A Palavra de Deus vem antes de todas as coisas, pois é o Verbo Eterno do
Pai. Ela não é um som ouvido ou um texto lido. Por meio da Palavra foram feitos
os céus (Sl 32,6)
e por Ele tudo foi feito e sem Ele nada foi feito (Jo
1,3). Esta Palavra, o Verbo
Eterno, comunicou-se ao mundo para se acolhida por aqueles que ela criou. Esta
comunicação é vida. Deus, como no Paraíso, quer continuar a comunicar-se
familiarmente com as pessoas. Ouvir a Palavra é entrar em comunhão: “Se
permanecer em vós o que ouvistes desde o início, permanecereis no Pai e no
Filho” (1Jo 2,24). Acontece, como
nos diz São João, “os seus não O receberam” (Jo 1,11). Não ouvir a voz, como no Paraíso terrestre,
“é permanecer na morte”. Faz parte do ser humano a abertura a transcendente, o
espiritual. As religiões correm o risco de fazer muitas coisas espirituais com
pouco conteúdo espiritual que é o relacionamento pessoa a pessoa com Deus. É
uma forma muito disfarçada de recusar o diálogo com Deus. Fica-se o exterior,
não vai ao profundo que é a abertura do ser humano ao Ser divino. Por que as
pessoas fogem do encontro com Deus. Não se trata aqui primeiramente de opção
por uma religião, mas do uso da capacidade de abrir-se ao ser superior. Não
existe ateu total. Existe ateísmo oportuno. No fundo não se quer compromisso,
pois quem toca Deus, descobre o ser humano ao qual deve se voltar. Como o mal
significa egoísmo, então não vale a pena abrir-se ao Ser Superior. Quem se
volta ao ser humano é porque encontrou o Ser Divino. O amor é sair de si e ir
ao encontro, como o fez Jesus. “A todos que o receberam, ... deu-lhes o poder
de se tornarem filhos de Deus’ (Jo 1,12). Aqui podemos entender a missão de Jesus que veio para nos abrir ao
relacionamento com Deus. Ele é a Palavra que se comunica através da vida e das
palavras. Iniciar o processo de conversão é justamente coibir todo egoísmo e
abrir-se a Deus e aos outros. Quem vive essa abertura são as pessoas mais úteis
à sociedade. Ideologia não sustenta o amor ao próximo.
Receber o Verbo de Deus Encarnado “é deixar-se
plasmar por Ele, para se tornar, pelo poder do Espírito Santo, conforme a
Cristo, ao Filho Único que vem do Pai”(Jo, 1,12). Isso é nascer de Deus. Quem acreditou, teve a
obediência da fé torna-se filho de Deus (VD 50).
1233.A reunião dos que acolheram
“Vemos
esboçar-se aqui o rosto da Igreja como realidade que se define pelo acolhimento
do Verbo de Deus, que, encarnando, colocou a sua tenda entre nós (Jo
1,14). Esta morada de Deus entre os homens – a shekinah (Ex
26,1) –, prefigurada no Antigo Testamento, realiza-se agora com a presença
definitiva de Deus no meio dos homens em Cristo” (VD 50). Não podemos aqui falar das divisões existentes na
Igreja, mas da unidade que há entre os que a acolheram. Por aqui podemos
iniciar a aprofundar não as linhas que nos dividem, mas os laços que nos unem.
Todos os que acolhem a Palavra são filhos de Deus. É um dom e uma missão de
levar as pessoas a descobrirem a capacidade de se unir a Deus. É missão nossa
tirar os egoísmos espirituais e partilhar da missão de Jesus que não excluiu
ninguém.
1234.Ensinados pelo Espírito.
Tudo
o que ocorreu entre Cristo e seu povo, a Igreja, permanece sempre. Não é um fato
passado. Acontece hoje. Jesus foi claro: «Eu estarei sempre
convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28,20). O
Espírito Santo foi nos dado para lembrar sempre esta verdade: “Ele vos
recordará o que vos disse” (Jo
14,26). “Temos aqui uma advertência que cada cristão deve acolher e aplicar a
si mesmo: só quem se coloca primeiro à escuta da Palavra é que pode depois
tornar-se seu anunciador», como nos escreve o Papa Bento XVI.
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