Continuamos a reflexão sobre a
espiritualidade e os sacramentos. Nesse caminho passamos pelas curvas do
sofrimento. É impossível crescer na espiritualidade sem os contornos da cruz.
Deus não ama o sofrimento, mas quer que nos unamos a Ele nesse momento. Ao
lançarmos os olhos sobre o mundo vemos sofrimento e morte. A Bíblia interpreta
o sofrimento como um castigo por causa do pecado. A maldição lançada sobre o
homem diz: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste da árvore, da qual eu
te ordenei: ‘não comerás dela”, maldito seja o solo por tua causa! Com
sofrimento tirarás dele o sustento todos os dias de tua vida. Espinhos e cardos
produzirá para ti e comerás a relva dos campos. Com o suor de teu rosto comerás
o pão, até que voltes à terra, porque dela foste tirado; tu és pó e ao pó
voltará” (Gn 3,17-19). Diante de tantos males e sofrimentos existentes no
mundo, o autor sagrado procura uma explicação nas origens. Na realidade não
está nas origens, mas no interior de cada pessoa. Ele vê o quanto esse mal enfraquece
a pessoa a ponto de Jó dizer que “a vida do homem na terra é uma batalha”. Deus
não fez o homem somente na condição de
perfeição, mas de barro a ser modelado. A fragilidade é uma componente da vida
humana. Somos matéria que tem suas riquezas e carências. Quando dizemos que o
pecado é causador dos males, não busquemos nas origens. Muitos males são
originários do pecado atual que cometemos e nos prejudica ou prejudica os
outros. Aí sim, podemos ler o texto das origens. Ele não é uma profecia, mas a
leitura da realidade transportada para os inícios. É um gênero literário
próprio do Antigo Testamento. Os males do mundo, como a doença, a miséria, as
desgraças fazem parte da vida e a nós compete superá-las.
314. Deus cura a ferida
“Ele cura os corações atribulados e
enfaixa suas feridas” (Sl 147,3). É muito bom ter a certeza de que no meio de
tantos males, há sempre a esperança de que Deus vai socorrer. Ele se apressa em
vir em nosso socorro. Tantas vezes rezamos: “Ó Deus, vinde em nosso auxílio.
Senhor, vinde depressa em socorrer-nos” (Sl 70,1). Não há lugar mais seguro
para nos escondermos, em nossas necessidades, do que ir ao encontro dAquele que
pode socorrer-nos. “Ele nos esconde à sombra de suas asas” (Sl 17.8). Por todas
as Sagradas Escrituras temos palavras que mostram que Deus é o socorro nos sofrimentos,
sobretudo dos pobres. Ele cura também a ferida de nosso pecado. O próprio nome
de seu Filho, Jesus, indica sua missão: “Deus salvará seu povo de seus pecados”
(Mt 1,21). As doenças são males que nos acompanham. Deus cura. A
espiritualidade da Unção dos Enfermos comunica-nos a capacidade de ser curados
e de curar com Deus.
315.
Médicos com Deus.
Jesus cura tantos doentes. Suas curas não eram somente
para resolver um problema, mas eram sinais do Reino de Deus presente: “Ide
dizer a João: os cegos recuperam a vista, os coxos andam...” (Mt 11,5). E, nesse
Reino, continuamos a missão curativa de Jesus. Ele, Médico divino, quer nos
associar a si no cuidado dos doentes. Assim somos médicos com Ele. Quanto Jesus
manda os discípulos em missão diz: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos,
purificai os leprosos” (Mt 10, 8). Uma das missões da Igreja é curar os
doentes. Para isso, e como parte importante de sua missão, recebeu de Jesus o
sacramento da Unção dos Enfermos para a cura espiritual e corporal dos doentes.
Assim somos médicos com Deus. A espiritualidade do sacramento inclui a missão
curativa. Vamos refletir sobre isso.
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