Deus nos deu os sentidos para entrarmos em diálogo. A pessoa humana é toda comunicação. Sem comunicação não sobrevive. Temos um sentido especial para entrar em diálogo com Deus: a audição. Em seus diálogos com a humanidade, Deus sempre usou da palavra para se comunicar. A carta aos Hebreus confirma: “Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora aos pais pelos profetas: Agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho...” (Hb 1,1-2). Não só falou, mas enviou Jesus que é a Palavra, como lemos no evangelho de João: “ No princípio era o Verbo [= a Palavra], e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Jesus é a Palavra que se comunica através de palavras. João diz que o conhecimento de Jesus se deu em primeiro lugar pela palavra: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da Palavra da Vida – porque a vida manifestou-se: Nós vimos e damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava com o Pai e apareceu a nós – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos” (1,1-3). A palavra ouvida se torna palavra comunicada. A palavra anunciada é para ser ouvida e praticada, como nos diz S. Tiago: “Tornai-vos praticantes da Palavra e não simples ouvintes enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22). A fé vem pelo ouvido (Rm 10,17), isto é, pela pregação. Falamos muito nas igrejas, mas ouvimos pouco. Diz-se que a Igreja católica é a igreja do ouvido. É fundamental desenvolver a capacidade de ouvir. Por isso a liturgia deve ser audível, e o fiel ser atento ao Deus que fala. Tanta gente boa que sempre se alimenta da Palavra e com ela modifica a vida e o mundo. Quanto é difícil fazer silêncio para Deus falar.
Falando em nome de Deus
Quando Jesus foi a Nazaré (Mc 6,1-6) e ensinou na sinagoga, seus conterrâneos, amigos de infância, de trabalho e até dos folguedos de sua cidade, recusaram-no porque não admitiam que Ele tivesse aquela sabedoria. Sabiam que era um excelente carpinteiro, como seu pai José. Mas... falar em nome de Deus, não lhe permitiram. A vida do profeta é dura como podemos comprovar nas palavras de Ezequiel (Ez 2,2-5). Jesus diz claro: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Mc 6,4). Vemos em todos os profetas as dificuldades ao anunciar a Palavra de Deus, pois elas sempre levam a retomar o caminho. Trata-se do anúncio da conversão. Conversão não agrada. Por que se recusa a quem fala em nome de Deus? Nós acolhemos sem problemas nem questionamentos palavras que se dizem. Como não vão ao coração nem indicam um caminho de Vida pela conversão, estas nós aceitamos.
Ensinar a ouvir
Para poder ouvir é preciso fazer o silêncio do coração. Elias falou com Deus somente quando houve o silêncio (1Rs 19,12). Silêncio não significa falta de barulho, mas falta de capacidade de selecionar o que se ouve. Podemos estar sós no meio da multidão e ter a multidão dentro de nós quando estamos sós. Há necessidade de nossas comunidades educarem as pessoas para quererem ouvir. Vamos a uma celebração e não ouvimos Deus falar. Se quisermos ouvir, Ele fala. Por outro lado é preciso criar um ambiente para aprender a ouvir. Todo dia é dia de ouvir Deus falar. Deus fala aos que querem ouvir.
ARTIGO PUBLICADO EM JULHO DE 2012
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