segunda-feira, 7 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Ouvindo o clamor”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
1615. Inclusão social dos pobres
Refletindo sobre a evangelização, Papa Francisco dedica largo espaço à reflexão sobre a questão grave da situação dos pobres. Há personagens que têm a ousadia de chamá-lo de marxista. Quem diz isso está sendo orientado por outra doutrina política que se chama conservadorismo. Esses são ricos e cultuam os que oprimem. Jesus Cristo já foi acusado disso. Opção pelos pobres, que não significa exclusão de outros, continua a atitude divina de ouvir o clamor dos sofredores. A história da salvação tem como momento importante a libertação dos judeus do Egito. A Escritura diz no Êxodo: “Eu vi a opressão de meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor... conheço seus sofrimentos. Desci para libertá-lo... E agora, vai; Eu te envio ... (Ex 3,7-8.10). Isso é Palavra de Deus. O cuidado dos pobres é muito mais antigo do que todas as doutrinas que estão por aí. Diz o Papa: “ficar surdo a esse clamor, coloca-nos fora da vontade do Pai, e do seu projeto” (EG 187 - Dt 15,9). Já o apóstolo João ensina que o amor ao próximo como condição para ter o amor a Deus: “Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?”(1Jo 3,17). S. Tiago recrimina os que não pagam os operários (Tg 5,4). “Ouvir o clamor dos pobres, diz o Papa, deriva da própria obra libertadora da graça em cada um de nós, pelo que não se trata de uma missão reservada apenas a alguns” (EG 187).  Citando a Congregação para a Doutrina da fé: “A Igreja, guiada pelo Evangelho da misericórdia e pelo amor do homem, escuta o clamor pela justiça e deseja responder com todas as suas forças” (Liberationis Nuntius,1).
1616. Solidariedade como caminho
            “Solidariedade é a reação de quem reconhece a função social da propriedade e seu destino universal como realidades anteriores à propriedade privada” (EG 189). Como os bens do mundo foram dados gratuitamente por Deus, também os bens privados e seu aumento só se justificam pela solidariedade. É preciso mudança do coração, pois os bens, quando se tornam deuses, massacram o coração humano, as pessoas e o mundo. É por isso que Jesus disse: “Como é difícil a um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19,23), pois exige mudança. Ninguém vai perder por ser solidário, ao contrário vai se enriquecer mais e além disso, só  levaremos de bens espirituais, pois os materiais ficam por aqui. A falta de solidariedade é fonte de corrupção e violência, no desrespeito dos direitos humanos e dos povos (EG 189). Nosso direito termina quando começa o direito do outro. Promover as pessoas é sempre um lucro, pois a solidariedade tem o retorno nela mesma.
1617. Solidariedade rende

            A solidariedade não é somente questão de comida, mas é a prosperidade e a civilização em seus múltiplos aspectos, já escrevia João XXIII na encíclica Mater et Magistra, 3, citado por Papa Francisco. Continua ele: “Isso engloba educação, acesso aos cuidados de saúde e especialmente trabalho, porque, no trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida” (EG 192). Levantando o nível das pessoas teremos um mundo melhor e até mais rico para todos. Papa Francisco, diversamente dos outros papas que só citavam Papas e Concílios, cita outros documentos, por exemplo, dos bispos do Brasil, demonstrando saber acolher as riquezas dos povos. É um apreço muito grande pelas Igrejas locais. É também solidariedade. O cuidado com os pobres não é uma questão política, mas de evangelho.

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