A preocupação do Senhor pela ovelha perdida é recordada na liturgia do Sagrado Coração de Jesus. O bom pastor tem todo o seu coração voltado para as suas ovelhas, não para si mesmo. Ele provê as suas necessidades, cura as suas feridas, protege-as dos animais selvagens. Ele conhece cada ovelha pelo nome e, quando as leva para o pasto, chama-as uma a uma. Ele preocupa-se especialmente com a ovelha que se perdeu, não poupando esforços para ter a alegria de a encontrar. Uma ovelha perdida é absolutamente indefesa; pode cair numa vala ou ficar presa nos espinhos. Mas, nesse momento, em perigo, descobre quão precioso é o seu pastor: depois de a encontrar, carrega-a alegremente de volta ao redil nos seus ombros. Se um lobo se aproxima, o bom pastor não foge, mas arrisca até a vida pelas suas ovelhas. Nesses momentos, o coração do bom pastor é revelado.
Martirológio Romano: Solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, que, manso e humilde de coração, exaltado na cruz, se tornou fonte de vida e de amor, da qual todos os povos hão de beber.
Sagrado Coração de Jesus,
eu confio em Vós!;
Doce Coração do meu Jesus,
fazei que eu Vos ame cada vez mais!;
Ó Jesus de amor ardente,
que eu nunca Vos tenha ofendido!.
Estas são algumas das muitas orações jaculatórias amorosas e devotas que foram e são pronunciadas pelos católicos ao longo dos séculos em honra do Sagrado Coração de Jesus, que em sua poesia simples expressam gratidão pelo amor infinito de Jesus dado à humanidade e, ao mesmo tempo, o desejo de retribuição, das muitas almas inflamadas e apaixonadas por Cristo.
Ao Sagrado Coração de Jesus, a Igreja Católica presta um culto de “latria” (adoração unicamente a Deus, Jesus Cristo, a Eucaristia), pretendendo honrar: I – o Coração de Jesus Cristo, um dos órgãos símbolos de sua humanidade, que pela união íntima com a Divindade, tem direito à adoração; II – o amor do Salvador pelos homens, do qual Seu Coração é símbolo.
Esta devoção, já praticada na antiguidade cristã e na Idade Média, difundiu-se no século XVII graças a São João Eudes (1601-1680) e especialmente a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690). A festa do Sagrado Coração foi celebrada pela primeira vez na França, provavelmente em 1685.
Santa Margarida Maria Alacoque, uma freira francesa, ingressou no convento das Visitandinas de Paray-le-Monial (Saône-et-Loire) em 20 de junho de 1671, viveu sua experiência como freira com grande simplicidade e misticismo e morreu em 17 de outubro de 1690, com apenas 43 anos de idade.
Sob essa aparente uniformidade, no entanto, escondeu-se uma das grandes vidas do século XVII; de fato, no ambiente simples do claustro da Visitação, ocorreram as principais etapas da ascensão espiritual de Margarida, que se tornou a mensageira do Coração de Jesus na era moderna.
Mesmo antes de entrar para o convento, ela era dotada de dons místicos que foram acentuados por sua nova condição de freira; ela teve inúmeras manifestações místicas, mas em 1673 começaram as grandes visões que tornaram seu nome famoso; foram quatro revelações principais, bem como inúmeras outras de menor importância.
A primeira visão ocorreu em 27 de dezembro de 1673, festa de São João Evangelista. Jesus lhe apareceu e Margarida sentiu-se “completamente investida da presença divina”; ele a convidou a tomar o lugar que São João ocupara durante a Última Ceia e lhe disse: “Meu divino Coração está tão apaixonado pelo amor aos homens que, não podendo mais conter em si as chamas de sua ardente caridade, deve propagá-las. Eu te escolhi para realizar este grande plano, para que tudo seja feito por mim.”
Uma segunda visão lhe apareceu no início de 1674, talvez numa sexta-feira; o divino Coração se manifestou em um trono de chamas, mais radiante que o sol e transparente como cristal, cercado por uma coroa de espinhos simbolizando as feridas infligidas por nossos pecados e encimado por uma cruz, porque desde o primeiro instante em que foi formado, já estava cheio de toda amargura.
Novamente em 1674, a terceira visão lhe apareceu, desta vez também numa sexta-feira após a festa de Corpus Christi; Jesus apareceu à santa todo deslumbrante de glória, com suas cinco chagas, brilhando como sóis e daquela sagrada humanidade saíam chamas de todas as partes, mas acima de tudo de seu maravilhoso peito que se assemelhava a uma fornalha e, tendo-se aberto, ela descobriu o Coração amável e amoroso, a verdadeira fonte daquelas chamas.
Então Jesus, lamentando a ingratidão dos homens e seu descuido em relação aos seus esforços para fazer-lhes o bem, pediu-lhe que compensasse isso. Jesus a incentivou a comungar na primeira sexta-feira de cada mês e a prostrar-se com o rosto em terra das onze horas à meia-noite, na noite entre quinta e sexta-feira.
Assim, as duas principais devoções foram indicadas: a Comunhão na primeira sexta-feira de cada mês e a hora santa da adoração.
A quarta revelação, a mais maravilhosa e decisiva, ocorreu em 16 de junho de 1675, durante a oitava de Corpus Christi. Nosso Senhor disse a ela que se sentia magoado com a irreverência dos fiéis e os sacrilégios dos ímpios, acrescentando: "O que me é ainda mais sensível é que são os corações a mim consagrados que fazem isso".
Jesus também pediu que a sexta-feira após a oitava de Corpus Christi fosse dedicada a uma festa especial em honra ao Seu Coração e com Comunhões para reparar as ofensas recebidas dEle. Ele também indicou como executor da difusão dessa devoção o pai espiritual de Margarida, o jesuíta São Cláudio de la Colombière (1641-1682), superior da vizinha Casa Jesuíta de Paray-le-Monial.
Margarida Maria Alacoque, proclamada santa em 13 de maio de 1920 pelo Papa Bento XV, obedeceu ao chamado divino feito por meio de visões e tornou-se apóstola de uma devoção que levaria os fiéis à adoração do Divino Coração, fonte e lar de todos os sentimentos que Deus nos mostrou e de todos os favores que nos concedeu.
As duas primeiras cerimônias em honra do Sagrado Coração, na presença do santo místico, ocorreram no Noviciado de Paray em 20 de julho de 1685 e depois em 21 de junho de 1686, nas quais participou toda a Comunidade das Visitandinas.
A partir dessa data, o movimento nunca mais pararia, apesar de todas as adversidades que surgiram especialmente no século XVIII em relação ao objeto desse culto.
Em 1765, a Sagrada Congregação dos Ritos afirmou que o coração de carne era um símbolo do amor; então, os jansenistas entenderam isso como um ato de idolatria, acreditando que um culto somente do coração era possível, não real, mas metafórico.
O Papa Pio VI (1775-1799), na bula “Auctorem fidei”, confirmou a expressão da Congregação, observando que se adora o coração “inseparavelmente unido à Pessoa do Verbo”.
Em 6 de fevereiro de 1765, o Papa Clemente XIII (1758-1769) concedeu à Polônia e à Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração a festa do Sagrado Coração de Jesus. Na mente do Papa, essa nova festa deveria difundir na Igreja as principais passagens da mensagem de Santa Margarida, que havia sido o instrumento privilegiado de difusão de um culto que sempre existira na Igreja sob diversas formas, mas que, no entanto, lhe dava um novo rumo.
Com ela, não seria mais apenas uma contemplação e adoração amorosa daquele "Coração que tanto amou", mas também uma reparação pelas ofensas e ingratidões recebidas, por meio do aperfeiçoamento de nossas existências.
O santo dizia que "o amor conforma as almas", ou seja, o Senhor quer inspirar nas almas um amor generoso que, correspondendo ao seu, as assimile interiormente ao modelo divino.
As visões e mensagens recebidas de Santa Margarida Maria Alacoque foram e sempre permanecerão um ápice espiritual, onde o mundo foi lembrado do amor apaixonado de Jesus pelos homens e onde lhes foi pedida uma resposta de amor, diante do "Coração que se consumia por eles".
A devoção ao Sagrado Coração triunfou no século XIX e o convento de Paray-le-Monial tornou-se um destino de peregrinações contínuas; em 1856, com o Papa Pio IX, a festa do Sagrado Coração tornou-se universal para toda a Igreja Católica.
Na onda de devoção que então envolvia todo o mundo católico, capelas, oratórios, igrejas, basílicas e santuários dedicados ao Sagrado Coração de Jesus surgiram por toda parte; lembramos um entre todos: o Santuário do "Sagrado Coração" em Montmartre, em Paris, iniciado em 1876 e concluído 40 anos depois; todas as classes sociais e militares da França contribuíram para o custo impressionante.
Pinturas e gravuras representando o Sagrado Coração flamejante proliferaram, quase sempre colocadas sobre o peito de Jesus, que o apontava aos homens; organizou-se a piedosa prática da primeira sexta-feira do mês, cujos adeptos usam um escapulário com a representação do Coração; compuseram-se as maravilhosas “Ladainhas do Sagrado Coração”; o mês de junho foi dedicado ao seu culto.
Para que o culto ao Coração de Jesus, iniciado na vida mística das almas, pudesse emergir e penetrar na vida social dos povos, iniciou-se todo um movimento de “Atos de Consagração ao Coração de Jesus”, por exortação do Papa Pio IX em 1876, partindo da família para a de nações inteiras, pelas Conferências Episcopais, mas também por governos esclarecidos e devotos; cito para todos o presidente do Equador, Gabriel Garcia Moreno (1821-1875).
Houve tanto fervor, que ao longo do século XIX e das primeiras décadas do século XX, dedicado ao culto do Sagrado Coração, que surgiram numerosas congregações religiosas, tanto masculinas quanto femininas, entre as principais estão: "Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração", fundada em 1874 pelo Beato Leão Dehon (dehonianos); "Filhos do Sagrado Coração de Jesus" ou Missões Africanas de Verona, congregação fundada em 1867 por São Daniel Comboni (combonianos); "Senhoras do Sagrado Coração", fundada em 1800 por Santa Madalena Sofia Barat; "Servas do Sagrado Coração de Jesus", fundada em 1865 pela Beata Catarina Volpicelli; vários institutos femininos levam o mesmo nome.
Atualmente, a festa do Sagrado Coração de Jesus é celebrada na sexta-feira após a solenidade de Corpus Christi, uma vez que este aniversário foi transferido para o domingo. O sábado seguinte é dedicado ao Imaculado Coração de Maria, como sinal de devoção comum aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, inseparáveis pelo grande amor dedicado à humanidade.
Num papiro egípcio de cerca de 4000 anos, encontramos a expressão da nostalgia comum pelo amor: "Procuro um coração para repousar a cabeça e não o encontro, não há mais amigos!".
O desconhecido poeta egípcio lamentou isso, mas nós somos mais afortunados, porque temos esse coração e esse amigo, como São João Evangelista, que fisicamente repousou a cabeça no peito e no coração de Jesus.
Podemos ter plena confiança em tal amigo. Ele, vivendo em perfeita intimidade com o Pai, sabe e pode nos revelar tudo o que é necessário para o nosso bem.
Autor: Antonio Borrelli
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