sexta-feira, 10 de outubro de 2014

FRANCISCO DE BORJA Leigo, Jesuíta, Santo 1510-1572

A família Borja, era uma das mais célebres do reino do Aragão, Espanha. Alcançou fama mundial quando Alfonso Borja foi eleito Papa com o nome do Calixto III. No final do mesmo século, houve outro Papa Borja, Alexandre VI, que tinha quatro filhos quando foi eleito ao Pontificado. Para dotar seu filho Pedro, comprou o ducado de Gandía, (em Valência, Espanha). Pedro, por sua vez legou seu filho João, que foi assassinado pouco depois de seu matrimônio. Seu filho, o terceiro duque de Gandía, casou-se com a filha natural de um filho de Fernando V de Aragão. Deste matrimónio nasceu em 28 de outubro de 1510 Francisco de Borja e Aragão, nosso santo, que era neto de um Papa (Alexandre VI) e de um rei (Fernando) e além disso, primo do imperador Carlos V.
Uma vez terminado seus estudos, aos dezoito anos, Francisco entrou para a corte deste último. Então, ocorreu um incidente cuja importância não se soube até mais tarde. Em Alcalá de Henares, Francisco ficou muito impressionado à vista de um homem a quem se conduzia à a prisão da Inquisição: esse homem era Ignácio de Loyola.

Pai de família e Vice-rei da Catalunha

Casou-se aos 19 anos com Leonor de Castro e teve oito filhos. No ano seguinte recebeu do imperador o título de marquês de Lombay. Aos 29 anos, Carlos V o nomeou vice-rei da Catalunha (1539-1543), cuja capital é Barcelona. Anos depois, Francisco estava acostumado a dizer: "Deus me preparou nesse cargo para ser general da Companhia de Jesus. Aí aprendi a tomar decisões importantes, a mediar nas disputas, a considerar as questões dos dois pontos de vista. Se não tivesse sido vice-rei, nunca teria aprendido".
No exercício de seu cargo consagrava à oração todo o tempo que lhe deixavam livres os negócios públicos e os assuntos de sua família. Os personagens da corte comentavam desfavoravelmente a freqüência com que comungava, já que prevalecia então a idéia, muito diferente da dos primeiros cristãos, de que um leigo envolto nos negócios do mundo cometia um pecado de presunção se recebia com muita freqüência o sacramento do Corpo de Cristo. Em uma palavra, o vice-rei da Catalunha "via com outros olhos e ouvia com outras orelhas que antes; falava com outra língua, porque seu coração tinha mudado."
Em Barcelona se encontrou com São Pedro de Alcántara e com o beato jesuíta Pedro Favre. Este último encontro, veremos depois, foi decisivo para o Francisco .
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Francisco era um modelo de homem cristão

Em 1543, com a  morte de seu pai, herdou o ducado de Gandía. Como o rei João de Portugal se negou a aceitá-lo como principal personagem da corte de Felipe II, que ia contrair matrimônio com sua filha, Francisco renunciou ao virreinado e se retirou com sua família para Gandía. Isso constituiu um duro golpe, para sua carreira pública, e então o duque começou a preocupar-se mais com seus assuntos pessoais.
Com efeito, fortificou a cidade de Gandía para protegê-la contra os piratas berberiscos, construiu um convento de dominicanos em Lombay e reformou um hospital. Então, o bispo da Cartagena escreveu a um amigo dele: "Durante minha recente estada em Gandía pude ver que Dom Francisco é um modelo de duques e um espelho de cavalheiros cristãos. É um homem humilde e verdadeiramente bom, um homem de Deus em todo o sentido da palavra... Educa a seus filhos com um esmero extraordinário e se preocupa muito por sua servidão. Nada lhe agrada tanto como a companhia dos sacerdotes e religiosos..."

O encontro com a morte lhe dá nova vida

Eis aqui a história:
No mesmo ano em que foi renomado Vice-rei de Catalunha, Francisco recebeu a missão de conduzir à sepultura real de Granada os restos mortais da imperatriz Isabel. Ele a tinha visto muitas vezes rodeada de aduladores e de todas as riquezas da corte. Ao abrir o ataúde para reconhecer o corpo, o rosto da defunta estava já em processo de decomposição. Francisco então tomou sua famosa resolução: « não servir nunca mais a um senhor que pudesse morrer!"» Compreendeu profundamente a expiração da vida terrena.
Alguns anos mais tarde, estando sua esposa doente, pediu a Deus sua cura e uma voz celestial disse-lhe: «Você pode escolher para sua esposa a vida ou a morte, mas se você preferir a vida, esta não será nem para o benefício dela nem para o seu.» Derramando lágrimas, respondeu: «Que se faça sua vontade e não a minha.»
A morte de Dona Leonor, sua esposa, ocorrida em 1546 foi uma grande dor para  Francisco. O mais jovem de seus oito filhos tinha apenas oito anos quando Dona Leonor morreu.
No mesmo ano, o Beato Pedro Favre se deteve uns dias em Gandía e Francisco fez os Exercícios Espirituais de Santo Ignácio de Loyola. Em 2 de Junho fez os votos de castidade, de obediência e de entrar para a  Companhia de Jesus. O Beato Favre partiu daí a Roma, levando uma mensagem do duque a Santo Ignácio, comunicando o fundador da Companhia de Jesus que tinha feito voto de ingressar na ordem. Santo Ignácio se alegrou muito da notícia; entretanto, aconselhou ao duque que diferisse a execução de seus projetos até que terminasse a educação de seus filhos e que, enquanto isso, tratasse de obter o grau de doutor em teologia na Universidade de Gandía, que acabava de fundar. Também o aconselhava a nao divulgar seu propósito, pois "o mundo não tem ouvidos para ouvir tal estrondo."
Francisco obedeceu pontualmente. Mas no ano seguinte, foi convocado a assistir às cortes de Aragão, quebrando o cumprimento de seus propósitos. Em vista disso, Santo Ignácio deu-lhe permissão de que fizesse a profissão privada. Três anos depois, em 31 de agosto de 1550, quando todos os filhos do duque estavam já colocados, partiu este para Roma, encontrou-se com Santo Ignácio e, depois de renunciar  o ducado de Gandía, entrou para a Companhia de Jesus à idade de quarenta e quatro anos.
Quatro meses mais tarde, voltou para a Espanha e se retirou a uma ermida de Oñate, nas cercanias de Loyola. Daí obteve a permissão do imperador para transferir seus títulos e posses a seu filho Carlos. Em seguida raspou a cabeça e a barba, tomou o hábito clerical, e recebeu a ordenação sacerdotal na semana de Pentecostes, em 26 de maio de 1551. "O duque que se fez jesuíta tornou-se a sensação da época. O Papa concedeu indulgência plenária a quantos assistissem a sua primeira missa em Vergara, e a multidão que se congregou foi tão grande que foi preciso colocar o  altar ao ar livre.
Seu propósito de renunciar às honras se viu também provado na vida religiosa. Carlos V o queria ver  como cardeal, mas Francisco não aceitou.
Os superiores da casa de Oñate o nomearam ajudante de cozinheiro: seu ofício consistia em levar água e lenha, em acender a estufa e limpar a cozinha. Quando atendia à mesa e cometia algum engano o santo duque tinha que pedir perdão de joelhos à comunidade por servi-la com estupidez.
Imediatamente depois de sua ordenação, começou a pregar na província de Guipúzcoa e percorria os povos fazendo soar uma campainha para chamar as crianças ao catecismo e os adultos à instrução. Por sua vez, o superior de Francisco o tratava com a severidade que lhe parecia exigir a nobreza do duque. Indubitavelmente que o santo sofreu muito naquela época, mas jamais deu a menor amostra de impaciência.
Em certa ocasião em que abriu-lhe uma ferida na cabeça, o médico  disse ao enfaixar-lhe: Temo, senhor que vou fazer algum dano à vossa graça". Francisco respondeu: "Nada pode me ferir mais que esse tratamento de dignidade que me dão". Depois de sua conversão, o duque começou a praticar penitências extraordinárias; era um homem muito gordo, mas seu corpo começou a emagrecer rapidamente. Embora seus superiores pusessem reserva a seus excessos, São Francisco as engenhava para inventar novas penitências. Mais tarde, admitia que, principalmente antes de entrar para a Companhia de Jesus, tinha mortificado seu corpo com muita severidade.
Durante alguns meses pregou fora de Oñate. O êxito de sua pregação foi imenso. Numerosas pessoas o tomaram por diretor espiritual. Ele foi dos primeiros em reconhecer o valor maior de Santa Teresa de Jesus. Depois de obrar maravilhas em Castilha e Andaluzia, ultrapassou-se a si mesmo no Portugal.
Santo Inácio lhe dá o cargo de provincial
Santo Inácio o nomeou provincial da Companhia de Jesus na Espanha. São Francisco de Borja deu amostras de seu zelo e, em toda ocasião expressava sua esperança de que a Companhia de Jesus se distinguisse no serviço a Deus por três normas: a oração e os sacramentos, a oposição à mentalidade do mundo e a perfeita obediência. Essas eram as características da alma do santo.
Deus utilizou São Francisco de Borja para estabelecer a nova ordem na Espanha. Fundou uma multidão de casas e colégios durante seus anos de general. Isso não lhe impedia, entretanto, de preocupar-se com sua família e pelos assuntos da Espanha. Por exemplo, adoçou os últimos momentos de Joana a Louca, que tinha perdido a razão cinqüenta anos antes, como resultado da morte de seu marido e, depois, tinha experimentado uma estranha aversão pelo clero.
No ano seguinte, pouco depois da morte de Santo Ignácio, Carlos V abdicou, enclausurou-se no mosteiro de Yuste e mandou chamar São Francisco. O imperador nunca tinha sentido predileção pela Companhia de Jesus e declarou ao santo que não estava contente de que tivesse escolhido essa ordem. Este confessou os motivos pelos quais se fez  jesuíta e afirmou que Deus o tinha chamado a um estado  que unisse a ação à contemplação e no qual se visse livre de dignidades que tinha recebido  no mundo.
Esclareceu que, por certo a Companhia de Jesus era uma ordem nova, mas o ardor de seus membros valia mais que a antigüidade, já que "a antigüidade não é uma garantia de ardor". Com isso ficaram dissipados os preconceitos de Carlos V.

É eleito Superior geral e desempenha um grande trabalho

São Francisco não era partidário da Inquisição e este tribunal não o via com bons olhos, por isso Felipe II teve que escutar mais de uma vez as calúnias que os invejosos levantavam contra o santo duque. Este permaneceu em Portugal até 1561, quando o Papa Pio IV chamou Roma a instâncias do Pe. Laínez, geral dos jesuítas.
Em Roma foi acolhido cordialmente. Entre os que assistiam regularmente a seus sermões  contava-se o cardeal Carlos Borromeo e o cardeal Ghislieri, que mais tarde foi Papa com o nome de Pio V. Aí se interiorizou mais dos assuntos da Companhia e começou a desempenhar cargas de importância. Em 1566, com  a morte do Pe. Laínez, foi eleito geral, cargo que exerceu até sua morte.
Durante os sete anos que desempenhou esse ofício, deu tal ímpeto a sua ordem em todo mundo, que pode chamar-se o segundo fundador. O zelo com que propagou as missões e a evangelização do mundo pagão imortalizou seu nome. E não se mostrou menos diligente na distribuição de seus súditos na Europa para colaborar à reforma dos costumes. Seu primeiro cuidado foi estabelecer um noviciado regular em Roma e ordenar que se fizesse outro tanto nas diferentes províncias.
Durante sua primeira visita à Cidade Eterna, quinze anos antes, interessou-se muito no projeto de fundação do Colégio Romano e tinha dado uma generosa soma para pô-lo em prática. Como Superior geral da Companhia, ocupou-se pessoalmente de dirigir o Colégio e de precisar o programa de estudos. Praticamente foi ele, quem fundou o Colégio Romano, embora sempre recusou o título de fundador, que se dá  a Gregório XIII, quem o restabeleceu com o nome de Universidade Gregoriana.
São Francisco construiu a igreja de Santo André de  Quirinal e fundou o noviciado na residência contigüa; além disso, começou a construir o Gesu e ampliou o Colégio Germânico, no qual se preparavam os missionários destinados a pregar naquelas regiões do norte da Europa nas que o protestantismo tinha feito estragos.
São Pio V tinha muita confiança na Companhia de Jesus e grande admiração por seu superio, de sorte que São Francisco de Borja podia mover-se com grande liberdade. A ele se deve a extensão da Companhia de Jesus além dos Alpes, assim como o estabelecimento da província da Polônia. Valendo-se de sua influência na corte da França, conseguiu que os jesuítas fossem bem recebidos nesse país e fundassem vários colégios. Por outra parte reformou as missões da Índia, as do Extremo Oriente e deu começo às missões da América.
Entre sua obra legislativa terá que contar uma nova edição das regras da Companhia e uma série de normas para os jesuítas dedicados a trabalhos particulares. A pesar do extraordinário trabalho que desempenhou durante seus sete anos de superior, jamais se desviou da meta que se fixou, nem se descuidou de sua vida interior.
Um século mais tarde escreveu o Pe. Verjus: "pode-se dizer com verdade que a Companhia deve a São Francisco de Borja sua forma característica e sua perfeição. Santo Inácio de Loyola projetou o edifício e jogou os alicerces; o Pe. Laínez construiu os muros; São Francisco de Borja cobriu o edifício e arrumou o interior e, desta sorte, concluiu a grande obra que Deus tinha revelado a Santo Inácio".
Não obstante suas muitas ocupações, São Francisco encontrava tempo ainda para encarregar-se de outros assuntos. Por exemplo, quando a peste causou estragos em Roma,1566, o santo reuniu esmolas para assistir aos pobres e enviou a seus súditos, por duplas, a cuidar dos doentes da cidade, não obstante o perigo ao qual seriam expostos.
Foi-lhe oferecido o cargo de cardeal e tinha possibilidades de chegar a ser Papa, mas não aceitou.
Em 1571, o Papa enviou a cardeal Bonelli com uma embaixada à Espanha, Portugal e França, e São Francisco de Borja o acompanhou. Embora a embaixada foi um fracasso do ponto de vista político, constituiu um triunfo pessoal de Francisco. Em todas partes se reuniam multidões para "ver o santo duque" e  ouvi-lo pregar; Felipe II, esquecendo as antigas animosidades, recebeu-o tão cordialmente como seus súditos.
Mas a fadiga da viagem apressou o fim de São Francisco. Seu primo o duque Alfonso, alarmado pelo estado de sua saúde, o enviou a de Ferrara a Roma em uma litera. Só ficavam já dois dias de vida. Por intermédio de seu irmão Tomam, São Francisco enviou suas bênçãos a cada um seus filhos e netos e, à medida que seu irmão lhe repetia os nomes de cada um, orava por eles.
Tinha uma profunda devoção à Eucaristia e à Virgem Santíssima. Gravemente doente, quando solo ficavam dois dias de vida, quis visitar o Santuário Mariano de Loreto.
Quando o santo perdeu a fala, um pintor veio fazer seu retrato. Ao ver o pintor, São Francisco manifestou sua desaprovação com o olhar e o gesto e não se deixou pintar. Morreu à meia noite de 30 de setembro de 1572. Segundo a expressão do Pe. Brodrick foi "um dos melhores homens, amáveis e nobres que tinha pisado em nosso pobre mundo."

A humildade

Do momento de sua "conversão", São Francisco de Borja, canonizado em 1671, se deu conta da importância e da dificuldade de alcançar a verdadeira humildade e se impôs toda classe de humilhações aos olhos de Deus e dos homens. Certo dia, em Valladolid, onde o povo recebeu ao santo em triunfo, o Pe. Bustamante observou que Francisco se mostrava ainda mais humilde que de costume e lhe perguntou a razão de sua atitude. O replicou: "Esta manhã, durante a meditação, me dei conta de que meu verdadeiro lugar está no inferno e tenho a impressão de que todos os homens, até os mais tolos, deveriam me gritar: ‘vá ocupar seu lugar no inferno!’".
Um dia confessou aos noviços que, durante os seis anos que levava meditando a vida de Cristo, pôs-se sempre em espírito aos pés de Judas; mas que recentemente tinha percebido que Cristo tinha lavado os pés do traidor e por esse motivo já não se sentia digno de aproximar-se nem sequer a Judas.
Francisco não se deixou enganar pelo mundo. Sabendo-se nada confiou tudo a Jesus Cristo e obteve a santidade.
Canonizado em 1671.
Em maio de 1931, seu corpo, venerado na casa religiosa de Madri, foi queimado no incêndio que causaram os revolucionários.

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