segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Santa Gúdula, padroeira de Bruxelas - 8 de janeiro

 A Catedral de Bruxelas é visitada por todos que vão àquela cidade por causa de seu grande valor histórico e arquitetônico. Ela é dedicada a Santa Gúdula, virgem, padroeira de Bruxelas, muito pouco conhecida fora da Bélgica. Para muitos o seu nome soa estranho e bárbaro, como a longínqua época em que ela viveu.     De acordo com a Vita Gudilae, escrita em 1048 por Onulfo de Hautmont, hagiógrafo na Abadia de Hautmont, Santa Gúdula nasceu numa aristocrática família franca. Seu pai era Viterico, duque da Lorena, e sua mãe, Santa Amalberga de Maubeuge.     Gúdula veio ao mundo no ano de 650, no Brabante, região central da atual Bélgica. É uma das estrelas de uma constelação de santos: filha de Santa Amalberga, afilhada de Santa Gertrudes de Nivelles, irmã de São Aldeberto e Santa Reinalda. Santa Reinalda, viveu praticamente como monja em uma de suas propriedades no Brabante, próximo de Hal, e São Aldeberto foi bispo de Arrás e Cambrai.     Gúdula foi educada no Convento de Nivelles sob a tutela de sua santa madrinha. Por ocasião da morte de Santa Gertrudes, em 659, retornou à casa de seus pais. De acordo com alguns historiadores, Gúdula viveu reclusa no oratório de São Salvador de Moorsel, distante poucas milhas de sua casa paterna. Segundo outros, ela passou a viver em casa, levando uma vida extraordinária de piedade e de recolhimento.  Narra a tradição que todas as manhãs, antes da aurora, Santa Gúdula se dirigia à capela de madeira dedicada a São Salvador, em Moorsel. Certa manhã, o demônio, furioso por vê-la tão devota, apagou a lanterna que ela levava. Gúdula ajoelhou-se no chão lamacento, se pôs a rezar e a lanterna acendeu milagrosamente. Este fato deu origem à iconografia da Santa: uma lanterna às vezes substituída por uma vela que a Santa tem na mão, enquanto o demônio, iracundo, jaz a seus pés e um anjo acende de novo o círio.

     Outra versão, conta que toda vez que Gúdula buscava chegar até a capela, o demônio enviava diabinhos para que estes perturbassem sua concentração e, com isso, conseguissem apagar a chama da lanterna. Vendo isto, Gúdula intensificava sua oração e um Anjo do Senhor aparecia ao seu lado, afastando o mal. Cansado e vencido, o mal partia e Gúdula chegava protegida até a capela.
     Esta história nos faz refletir sobre a força e o poder da oração, que é uma luz que nos conduz e nos protege em nosso caminho, afastando o mal que tenta nos prejudicar.
     A ação do Anjo – protegendo e guiando Santa Gúdula – nos mostra como estas criaturas divinas colaboram na obra do Senhor e velam por nós, nos protegendo, mas também orientando-nos em direção à Luz Divina. Nos momentos difíceis, somos guiados e protegidos pelos Anjos do Senhor, por isso a devoção aos Anjos e, sobretudo, ao Anjo da Guarda é importante em nossa caminhada espiritual.
     Humberto, o antigo cronista de Lobbes, apresenta Santa Gúdula como uma mulher consagrada de corpo e alma ao socorro do próximo. Voltando um dia da capela de Moorsel, encontrou uma pobre mulher que levava nos braços um menino de dez anos, paralítico de pés e mãos. Gúdula tomou-o em suas mãos, acariciou-o e rezou com fervor Àquele que disse: "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome vos será concedido". O menino se sentiu curado imediatamente e começou a dar saltos de alegria.
     Em outra ocasião, uma leprosa chamada Emenfreda foi ao seu encontro. A Santa examinou suas chagas, consolou-a com pensamentos sublimes e em seguida a curou. Estes fatos prodigiosos rapidamente se tornaram conhecidos na região e uma multidão de sofredores procuravam-na em busca de alívio para os seus males.
A Santa em iluminura
do séc. XV
     Após breve enfermidade Gúdula morreu, provavelmente em 8 de março de 712. O cronista Humberto descreve a desolação da pobre gente da comarca, que estava acostumada a vê-la como a uma espécie de fada protetora, e relata os grandes louvores que dela fizeram. Nunca se tinha visto tantas muletas e sacolas numa missa de funeral, que foi rezada na igreja de Ham (Alost, Bélgica). Gúdula foi enterrada em Vilvoorde.
     Tempos depois, o corpo de Santa Gúdula foi transladado para Moorsel, e junto ao seu túmulo construiu-se um mosteiro que durou pouco tempo.
     Mais tarde, provavelmente em 977, seus despojos foram confiados a Carlos de França, filho de Luís, duque da Lorena. Durante uns sessenta anos Santa Gúdula repousou na Igreja de São Géry de Bruxelas.
     Finalmente, em 1047, o Conde de Lovaina, Lamberto II, transladou a preciosa relíquia para a Igreja de Molemberg, dedicada a São Miguel, a primeira paróquia de Bruxelas, mudando o seu nome para o de Santa Gúdula. O Conde erigiu ali uma colegiada. Nos Arquivos Gerais do Reino de Bruxelas encontramos um relato da história desta fundação. A partir de então, Bruxelas tomou-a como sua padroeira.
     Infelizmente, em 1579 as relíquias da Santa foram dispersas pelas mãos dos calvinistas.
     O Martirológio Romano celebra a festa de Santa Gúdula em 8 de janeiro; a arquidiocese de Malinas e a diocese de Gent a celebram no dia 19 do mesmo mês.
Catedral de Bruxelas
     Essa magnífica igreja combina vários estilos, desde o Romano até o Gótico, sendo esse último o estilo predominante. O início da sua construção data de 1226, mas sua origem é ainda anterior a isso, provavelmente do século VIII ou IX, quando uma capela dedicada a São Miguel havia sido construída no local.
    Dois séculos depois, o então duque de Brabante, Lamberto II mandou construir uma igreja romanesca no local. Ainda no século XI, as relíquias de Santa Gúdula, a padroeira de Bruxelas, foram transferidas para lá, e foi a partir de então que se tornou conhecida como a igreja de São Miguel e de Santa Gúdula, os dois santos padroeiros da cidade. É por isso que se vê estátuas de São Miguel no topo de vários prédios importantes da cidade.
Capela de Santa Gúdula
em Moorsel
    
Foi Henrique I, outro duque de Brabante quem ordenou o início da construção da igreja atual que durou por nada menos que 300 anos! A igreja finalmente ficou pronta em 1519, próximo ao reinado do imperador Carlos V. Essas duas figuras importantes historicamente para Bruxelas foram as mesmas que moraram no palácio Coudenberg. O estilo gótico apareceu nessa mesma época na região e por isso ele está tão realçado na catedral.

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