Evangelho segundo S. Lucas 10,25-37.
Naquele
tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar:
«Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus
disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas
forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele,
querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus,
tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas
mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se
embora, deixando-o meio-morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho
um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por
aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de
viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se,
ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria
montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou
duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares
a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o
próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei
respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o
mesmo».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Severo de Antioquia (c. 465-538), bispo - Homilia 89
Cristo sara a humanidade ferida
Passou por ali um samaritano. […] É
propositadamente que Cristo dá a Si próprio o nome de Samaritano, Ele a quem
tinham dito, para O insultarem: «Tu és um samaritano e estás possesso do
demónio» (Jo 8,4). […] O viajante samaritano que era Cristo – porque Ele era de
facto um viajante – viu a humanidade caída por terra. E não passou ao largo,
porque a razão pela qual empreendera essa viagem era «visitar-nos» (Lc 1,68,
78), a nós, por causa de quem Ele desceu à terra e entre quem habitou. Porque
Ele «fez a sua aparição na terra, onde permaneceu entre os homens» (Bar 3,38).
[…]
Sobre as nossas chagas derramou vinho, o vinho da Palavra, e, como a
gravidade dos ferimentos não suportava toda a força desse vinho, misturou-o com
o óleo da sua ternura e do «seu amor pelos homens» (Tit 3,4). Em seguida,
conduziu o homem à estalagem, ou seja, à Igreja, que se tornou o lugar de
habitação e de refúgio de todos os povos. Uma vez chegados à estalagem, o bom
samaritano teve para com aquele que tinha salvado uma solicitude ainda maior; o
próprio Cristo ficou na Igreja, concedendo-lhe todas as graças. […] E, ao partir
– isto é, ao subir ao céu –, deixou ao dono da estalagem, que é símbolo dos
apóstolos, dos pastores e dos doutores que Lhe sucederam, duas moedas de prata,
para que ele cuidasse do doente. Estas duas moedas são os dois Testamentos, o
Antigo e o Novo, o da Lei e dos profetas, e aquele que nos foi dado pelos
Evangelhos e pelos escritos dos apóstolos. Ambos provêm do mesmo Deus, exibindo
ambos a imagem deste único Deus das alturas, tal como as moedas de prata exibem
a imagem do rei, e imprimem nos nossos corações a mesma imagem real por meio das
santas palavras, dado que foi um só e mesmo Espírito que as pronunciou. Trata-se
de duas moedas de um único rei, deixadas ao mesmo tempo e a título igual por
Cristo ao dono da estalagem.
No último dia, os pastores das igrejas
santas dirão ao Senhor que há de vir: «Senhor, confiaste-me dois talentos, aqui
estão outros dois que ganhei», por via dos quais fiz aumentar o rebanho. E o
Senhor há de responder-lhes: «Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas
de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor» (Mt 25,22-23).
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