PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Ficai atentos!
A
fé cristã tem uma forte dimensão de vigilância. Não se trata do medo de um desastroso,
mas vigilância para ir ao encontro do Senhor quando Ele vier. O tempo do
Advento é o momento litúrgico propício para esta reflexão: quando celebramos a
vinda de Cristo, como humano, nós nos lembramos também que Ele virá como Senhor,
para levar com Ele ao Reino os que esperam por sua vinda. Estar atento é a
inteligência de superar as incompreensões do momento presente. Jesus usa a
comparação do dilúvio: Noé percebeu isso, e os outros continuaram o dia-a-dia,
sem se darem conta que havia uma necessária mudança no mundo. Estar pronto para
o Senhor é compreender as horas de Deus. A hora de Deus é toda hora. Viver a
hora de Deus é caminhar para a plenitude. Esta é a capacidade que temos de unir
o começo ao fim, vivendo já o que viveremos depois, isto é, a fecundidade de
dar frutos. Jesus faz uma comparação interessante quando diz da construção da
arca: “Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebia, casavam-se e
davam-se em casamento, até o dia em
que Noé entrou na Arca. Eles nada perceberam, até que veio o
dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,38). O erro não foi casar-se, comer e beber.
O erro é viver os bens materiais e afetivos sem uma dimensão de plenitude. O
dia do Filho do Homem vai ser de plenitude, quando todas as coisas tomam
sentido a partir da graça de sua presença. O que vem nas nuvens não é o Senhor
que condena, mas o Senhor da Aliança. O conselho de vigiar com lâmpadas acesas,
com jejum, esmola e oração, com obras da caridade é o sentido da plenitude. É
estar obediente à Palavra. Noé ouviu a Palavra do Senhor e solucionou a
questão. E nós, como solucionamos o dilúvio no mundo atual, os tsunamis da
vida?
As espadas se tornarão arados
Isaías
conclama a uma percepção maior da realidade do templo do Senhor. Para ele
acorrerão os povos (Is 2,2,1-5). Os povos procurarão o templo para ali aprender
os caminhos do Senhor e seus preceitos. Todo peregrino canta: “Que alegria
quando me disseram: vamos a casa do Senhor!” (Sl 121). Na casa do Senhor, isto
é, na sua presença, temos muito a aprender. O profeta tem uma ousadia monumental
de crer numa mudança: O mundo vai se transformar. Temos direito de esperar
mudanças radicais. Há uma profecia de quem crê e espera: “Estes (povos)
transformarão suas espadas em arados e sua lanças em foices. Não mais
pegarão em arma uns contra os outros”... “Vinde, todos à casa do Jacó, e
deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (4-5). É uma esperança séria e confiante:
vai acontecer uma mudança. Por isso não podemos nos desesperar e abandonar a fé
que temos em um Deus
que é luz e força no caminho. Sonhemos acordados.
Já é hora de despertar do sono
Oração da
missa dá a perspectiva vivencial: “Concedei aos fiéis o ardente desejo de
possuir o reino celeste, para que, acorrendo com nossas boas obras ao encontro
do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”.
Paulo ensina que a espera se faz pela honestidade de vida: “Procedemos
honestamente; nada de comedeiras, bebedeiras, nem orgias sexuais e imoralidades
nem brigas e rivalidades” (Rm 13,13). É como disse Jesus sobre o dilúvio: o equilíbrio
do afeto e dos bens é a melhor maneira de esperar o Senhor, isto é, deixar que
a presença do Senhor nos invada no seu dia, isto é, na sua plenitude. É preciso
revestir-se de Cristo por dentro (14)
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