Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11.
Naquele
tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo
Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O
tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que
se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão
vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Diabo
conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és
Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus
Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu
Deus’». De novo o Diabo O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe
todos os reinos do mundo e a sua glória e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei,
se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque
está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo deixou-O, e aproximaram-se os Anjos e serviram-n'O.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul
Discursos
ascéticos, 1.ª série, n.º 85
Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim
o jejum efectuado com discernimento suscita o desejo da oração. Quando um homem
começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos pensamentos do seu espírito. Com
efeito, o corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no seu leito. Quando o
jejum sela a boca do homem, este medita em estado de contrição, o seu coração
reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das
cobiças e das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e
ser assaltado por maus desejos. O jejum feito com discernimento é uma grande
casa que protege muito bem…
Porque o jejum é a ordem que foi dada desde
o início à nossa natureza, para não comer o fruto da árvore (Gn 2,17), e é daí
que vem aquilo que nos engana… Foi também por aí que o Salvador começou, quando
se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois do baptismo, o Espírito
levou-o ao deserto, onde jejuou quarenta dias e quarenta noites.
Todos
os que partem para o seguir fazem doravante o mesmo: é sobre este fundamento que
põem o início do seu combate, porque tal arma foi forjada por Deus… E quando
agora o diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem
medo. Ele pensa imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto,
recorda-se e a sua força é quebrada. Consome-se assim que vê a arma que nos deu
aquele que nos conduz ao combate. Que arma pode ser mais poderosa e reanimar
tanto o coração na sua luta contra os espíritos do mal?
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