quinta-feira, 31 de outubro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Olfato das ovelhas”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Uma linguagem nova
 
Vivemos um momento fascinante na vida da Igreja com a eleição do Papa Francisco. Ele mesmo se intitulou, quando eleito, um Papa que veio do fim do mundo. Até agora o pensamento europeu dominou a cabeça da Igreja. Com Francisco mudou o modo de ver. Acho importante tomarmos conhecimento da contribuição que o Hemisfério Sul pode dar à Igreja. Não se está mudando a doutrina, os costumes etc... São novos ares como foi o Vaticano II. Há quem não goste. Contudo, ele é o Papa. Papa Bento XVI, durante os dias do Sínodo, deu uma resposta muito clara sobre a pessoa de Francisco quando quiseram envolvê-lo contra Papa Francisco: “O Pontífice é ele”. Francisco traz uma experiência da base. Sabe muito bem traduzir as verdades em palavras simples. Há outro que também era especial nisso: Jesus de Nazaré. Numa linguagem simples explica uma verdade muito grande da fé: o sensus fidelium, isto é, o povo de Deus, no seu conjunto, não erra na fé. Quando se trata de definir um dogma, o Papa consulta o povo de Deus. Orientando diz que os bispos às vezes estão à frente do povo para indicar a estrada e sustentar a esperança; outras vezes estão no meio com sua presença; em outras, estão atrás para ajudar os que se atrasam, “porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas”(EG 31). Normalmente párocos e bispos, devido aos muitos empenhos, são administradores de qualidade, mas longe do povo. Quem conhece o bispo? Quem o vê? Francisco, quando cardeal de Buenos Aires, andava de metrô. Vejamos quanta dificuldade temos de nos misturar no meio do povo. Não se trata de abaixar o nível, mas de abaixar-se como fez o bom samaritano, isto é, Jesus. No meio do povo vamos saber a direção que o Espírito coloca no coração das comunidades 
Direção do vento 
Em Angola, Africa, aprendi o seguinte provérbio: “a palanca pasta, pasta... e de quando em quando levanta os chifres”. Quer dizer que ela está atenta à direção do vento e aos perigos que corre. Os ventos sopram. O Espírito sopra os corações com seu hálito como Deus soprou no rosto do homem e ele se tornou alma vivente (Gn 2,7). Podemos dizer que está soprando para todo lado. Assim é o Espírito, como diz Jesus a Nicodemos: “O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). A movimentação do momento presente são sinais muito bons para a renovação de todo universo da Igreja. “O Reino de Deus sofre a violência dos violentos que querem entrar e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). A violência não quer dizer um mal, mas uma força de assumir uma direção. É coragem de despir-se da aparência e assumir uma postura de fé e de coerência evangélica. Isso exige conversão e força de despojar-se do secundário para assumir o fundamental. 
O cheiro e o faro 
Impregnados de cheiro de ovelhas por estar com elas percebe-se a ação do Espírito que age no povo. Há erros que podem ser colhidos e reformados se estamos juntos. A Igreja propõe muitos organismos canônicos para que isso aconteça, como os conselhos de pastoral e de economia, como o espírito colegial nas diversas instâncias. É preciso ouvir todos e não grupos selecionados. O próprio exercício papado está em reforma para abrir-se ao movimento das ovelhas que, pelo Espírito sabem escolher caminhos. S. Agostinho dizia: para vós sou bispo, convosco sou cristão. Dizer que sempre deu certo do jeito que fazemos, é uma defesa de situações pessoais cômodas.
ARTIGO PUBLICADO EM NOVEMBRO DE 2014

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