, não mais perfume, mas amargor, vai
aparecer na Paixão e morte. Aqui aparece uma ligação magnífica de todo o
Mistério Pascal de Cristo que se inicia no Presépio e vai até a Morte e
Ressurreição. Os espanhóis tinham ou têm ainda uma saudação de Natal que diz:
Feliz Páscoa de Natal (felices páscoas de navidad). Natal já é Páscoa e Morte
de Jesus é ainda o ponto mais forte da Encarnação, onde o Verbo de Deus assume
totalmente nossa condição humana.
O Mago, que dizemos que se extraviou traz também
para nós a mirra que acompanha nossos sofrimentos e ao mesmo tempo o perfume
que conforta em nossas dores. Assim estamos também vivendo o Mistério Pascal de
Cristo. Por isso, não é necessário procurar o Mago desaparecido, ele vem ao
nosso encontro quando há dor e transforma-a em perfume. Assim nos
unimos a Jesus no seu nascimento e na sua morte e ressurreição.
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