domingo, 21 de janeiro de 2024

São Máximo o Confessor, Monge, Pai da Igreja (+662), 21 de Janeiro

 Máximo o Confessor (580-662) era monge e teólogo bizantino. Sua festa é celebrada em 21 de janeiro, na Igreja do Ocidente, e em 13 de agosto, nas Igrejas do Oriente.

Dados hagiográficos
Há duas versões da história de vida de Máximo. Segundo uma hagiografia (biografia dos santos) datada do Século X, mas que se apóia em dados de fontes anteriores, ele teria nascido numa ilustre família de Constantinopla. Nascido em 580 d.C., Máximo teria sido, aos trinta anos, protasekretis (palavra grega que significa Primeiro Secretário) na corte do imperador Heráclito. Ele teria se tornado monge em 613, no mosteiro de Crysópolis, próximo a Constantinopla, e depois em Cyzico. Após a invasão persa no ano de 626, teria se refugiado em Cartago.
De acordo com um polêmico texto siríaco do Século VII, atribuído ao monofisita George (Gregório) de Resaina, Máximo seria, ao contrário, natural do vilarejo palestino de Heshfin e teria entrado no mosteiro de São Sabas, próximo a Jerusalém. Parece que esta versão é a mais próxima às relações que Máximo mantinha com personalidades palestinas, como Sofrônio de Jerusalém ou o Papa Teodoro1. Mas, por outro lado, algumas indicações presentes na obra de Máximo favorecem a primeira versão.
Máximo escreveu comentários sobre trechos difíceis ou ambíguos das Sagradas Escrituras: as  Quaestiones ad Thalassium, e dos Padres da Igreja: as Ambigua ad Iohannem, assim como opúsculos ascéticos e místicos, uma carta-tratado sobre a liturgia: a Mistagogia, e outras cartas abrangendo a teologia, bem como obras de controvérsia. Ele se opunha aos monofisitas, grupo que sustentava a idéia de que Cristo possui apenas uma natureza: a divina, em detrimento de Sua humanidade.
Em 638, um decreto imperial quis conciliar monofisitas e ortodoxos, declarando que havia em Cristo duas naturezas (humana e divina), mas uma só vontade (monotelismo). A partir de 639, Máximo implicou-se na controvérsia sobre o monotelismo em Constantinopla, na África e em Roma. Conforme o Concílio da Calcedônia, que reconhecia “um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem”, Máximo defendia a teoria das duas vontades, sem as quais Cristo não poderia ser perfeitamente nem Homem, nem Deus. Em 645, ele conseguiu, durante um debate, trazer novamente à ortodoxia o antigo patriarca de Constantinopla, Pyrrus, então partidário do monofisismo e do monotelismo.
 Enquanto monge, ele não pôde participar do Sínodo de Latrão, ocorrido em Roma no ano de 649, que condenou o monotelismo, mas sem dúvida Máximo inspirou a decisão final dos bispos e contribuiu para a redação dos Atos do Concílio. Sua assinatura está presente num documento levado ao Concílio em nome dos monges de São Sabas. (Há grandes dúvidas sobre a autenticidade deste Concílio de Latrão, cujos atos parecem ter sido redigidos em grego antes mesmo que ele tenha acontecido.) Máximo permaneceu em Roma até 653.
Em seguida, as variações doutrinais dos imperadores bizantinos voltaram-se contra ele. Ainda em 653, ele foi preso por Constante II ao mesmo tempo que o Papa Martinho. Durante seu processo em Constantinopla, Máximo recusou-se a se declarar em comunhão com o patriarca de Constantinopla. Isto lhe valeu o exílio em Bizya, às marges do Mar Negro, em 655. Ele recusou as ofertas de perdão e de reconciliação do imperador e do patriarca de Constantinopla, partidários do monotelismo.
Máximo foi novamente convocado a Constantinopla, em 662, e novamente julgado pelos bispos e senadores bizantinos. Torturado, ele teve a língua e a mão direita decepadas. Em seguida, foi deportado para a região de Lazes (região Tsagueri, a Oeste do Mar Negro e ao Norte da atual Geórgia), onde veio a morrer em conseqüência dos ferimentos, no dia 13 de agosto do mesmo ano.
Sua firmeza na fé, assim como os maus tratos que recebeu, valeram a Máximo o título de “Confessor” da fé. Hoje ele é reconhecido como uma autoridade de referência para a teologia, sobretudo no diálogo entre católicos e ortodoxos2.
Obra
A obra de São Máximo é considerável. Nela encontramos, entre outros títulos, “Questões a Thalassios”“Séculos de Caridade”“Mistagogia”“Cartas”“Ambíguas a João” (esclarecimentos sobre passagens ambíguas dos escritos de São Gregório o Teólogo e de Denis o Aeropagita), “Opúsculos teológicos e polêmicos”, um “Discurso ascético”, um “Comentário sobre o ‘Pai Nosso’ ”, dentre outros.
Seus escritos teológicos e espirituais são fortemente influenciados pelas obras de Evágrio Pôntico, dos Padres capadócios, do Pseudo-Dênis o Aeropagita, de Cirilo de Alexandria e de Leôncio de Jerusalém. O monotelismo, ao qual Máximo se opunha fortemente, foi enfim condenado pelo III Concílio de Constantinopla (6º Concílio Ecumênico) em 680.

 Citações
 “Quem conseguiu se iniciar com bom senso e sabedoria nos ritos praticados na Igreja, fez de sua própria alma uma Igreja divina, uma Igreja verdadeiramente de Deus.” (Mistagogia, fim do cap. 5)
“Nós fomos salvos pela vontade humana de uma Pessoa divina.”
“Não é minha intenção desagradar ao Imperador, mas não posso optar por ofender Deus.”

Notas 
1. Ver o artigo de Ch. Boudignon, “Seria Máximo um constantinopolitano?”, em Orientalia Lovanensia Analecta 137, 2004, p. 1 – 43.
2. Ver o livro de J.C. Larchet : “Máximo o Confessor, mediador entre Oriente & Ocidente” (“Maxime le Confesseur, médiateur entre Orient & Occident”), Ed. Cerf, 1998.

Tradução e Adaptação :
Gisèle Pimentel

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