sábado, 14 de maio de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Perder para ganhar”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
628. Jesus, o grande que se fez pequeno
            Iniciando a Quaresma, vem-nos ao pensamento mais uma virtude que é mais um nome do amor: despojamento, esvaziamento, desapego, abaixamento. Estes são diversos nomes da mesma virtude que têm um nome comum que é kénosis. É uma palavra difícil, mas muito usada no conhecimento de Cristo. É impossível conhecer Jesus sem essa virtude. Ela é muito cara à Palavra de Deus. Vem unida à humildade. Como é uma virtude de Jesus, um modo de ser de sua vida, somos chamados a vivê-la. Esta virtude desmascara nossas falsas seguranças. O que é essa virtude de nome estranho? Temos que conhecê-la como Jesus, a viveu. É fundamental, pois é o modo de ser o do amor. É o caminho que assumiu ao vir ao mundo. Abandonou toda a aparência de divindade assumiu toda nossa fraca humanidade. É seu aniquilamento - kénosis que, para Ele significou ser em tudo semelhante a nós exceto no pecado (Hb 4,15). Esse esvaziamento, despojamento, não é uma destruição, mas a verdadeira posse de si, na qual se é capaz de deixar fora o que é secundário, como riqueza, orgulho, prazeres, até a própria vida, para possuir a Vida. Foi o que Jesus fez: deixou a divindade e assumiu a humanidade. Foi conhecido como homem e assumiu a condição de escravo (Fl 2,7). Saímos de nós mesmos para receber a totalidade da vida. Jesus é a personificação do auto-despojamento pela sua forma de servo, transbordando amor divino. Não é esvaziamento que aniquila a pessoa, mas que a coloca em plena abertura ao divino. O Filho de Deus veio em nosso socorro.
629. Modo de ser cristão
            A kénosis cristã é o conhecimento existencial da gratuidade. Quanto mais profundo for este conhecimento da gratuidade da nossa existência, tanto mais seremos capazes praticar o desapego, lançando-nos com toda a confiança nas mãos de Deus esvaziando-nos do que não é autenticamente humano. É realizar em nós o desprendimento de Cristo, tendo clara consciência do perigo que representa o orgulho e o apego ao nosso eu egoísta e nosso nada aniquilador. Não é esvaziamento e aniquilamento de nossa personalidade e de nosso eu existencial. É abertura total à graça de Deus que impede o orgulho. Deus, totalmente humilde, oferece toda a graça que é sua vida, para quem saiba se despojar. A Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes” (Lc 1,53). É a experiência da vida eterna: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo” (Jo 17,3). É viver cheio de Deus e vazio de si. Como se diz: ‘Dar ao nosso eu o D e o S (D eu S)”. Temos que nos esvaziar até na espiritualidade: Tenho receio de espiritualidades que se enchem de si, governados pelo orgulho.
630. Sereis iguais a Deus.
O paraíso se fecha quando a pessoa quer se pôr no lugar de Deus. Comer a fruta do egoísmo é matar-se, porque Deus é a vida. O egoísmo está presente até nos meios sagrados. O desapego faz-nos voltar ao esplendor original, convidando-nos à alegria à comunhão e à jubilosa partilha. Seremos livres e ricos, suficientes para cuidar dos outros, como Jesus que nos enriqueceu com sua pobreza (2Cor 9,8). Participamos de sua alegria. Paulo se esvazia, (Fl 3,7-12) por isso se sente pleno e rico. Estando vazio e cheio de Deus, não se aliena. Encontramos a nós mesmos e dentro de nós, Deus. A tentação era ser igual a Deus. A vitória é ser igual a Deus no esvaziamento para que todos tenham vida.

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