PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Domingo
da Misericórdia
A
misericórdia que é lembrada nesse domingo como um atributo de Deus, não é um
sentimento de dó que esperamos, mas é o projeto fundamental de Jesus. Não é
devocional nem fruto de piedade. É expressão do ser de Deus que nos conduz à fé
em Jesus. Zacarias reconhece que o nascimento de João Batista foi obra da
misericórdia de Deus que nos veio visitar e a seu
povo (Lc 1,78).
E Maria proclama que “sua misericórdia se estende de geração em geração sobre
aqueles que O temem” (50).
A misericórdia se manifesta no envio de seu Filho para nossa salvação. Ela
continua em ações e culmina em sua entrega à morte. O fruto da misericórdia é
sua ressurreição. Misericórdia não é dó dos sofredores e, muito menos, está voltada somente para o perdão de nossas
fragilidades, mas para remissão total dos pecados dando o Espírito Santo:
“Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados eles lhes serão
perdoados” (Jo
20,22-23). Misericórdia é aceitar nossa fé frágil e exigente como a que
manifestou Tomé. Essas maravilhas de Deus nos convidam a crer em Cristo para
ter a vida eterna. Crer é amar. Não é saber o código de doutrinas. Nossa fé é
grande vitória que vencerá o mundo, fazendo-o mundo de Deus. João é claro
quanto ao modo de viver nossa fé pelo amor: “Todo o que crê que Jesus é o
Cristo, nasceu de Deus e quem ama aquele que gerou alguém, amará também aquele
que Dele nasceu. Podemos saber que amamos os filhos de Deus quando amamos a
Deus e guardamos os seus mandamentos” (1Jo 5,1-2).
A
Páscoa cria e desenvolve a comunidade.
A
misericórdia constrói a comunidade. O texto dos Atos dos Apóstolos narram como
a Ressurreição gerara uma vida diferente nas comunidades cristãs primitivas.
Sabemos que a perfeição não era total, mas a comunidade era viva e aberta à
misericórdia: “A multidão dos fiéis tinha um só coração e uma só alma” (At 4,32-35). Sair de
si para ir ao encontro do outro é o fundamento da vida nova que se concretiza
na comunidade. O encontro com Cristo levava os irmãos a se desapegarem dos bens
materiais, colocando-os em comum, pois o irmão é a maior riqueza. Sabemos que esta
é uma das provas de que a Eucaristia é um bom equilíbrio social. Se alguém
passa fome ou sofre outros males na comunidade é porque a Eucaristia não é bem
celebrada. Deus oferece um mundo novo, mas o egoísmo projeta um mundo de
divisões e males sem conta. A celebração anual da Páscoa é um estímulo à
renovação de nosso mundo. Não um mundo distante, mas aquele no qual vivemos. A
misericórdia que se fixa só na devoção e não muda o coração não condiz com a
mensagem redentora de Jesus que deu a vida para dar-nos a vida nova.
Compreendamos
melhor o batismo
A Páscoa é definitiva. Nós vamos aos poucos compreendendo seu sentido e
sua força em nossa vida. Por isso a oração da Eucaristia nos faz rezar:
“Aumentai em nós a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o
batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos
redimiu”. A Páscoa é um grande dom. E concluímos a celebração com um desejo que
conservemos em nossa vida o sacramento pascal que recebemos. Em tudo fomos
transformados para levarmos adiante essa transformação. Como Tomé podemos
repetir sempre e em tudo: “Meu Senhor e meu Deus”. Esta é a maior proclamação
de fé que possamos fazer e que Tomé fez por nós. Por isso somos chamados
felizes porque não precisamos tocar, pois cremos (Jo 20,29).
Leituras:Atos 4,32-35; Salmo 117;
1João 5,1-6; João 20,19-31
1. A liturgia deste domingo acena à misericórdia que não
quer dizer dó, mas é o projeto de Jesus. Não é devocional. A redenção foi obra
da misericórdia de Deus que continua nas ações de Jesus. O fruto da
misericórdia é a Ressurreição e o Dom do Espírito. Misericórdia é aceitar nossa
frágil condição. A fé é a vitória sobre o mundo. Aquele que ama Deus amará
também o que Dele nasceu.
2. A misericórdia edifica a comunidade. A comunidade
apostólica era frágil e era um só coração e uma só alma. Sair de si e ir ao
encontro do outro é o fundamento da vida nova que se concretiza na comunidade e
realiza a comunhão de bens. Essa comunhão não permite que o irmão passe fome.
Por isso podemos celebrar a Eucaristia. A Páscoa renova o mundo.
3.É aos poucos que compreendemos o sentido e a força da
Páscoa em nossa vida. É tempo de compreender o batismo que nos lavou, o
Espírito que deu nova vida e o Sangue que nos redimiu. Pedimos para conservar o
sacramento pascal que recebemos.
Crer sem tocar.
Após
a Ressurreição Jesus se manifestou por diversas vezes aos discípulos. De
preferência aparecia aos discípulos reunidos. A comunidade é o lugar mais
importante para a manifestação do
Ressuscitado. Para crer em Jesus não é preciso tocar. Basta a fé, o que faltou
para Tomé. Os que creram se reuniram. Sua unidade e amor eram a primeira
pregação.
Para a fé ser verdadeira a união é necessário o desapego dos bens, como
nos narram os Atos dos Apóstolos. A comunidade primitiva primava pela união: “A
multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma... tudo entre eles era posto
em comum” (At 4,32).
Ver o Ressuscitado era condição para poderem se juntar e se unir. Na aparição, Jesus dá o Espírito Santo aos discípulos
para o perdão dos pecados. É o projeto de reconciliação do mundo, pois amar o
Pai e seu Filho Jesus é a base da vida da comunidade. “Todo o que crê que Jesus
é o Cristo, nasceu de Deus” (1Jo
5,1). Para ser verdade nosso amor a Deus, temos que
observar seus mandamentos. Observamos porque temos fé. Esta fé vence o mundo.
Tomé queria tocar para crer. Felizes somos nós que cremos sem precisar tocar.
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