Evangelho segundo S. Marcos 7,24-30.
Naquele
tempo, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria
que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, porque logo uma
mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele,
veio lançar-se a seus pés. Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe
que expulsasse da filha o demónio. Ele respondeu: «Deixa que os filhos comam
primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos
cachorrinhos.» Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos
comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos.» Jesus disse: «Em atenção a
essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha.» Ela voltou para casa e
encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Orígenes (c. 185-253), presbítero,
teólogo
Comentário sobre o Evangelho de Mateus 9, 16; SC 16
Jesus saiu de Israel […]: «Jesus partiu dali
e retirou-Se para os lados de Tiro» (Mt 15,21), nome que quer dizer «reunião das
nações»; e fê-lo para que as pessoas desse território que acreditassem pudessem
ser salvas quando dele saíssem. Com efeito, presta atenção a estas palavras:
«Então uma cananeia que viera daquela região começou a gritar: “Tem piedade de
mim, Senhor, Filho de David: minha filha está cruelmente atormentada por um
demónio”» (v. 22). A meu ver, se ela não tivesse saído desse território, não
teria podido dirigir a Jesus estes gritos «de uma grande fé», como o próprio
Jesus testemunhou (v. 28).
Saímos do território das nações pagãs «de
acordo com a proporção da nossa fé» (Rom 12,6). […] Pois é necessário crer que
cada um de nós, quando peca, se encontra no território de Tiro e de Sidónia, ou
do Faraó do Egipto, ou em qualquer outro país estranho à herança de Deus. Mas
quando o pecador deixa o mal, regressando ao bem, sai dessas regiões onde reina
o pecado e apressa-se a dirigir-se para as que são de Deus […]
Repara também na natureza do encontro de Jesus com a mulher de
Canaã; pois Ele parece dirigir-Se para a região de Tiro e Sidónia. […] Os justos
são introduzidos no Reino dos céus e propostos para a elevação ao Reino de Deus,
mas os pecadores ficam destinados à degradação da sua própria maldade. […] A
cananeia, deixando esse território, deixa a tendência para a degradação quando
clama: «Tem piedade de mim, Senhor, Filho de David». […] Todas as curas que
Jesus realizou, tal como as contam os evangelistas, aconteceram porque os que as
desejaram tinham fé. Mas estes acontecimentos são o símbolo do que é realizado
permanentemente pelo poder de Jesus, pois não há época nenhuma em que o que está
escrito não se realize, exactamente da mesma maneira.
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