sábado, 7 de maio de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Estendeu a mão e o tocou”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Acolher é evangelizar
            O evangelho de Marcos para o 6º Domingo Comum narra a cura de um leproso. Além de mostrar uma cura, é uma evangelização importante: o acolhimento do pecador. É significativo para a comunidade que passa a ver o pecador com a mesma misericórdia que Jesus teve para com o leproso. Os leprosos, depois de identificada a lepra pelo sacerdote, eram excluídos da comunidade. Deviam andar com a barba coberta, cabeça descoberta, roupas rasgadas. Era um sinal de luto. Devia gritar: impuro! Quem o tocasse também ficava impuro. O livro do Levítico nos capítulos 13 e 14, traz uma legislação exigente sobre a lepra (Na verdade era uma medida de profilaxia que se tornou uma lei de exclusão identificando-a com o mal). O sacerdote no templo era o responsável para identificar quem era leproso excluindo-o da comunidade com conseqüências sociais, religiosas e pessoais. Compete a ele também comprovar a cura.  O leproso curado deveria celebrar a purificação com um ato religioso de sacrifício. A cura era uma verdadeira ressurreição.  Marcos relata a cena: O leproso se aproxima de Jesus, o que era proibido; não se chama de impuro, imundo, mas pede a cura com simplicidade de quem acolhe uma bondade. Jesus toca-o! Tocar no leproso era proibido. Era fazer-se leproso e entrar na marginalidade. Faz um gesto de acolhimento totalmente “pecaminoso” na linguagem da religião judaica do momento. Jesus rompe a barreira da exclusão e o restitui à comunidade, inclusive ao culto. Aceita o aspecto social de apresentar-se ao sacerdote para a volta à vida normal, mas não aceita a severidade da lei que pune um doente. Jesus, longe de ter medo, está cheio de compaixão (Mc 1,41). Esse milagre ensina os cristãos a não excluírem as pessoas seja por motivo de doença seja por pecado. Isso eram ranços da religião judaica.
A exclusão é pecado
            Jesus toca o leproso. É o gesto divino de inclinar-se sobre o sofrimento humano. “Deus é aquele que com a mão alivia a dor, segundo uma inscrição grega” (Ravasi). A lepra é um símbolo do pecado para o antigo tempo. Causa medo. Lembro-me, quando  pequeno, ver os “doentes do sangue” passar pela fazenda a cavalo pedindo esmola. Tínhamos muito medo. Não se tocava o que eles tocavam. A comunidade repete esse tratamento com respeito aos pecadores, aqueles que dizemos que não prestam ou não são como nós somos. A comunidade tem que se colocar contra o que pensa o mundo, para poder compreender o mal da exclusão. É um pecado hediondo excluir a pessoa pela raça, cor, mentalidade, partido, formação, religião e mesmo por ter uma vida errada. Jesus tocou o leproso que era um símbolo da exclusão. A misericórdia inclui a pessoa e as cura.
Comunidade lugar do perdão
            A cura do leproso é símbolo da libertação da lepra do pecado que exclui. A comunidade tem medo de se sujar com o pecado dos outros. Mas ela deve ter, como Jesus, sentimentos maternos de misericórdia pelo filho excluído. É o lugar do perdão e da cura. O excluído pelo pecado deve abrir o coração e pedir socorro pois é o melhor remédio para a cura. Devemos tomar cuidado para que os “santos” da comunidade não sejam os que excluem. Marcos também coloca a questão do silêncio sobre o ocorrido. Jesus não quer que se confunda sua missão só como cura, mas evangelização. Se buscarmos a glória de Deus, podemos, como Paulo, ser modelos para a comunidade. Cada celebração é lugar do perdão e da inclusão sempre maior de seus membros. É nela o lugar de proclamar Jesus.

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