sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Santa Centola, mártir - 2 de agosto

Segundo o Ano Cristão, Centola nasceu em Toledo, de pais nobres e pagãos. Desde pequena, por seu próprio raciocínio e observação da realidade, sobretudo pela graça divina, compreendeu a falsidade da idolatria. Assim, abraçou em segredo a fé cristã com tudo o que isto significa: oração, caridade, sacrifícios, anúncio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seu pai tentou fazê-la abandonar a nova fé e voltar à fé de seus pais. Promessas, presentes, ameaças, nada pode “separá-la de Jesus Cristo, cujo amor se havia apoderado de seu coração inteiramente”. Sentindo muito, fugiu de sua casa chegando a Soris ou Siaria (atualmente Sierro), terra que pertencia ao antigo bispado de Burgos, embora não à cidade. Ali se hospedou na casa de uma senhora cristã chamada Helena. As crônicas ou as tradições não nos relatam como elas se conheceram, nem porque ali, porém é provável que sendo a hospitalidade entre os seguidores da mesma fé uma virtude amada pelos cristãos, Helena a acolheu ao saber que fugia por motivos religiosos. Assim foi que Centola e Helena se dedicaram às obras de caridade e de piedade. Entretanto, o imperador Maximino, “persuadido de que a subsistência de seu império dependia da destruição da religião do Crucificado” (segundo o Ano Cristão), enviou seu ministro Eglisio às terras cantábricas para obrigar aos cristãos a cumprir a lei de sacrificar aos deuses renegando sua fé. Inteirado de que Centola, além de não ocultar sua fé, a pregava e convertia à Igreja muitos habitantes da região, mandou-a chamar ao tribunal.

     Outra vez foi submetida a promessas, ameaças, desta vez por parte de quem a executaria, que não puderam dobrá-la, o que levou Eglisio mandar colocá-la no ‘potro’, que estiraria seu corpo. Embora ouvindo claramente que seus ossos se desconjuntavam, mandou ferir seu corpo com garfos de ferro. Centola porém nem renegou sua fé, nem implorou, mas ao contrário, ridicularizava seus verdugos e os desafiava a provar novos tormentos. Ela foi levada para a prisão e a deixaram agonizar devido às feridas que sangravam.
     Inteiradas disto, algumas nobres senhoras da vila, espantadas diante da crueldade do governador, e compadecidas de Centola, foram até a prisão. Tentaram persuadi-la a ceder às leis. Centola respondeu com uma apologia à fé cristã e lhes deu a entender o prêmio que lhe estava reservado por permanecer fiel a Cristo, e se elas pudessem intuir qual seria ele, elas teriam inveja dela e não compaixão.
     Eglisio soube desta admoestação no cárcere e mandou cortar sua língua, porém “aquele Senhor por quem padecia fez com que falasse sem este instrumento, por uma daquelas portentosas maravilhas de Seu infinito poder”. Ou seja, sem a língua falou, e mais do que falar, profetizou que Helena, que veio visitá-la, também seria martirizada e desejou a ela “valor para que não desfaleças na prova”.
     Tendo Eglisio se inteirado de que Helena também visitara Centola e que era cristã, mandou-a aprisionar, com o que ela se alegrou “desejosa de acompanhar sua amiga na morte, como havia feito em vida”. Finalmente, ambas foram degoladas no ano 304 da era cristã. Provavelmente foram executadas fora da cidade.
     
Em 782, os esposos Fernando e Gutina, senhores de Castro-Sierro, construíram uma pequena igreja em Valdelateja, sobre o local tradicionalmente considerado o do martírio. No século IX, Fernando, Conde de Santander e Castela, mandou restaurar o santuário da Santa em Sierro.
     Os calendários moçárabes celebram Centola o dia 2 de agosto, porém não lhe dão o título de mártir e seu culto não se associou ao de Helena até o século XIV, quando do translado dos corpos realizado por D. Gonzalo de Hinojosa, que pôs seu martírio a 4 de agosto de 304.
     Este translado se realizou em 1317, reinando Alfonso XI, para que elas recebessem um culto mais apropriado na catedral de Burgos (embora suas cabeças permanecessem em Sierro). D. Gonzalo colocou suas relíquias no altar mor, e lhes concedeu Missa e Ofício próprio, com rito duplo de primeira classe. Decretou que se fizesse procissão e que esse dia fosse de preceito para a cidade e diocese de Burgos.
     Baronio as inscreveu em seu martirológio em 13 de agosto “Burgis in Hispania Santarum Centollæ & Elena Martirum”, seguindo Alfonso de Villegas, autor do Flos Sanctorum (Toledo 1578).
     Atualmente o arcebispado de Burgos celebra Santa Centola dia 2 de agosto, e não no dia 13, como antes. Ao revisar e reformar seu calendário próprio, somente Centola é celebrada, porque ainda que as atas sejam legendárias e sem crédito, o culto a Centola está enraizado em Sierro, não o de Helena, cuja pessoa e culto foi acrescentado no século XIV, e sobre a qual nada se sabe; talvez seja outra mártir desconhecida.
Martirológio Romano: Na região próxima da atual cidade de Burgos, na Espanha, Santa Centola, mártir.
Interior da ermida,
com as imagens das Santas
Heroinas da Cristandade: Santa Centola, mártir - 2 de agosto

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