Jesus olhou para o moço com muito afeto pois viu nele
uma grande sinceridade na busca da vida eterna. Na liturgia da Palavra deste
domingo estamos diante do grande desafio: as riquezas. É uma das grandes
tentações que Jesus sofreu e que também nós sofremos. O bom jovem, rico,
piedoso, cheio de boa vontade, que tanto agradou a Jesus, não foi capaz de dar um
novo direcionamento a sua vida. Depois de acumular tantos bens, mesmo sendo
fiel, não soube renunciar a tudo para ter tudo. Os bens materiais se
converteram em um obstáculo para entrar no Reino dos Céus (Mc 10,23-24). O moço
pergunta a Jesus: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (17). Jesus cita
os mandamentos. A resposta é magnífica: “Tudo isso tenho feito desde a minha
juventude” (20). Para quem vive bem a vida cristã, cumprindo os mandamentos,
Jesus oferece mais um passo: “Só uma coisa te falta: vai vende tudo o que tens,
dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (21). É
intrigante: como cumprir os mandamentos salva, mas não é suficiente para o
seguimento de Jesus? Aqui está o ponto de fraqueza dos cristãos: não dar um
passo definitivo para libertar-se e viver como Jesus vivia. Jesus não condena,
mas vê dificuldades em viver o evangelho no meio das riquezas. A fé é coisa de
pobre? Não, de ricos em Deus. É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma
agulha (a agulha pode tratar-se de uma das portas de Jerusalém, que era muito
estreita, ou seteira – fresta no muro). Deus quer tudo, quer a nós, não quer
apegos a “outros deuses”. A dificuldade para o rico não está nos bens, mas em
colocar neles, com apego, sua confiança. Os discípulos se assustam e perguntam:
“Quem poderá se salvar?” Jesus responde: “Para os homens isso é impossível, mas
não para Deus. Para Deus tudo é possível” (27). Essa perfeição é possível se
vivermos a sabedoria, orientados pela Palavra. Quem abandona tudo para seguir
Jesus terá cem vezes mais, com perseguições, como ocorreu com Ele próprio.
Preferi a sabedoria
Conhecemos a bela prece de Salomão pedindo a
sabedoria. Tudo lhe foi oferecido, ele preferiu a sabedoria, pois com ela lhe
vieram todos os bens (1Cr 1,7-12). Quando Jesus afirma a impossibilidade de o
rico entrar no céu e que a Deus nada é impossível, está a nos indicar que a
sabedoria é o caminho da possibilidade que Deus garante. Tanto o rico como o
pobre, sem sabedoria, são um perigo. O que é sabedoria? É ter o sabor das
coisas de Deus; é o apetite espiritual que domina nosso ser material. Jesus vai
chamá-la de vontade de Deus: Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor! entrará no
Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt
7,21). Para Jesus essa vontade era que não se perdesse nenhum daqueles
pequeninos (Mt 18,14). Viver a sabedoria de fazer a vontade de Deus é abrir-se
aos necessitados. Isso é romper o círculo vicioso da ganância e do apego aos
bens.
A Palavra é viva e eficaz
A força da eficácia e a certeza da realização dessa
exigência de Jesus estão na Palavra que é viva e eficaz (Hb 4,12-13). Ela
discerne em nós o que é de Deus e o que são enganos. Ela julga os pensamentos e
intenções do coração. O que ouve e coloca em prática, é como o homem prudente
que construiu sua casa sobre a rocha (Mt 7,24-25). Viver a proposta que Jesus
faz ao moço de vender, dar aos pobres e segui-lo, vai nos dar 100 vezes mais com
perseguições (essas passam) e depois a vida eterna.
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