Santo André Humberto Fournet nasceu em Saint Pierre de Maillé, no Poitou, França, no ano 1752. Santa Joana Isabel Bichier des Ages, sua compatriota, nasceu no castelo de Ages, em 5 de julho de 1773. Estas datas são de importância, pois se ambos não tivessem enfrentado os perigos da Revolução Francesa, suas vidas teriam sido totalmente diferentes. Ele teria sido um bom sacerdote, mas que logo seria esquecido por não ter deixado um traço marcante; ela seria uma esposa fiel ou uma boa religiosa, mas seus méritos não ultrapassariam os limites do seu povoado ou os muros de um claustro. Eles, todavia, se tornaram conhecidos por uma obra esplêndida. O grande escritor Luís Veulliot dizia desta Santa: “É um dos temperamentos mais ricos que encontrei. Bondosa, resoluta, séria e amável; inteligente e muito compreensiva; muito trabalhadora e verdadeiramente humilde. Não desanima diante de nenhuma dificuldade. Nenhum obstáculo nem contratempo é demasiadamente grande para obrigá-la a desistir de suas boas obras. As angústias interiores não a fazem perder a alegria exterior, e os triunfos não a tornam orgulhosa. Chegam dificuldades muito grandes: injúrias, incompreensões, problemas enormes, e nada a faz perder sua serenidade e sua paciência, porque confia imensamente em Deus”.
segunda-feira, 26 de agosto de 2024
Santa Joana Isabel Bichier des Ages - 26 de agosto
Joana Isabel Maria Lúcia nasceu no castelo des Ages, entre Poitiers e Bourges. Seu pai, Antônio Bichier, era o senhor do castelo e empregado do rei. Sua mãe se chamava Maria Augier de Moussac, e o avô materno da Santa desempenhava também um cargo público de importância. A família de Joana Isabel era profundamente católica.
O único que sabemos sobre a infância de Isabel é que era tímida, impressionável e que se comovia profundamente à vista dos mendigos e dos desditados. Um dia encontrou na rua uma pobre mulher tiritando de fome e de frio, e com uma criança nos braços. Levou-a para sua casa e lhe deu de comer e a presenteou com um manto de lã para se preservar do frio. Sua diversão favorita era ir à praia e construir castelos de areia. Mais tarde ela construiria muitos edifícios para gente pobre. E exclamaria: "Desde muito pequena eu tinha inclinação para construir edifícios". Era uma inclinação dada por Deus para que fizesse um grande bem para a humanidade.
Aos dez anos, ingressou na escola do convento de Poitiers, nas religiosas Hospitalárias, cuja superiora, a Sra. de Bordin, era sua parente. Seu tio, o Pe. de Moussac, era vigário geral de Poitiers.
Isabel tinha 19 anos. Vários jovens lhe propõem casamento, mas ela declara à sua mãe que seu maior desejo era dedicar-se totalmente à vida espiritual, buscando o reino de Deus e a salvação das almas.
Foi então que a Revolução Francesa se iniciou e os revolucionários passaram a matar todos os proprietários, inclusive seu pai. O irmão de Isabel teve que fugir do país para que não fosse morto e ela corria o risco de perder sua herança, pois a Revolução confiscou todos os bens da família. Isabel e sua mãe, então idosa e muito doente, passaram algum tempo na prisão. Isabel teve então uma ideia luminosa: aprender economia e especializar-se em defender a propriedade diante das autoridades.
Assim, ela pediu ao seu tio, o Pe. de Moussac, que a dirigisse no estudo das leis de propriedade. Tais estudos feitos em sua juventude foram enormemente proveitosos quando fundou seu instituto religioso e teve que defendê-lo nas perseguições dos inimigos, e administrá-lo para que não fracassasse economicamente. Deus prepara as almas fiéis desde tenra idade para os trabalhos e triunfos no futuro.
Mas, a coisa não foi fácil; Isabel defendeu seu irmão e as propriedades de sua família. O processo durou muito tempo, mas ela ganhou a causa. O juiz, cheio de admiração pelo valor de Isabel, lhe disse: “Cidadã, agora o único que nos resta é fazer com que se case com um bom republicano”. Mas Isabel não tinha a menor intenção de contrair matrimônio. Ainda se conserva uma estampa de Nossa Senhora do Socorro onde ela escreveu: “Eu, Joana Isabel, me consagro e dedico desde hoje e para sempre a Jesus e Maria”, 5 de março de 1797.
A Revolução Francesa havia encarcerado centenas de sacerdotes porque não quiseram ser infiéis à Santa Religião. Isabel passou a visitar os cárceres e tratava com tanta bondade os carcereiros, e era tão generosa nos presentes que lhes levava, que eles começaram a tratar bem os sacerdotes e até lhes permitiam celebrar a Missa na prisão.
A boa administração da propriedade de seu pai resultava em ganhos que ela repartia com os pobres. As famílias pobres recebiam ajuda e as mães pobres eram presenteadas com vasilhas de leite para seus filhos. Aos doentes supria com medicamentos. Repartia alimentos e roupas com muitos. Era amada e estimada por todos.
Transladou-se com sua mãe para La Guimetiére, nos arredores de Béthines do Poitu. Ali intensificou sua vida espiritual e as boas obras. Anos depois, uma criada da casa disse a algumas filhas da Cruz: “As senhoras têm um grande respeito por sua Madre. Mas eu asseguro que a respeitariam ainda mais se tivessem visto como eu o que ela fez por Deus e pelos pobres quando era jovem!” A paróquia do lugar era atendida por um “sacerdote constitucional”, por isso Isabel reunia todas as noites as famílias dos trabalhadores de La Guimetiére para rezarem, entoar hinos religiosos e lia algum livro espiritual.
Pouco tempo depois de ter escrito aquelas palavras (5 de março de 1797), Isabel soube que a 15 quilômetros de onde ela vivia, em Maillé, um sacerdote católico celebrava à noite (às escondidas do governo, que proibia qualquer manifestação religiosa) em um depósito de grãos. Ela para lá se dirigiu, porque lhe disseram que esse sacerdote era um santo. Foi assim que ela conheceu o Pe. André Fournet.
Após a Missa, Isabel procurou-o, mas eram muitas as pessoas que desejavam falar com ele. Ela abriu passagem entre as pessoas, porém o sacerdote ao vê-la tão elegante, colocou a prova sua humildade dizendo: “A Senhora aguarde, pois antes devo atender a estas pessoas pobres que são mais importantes”. Ela aceitou isto com muita boa vontade e amabilidade, e aproximou-se somente depois que todos se foram. Confessou-se com o sacerdote, que ficou encantado com sua grande humildade. Desde aquele momento nasceu uma santa amizade entre estes dois apóstolos; amizade que os levou a ajudar-se mutuamente na fundação do Instituto.
Joana Isabel manifestou-lhe seu desejo de tornar-se monja, mas ele a aconselhou a permanecer no mundo: “Vosso campo de trabalho está no mundo. Há nele muitas ruinas que reedificar e muita ignorância a remediar”; e ajudar a juventude pobre sempre tão desprotegida. Ela aceitou. Durante os meses de verão, trabalharam com ela duas amigas - Madalena Moreau e Catarina Guiscard - e uma de suas empregadas chamada Maria Ana Guillon. Em 1804, a mãe de Isabel faleceu.
O Pe. Fournet mandou que ela vestisse uma túnica negra de tecido ordinário, o que a princípio desgostou muito seus familiares ricos, que desejavam que ela se vestisse com luxo e elegância. Depois, entretanto aceitaram o fato, pois viam que era proveitoso para sua santificação. O Pe. Fournet também mandou Isabel fazer um noviciado na Sociedade da Providência para que ela adquirisse conhecimento das regras de uma comunidade religiosa.
Isabel e o sacerdote começaram a reunir jovens piedosas de boa vontade, entre elas as suas antigas colaboradoras. Como La Guimetiére ficava muito distante de Maillé, a comunidade se trasladou, em maio de 1806, para o castelo de Molante. Ali as religiosas começaram a ensinar as crianças, a atender os pobres, os doentes e fazer atos de reparação aos ultrajes cometidos contra o Santíssimo Sacramento durante a Revolução.
A princípio Santo André e Santa Isabel projetavam simplesmente uma congregação local. As primeiras religiosas fizeram os votos temporários no início de 1807. Porém, em fins de 1811, haviam compreendido que era necessário fundar uma nova congregação.
Cinco anos depois, as autoridades eclesiásticas de Poitiers aprovaram oficialmente as Filhas da Cruz. Tal é o nome próprio da congregação, embora haja outras com o mesmo nome. A fundadora gostava de chamar suas religiosas Irmãs de Santo André, em honra do santo patrono do P. Fournet. O nome de Filhas da Cruz tinha um significado muito profunda para a “boa Madre Isabel”. O cargo e a vocação de Isabel lhe trouxeram muitas provas e cansaços, aos quais ela acrescentava jejuns, vigílias e outras austeridades. Por outro lado, o Pe. Fournet não a tratava precisamente com doçura.
Em 1815, devido um acidente sofrido em um veículo, a santa teve que ser operada em Paris. O rei Luís XVIII a recebeu nas Tulherias. Ao voltar para Maillé, Isabel sofreu uma das maiores provas de sua obediência e humildade: o Pe. Fournet acolheu-a friamente e comunicou que havia deixado de ser superiora. Dizem que o Pe. Fournet agiu assim por ter sido enganado por línguas maldosas, mas é possível que a verdadeira razão tenha sido o desejo de evitar que os êxitos de Paris causassem danos a alma de Isabel. Tanto é que uma semana depois restituí-lhe o cargo.
Entre 1819 e 1820, Santa Isabel inaugurou treze conventos. Em 1820 a casa-mãe foi instalada na antiga Abadia de La Puye; em 1821 outra casa foi aberta em Paris. As autoridades civis queriam que fossem fundados pequenos conventos nas regiões rurais e que as religiosas trabalhassem entre os camponeses do lugar. Assim, entre 1821 e 1825, as Filhas da Cruz fundaram umas quinze casas em uma dezena de dioceses diferentes. Depois, o bispo de Bayonne as chamou ao sul da França, e a congregação se introduziu em Béarn, no País Basco, Gasconha e Languedoc. Em 1830, já havia mais de sessenta conventos e as viagens de Madre Isabel podiam rivalizar com as de Santa Teresa de Jesus. Ela fundou mais de 60 colégios para meninas pobres.
Quando o convento de Igon, no País Basco, foi fundado, um jovem vigário chamado Garicoits (que é venerado pela Igreja como São Miguel Garicoits) foi nomeado diretor espiritual. Santa Isabel o animou a fundar a congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Bétharram, por isso o santo dizia: “É a obra da boa Madre. Eu não fiz mais do que seguir as suas instruções”. Em 1834, quando Santo André faleceu (“a maior perda e a mais triste que tenhamos sofrido”, segundo declarou Santa Isabel), o Pe. Garicoits se converteu no segundo Pe. Fournet das Filhas da Cruz, pelo menos no que se referia aos conventos do País Basco, e o foi até sua morte.
Depois da operação de 1815, uma operação malfeita, Santa Isabel ficou inválida. Viveu assim uma espiritualidade fundamentada na contemplação da Cruz e de sua grande devoção a Eucaristia. Além de suas numerosas e penosas viagens e de seus esgotantes trabalhos, fazia jejuns e penitências, e rezava muito e sem se cansar. Nas últimas semanas de vida sofreu dores agudíssimas que a ajudaram a ainda mais se santificar. Quando faleceu, no dia 26 de agosto de 1838, Santa Isabel Bichier des Ages deixava noventa e nove casas, distribuídas em vinte e três dioceses, que contavam com seiscentas e trinta e três religiosas.
Foi beatificada em 13 de maio de 1934 por Pio XI e canonizadas em 6 de julho de 1947 por Pio XII. O Pe. Rigoud escreveu a primeira biografia de Santa Isabel Bichier des Ages (traduzida para o italiano em 1934). Escreveu também uma vida de Santo André Fournet, cofundador das Filhas da Cruz.
Fontes:
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