sexta-feira, 7 de outubro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “É bom estarmos aqui”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Escutai o que Ele diz
Luz e trevas! Vida e morte! Palavras que se encontram presentes na compreensão do mistério de Cristo e do caminho do discípulo. Iniciamos a Quaresma contemplando Cristo em sua tentação, momento das trevas e da luz. Somos tomados pela angústia da fragilidade e do pecado. Para compreender esta situação e superar o escândalo da Cruz, contemplamos Jesus em sua da Ressurreição anunciada pela Transfiguração. Temos, assim, a confiança da vitória da Ressurreição de Jesus e de nossa ressurreição com Ele. A Transfiguração de Jesus não pode ser vista somente com uma cena bonita que Pedro relembra, em sua carta, como um forte argumento: “Não foi seguindo fábulas sutís, mas por termos sido testemunhas oculares de sua majestade... quando estávamos com Ele no monte santo” (2Pd 1,16.18). Na montanha do Tabor há um ensinamento fundamental aos discípulos de Jesus: “A Lei e os Profetas vieram até João. Daí em diante é anunciada a Boa Nova do Reino” (Lc 16,16). Jesus se transfigura e, a seu lado, aparecem Moisés e Elias, simbolizando o Antigo Testamento, a Lei e os Profetas: “Quando iam embora, Pedro faz a proposta de construir três tendas para manter aquela beleza (Lc 9,33). É a tentação da comunidade de continuar no Antigo Testamento, sem assumir a novidade do Reino. Em Jesus a Lei e a Profecia chegam a sua perfeição e encerram sua função. A voz do Pai é clara indicando quem é a Lei e quem é o Profeta: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz”(35). Agora é Jesus quem fala. Fala a Palavra do Pai. Entrar na nuvem significa entrar na presença de Deus. Lembra a teofania (manifestação de Deus) no Sinai. Tendo mostrado a Glória podem descer da montanha e continuar o caminho para Jerusalém onde se realizará o desígnio de Deus na Morte e Ressurreição. A comunidade não dispensa a Lei e os Profetas, mas os compreende através de Jesus.
Promessa de uma terra
Nessa Quaresma refletimos sobre as alianças de Deus com seu povo. Deus escolheu e fez aliança com Abrão. Recebe a promessa de ser um grande povo e possuir uma terra, como lemos: “Olha para o céu e conta as estrelas se fores capaz... Assim será a tua descendência”. A teus descendentes darei esta terra”(Gn 15,5.18). Esta aliança de Deus com Abrão se dá dentro de um ritual muito forte no qual se cortam ao meio os animais. Abrão passou entre as partes dizendo as maldições rituais. O patriarca entra em profundo torpor e terror, sinais da presença de Deus. Deus, como tocha de fogo, faz o mesmo ritual, consumindo as vítima. Deus faz com ele a aliança da terra. Deus é fiel. Esta aliança que será completa pela nova aliança realizada em Cristo, através de seu corpo ferido. Jesus é fiel a esta nova aliança e associa a si todo aquele que n’Ele crê. A nos cabe a fidelidade.
Somos cidadãos do Céu
            A Transfiguração de Jesus é uma meta para todo o cristão: seremos também transfigurados: “Ele transformará nosso corpo humilhado e o tornará semelhante a seu corpo glorificado” (Fl 3,21), pois somos cidadãos dos Céus (20). Abraão foi pai do povo, ganhou a terra, teve uma descendência que chegou a sua meta: manifestar ao mundo o Filho de Deus que em si uniu todos os povos como único povo. A transfiguração é também um caminho para a vida: viver transfigurados pelas atitudes coerentes com a fé.

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