Margarida nasceu em Varennes, Quebec, no dia 15 de outubro de 1701, filha de Cristovão-Dufrost de Lajemmerais e de Renée de Varennes. Era a mais velha de uma família de seis filhos; perdeu seu pai quando tinha apenas sete anos.
Dos 11 aos 13 anos estudou no pensionato das Irmãs Ursulinas de Quebec, o que lhe possibilitou ajudar na educação de seus irmãos; foi também apoio indispensável à sua mãe nos trabalhos domésticos.
Margarida cresceu em idade e maturidade. Sua graça e distinção atraiam a atenção de pretendes e um jovem nobre tornou-se seu noivo. Entretanto, o segundo casamento de sua mãe com um médico irlandês, que a sociedade de Varennes considerava como um estrangeiro, influencia a reputação familiar de Margarida e o seu primeiro noivado é desfeito.
A família se transferiu para Montreal, onde Margarida conheceu Francisco d’Youville e casou-se com ele no dia 12 de agosto de 1722. O marido era um homem volúvel, egoísta, indiferente e ela sofria com suas longas ausências e seu comércio ilegal de aguardente com os Ameríndios. Francisco ficou gravemente doente e veio a falecer com a idade de 30 anos, após oito anos de casamento. Margarida estava grávida de seu sexto filho; dos seis filhos, quatro morreram ainda pequenos.
Viúva aos 28 anos, com dois filhos para educar, com dívidas contraídas pelo marido e sua reputação de novo abalada devido aos atos do esposo, Margarida abre um pequeno comércio tendo em vista a sua sobrevivência e a dos filhos, as dívidas que o marido lhe deixara, e ainda prover as necessidades dos pobres que ela encontra em seu caminho.
Sua família não aprovava seu gesto de caridade, alegando não ser bem visto pela sociedade que uma mulher de ascendência nobre, agisse de tal maneira. Apesar da oposição familiar e da sociedade, Margarida continuou sua missão junto aos pobres. Na idade de 26 anos, ainda durante o casamento, ela havia sido agraciada por Deus com uma experiência espiritual que iria transformar a sua vida conduzindo-a a cumprir sua missão de caridade.
No dia 21 de novembro de 1737, Margarida acolheu em sua casa uma mulher cega. Mais ainda, pedia esmola para o enterro dos criminosos executados na praça do mercado de sua cidade e consertava as roupas dos idosos do Hospital geral de Montreal. Sua dedicação aos pobres inspira três mulheres a se juntarem a ela.
No dia 31 de dezembro de 1737, Margarida e suas três amigas se consagram ao serviço dos pobres em quem elas veem Jesus Cristo. Esse ato é considerado como a fundação da Congregação das Irmãs de Caridade de Montreal “Soeurs Grises”. Este foi o nome dado a este pequeno grupo por desprezo. “As irmãs estão grises” (quer dizer estão embriagadas!), gritava o povo, com desprezo, para Margarida e para suas companheiras.
As pessoas que a discriminavam o faziam por relacionarem o seu trabalho ao tráfico de Francisco d’ Youville. Contudo, o mesmo povo que as desprezava então, as enalteceria mais tarde, pois elas passariam para a História como aquelas que a todos atendem e estendem a mão com suma caridade.
Mais tarde, quando as irmãs já eram bem respeitadas, Margarida escolheria este nome (soeurs grises) em sinal de humildade e lembrança desta injusta acusação.
Nos anos seguintes a obra sofre várias provações: incêndio, doença, pobreza extrema, conquista do país pelos ingleses. Margarida e suas Irmãs as aceitam numa atitude de confiança na Providência divina. No dia 2 de fevereiro de 1745, dia seguinte ao incêndio que destruiu sua casa, assinavam os Primeiros Propósitos: “receber, nutrir e manter tantos pobres quantos possamos sustentar...” Fiéis ao compromisso que assumiram, se mantêm serenas e encontram força e apoio na inabalável confiança na Divina Providência.
O Hospital geral de Montreal, construído em 1693 pelos irmãos Charon, estava em ruínas. A direção desse hospital foi confiada provisoriamente a Margarida, pois ninguém queria assumir tal tarefa. Ela entrou nesta instituição no dia 7 de outubro de 1747 e, em menos de 3 anos, com a ajuda de suas companheiras, renovou completamente esse hospital para fazer dele uma casa de acolhimento. – “Vamos à casa das ‘Soeurs Grises’, dizia o povo desvalido, elas nunca recusam ninguém”.
Sem conhecimento de Margarida, as autoridades decidiram fazer uma fusão entre o Hospital geral de Montreal e o de Quebec. Com sua constante confiança em Deus, ela diz: “Se Deus nos chama a governar esta casa, seu plano se realizará, os obstáculos e perseguição dos homens não nos poderão abalar”.
Em 1753, Luís XV, rei da França, assinava as “Cartas patentes” sancionando a nomeação de Margarida como diretora do Hospital geral. Não demorou e esta instituição ficou cheia, abrigando idosos, órfãos, deficientes mentais ou físicos, doentes crônicos, crianças abandonadas.
Margarida viveu no Hospital geral de 1747 até seu falecimento, dia 23 de dezembro de 1771. Ela abria seu coração e sua casa a todas as necessidades humanas. As últimas palavras de Margarida continuam ainda a inspirar as Irmãs de Caridade hoje. Seu último pedido foi que ficassem fiéis ao caminho que lhes havia sido traçado por Deus e percorrido por ela e suas companheiras: obediência à vontade de Deus e a mais perfeita união entre elas.
No dia 3 de maio de 1959, o papa João XXIII beatificou Margarida. Ela tornou-se assim a primeira mulher de origem canadense beatificada. Em 9 de dezembro de 1990, o papa João Paulo II canonizou esta Mãe dos pobres e apresentou-a ao mundo inteiro como modelo de amor compassivo.
A Igreja celebra sua festa litúrgica no dia 16 de outubro.
Nota: Seus três filhos
- José Francisco Youville de la Découverte (1724-1778)
- Maria Luísa Youville (1727-1727)
- Carlos Maria Madalena Youville (1729-1790)
Os dois filhos que chegaram a idade adulta se tornaram sacerdotes.
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