quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “Livres em Cristo”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Cristo nos libertou.
 
O tema da liberdade necessita de muita reflexão. Paulo ensina: “Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão” (Gl 5,1). Paulo não se refere à escravidão social e afirma: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28). O ser em Cristo é a condição de igualdade de todos. “Aquele que era escravo quando foi chamado no Senhor, é um liberto no Senhor” (1Cor 7,22). Mas a escravidão que nos interessa não é a física, mas as escravidões íntimas, espirituais que acontecem num contexto que necessita ser estudada. É bom lembrar que esse assunto não se restringe à Igreja Católica, mas às Igrejas cristãs, às religiões tradicionais e aos cultos provenientes de outras raizes. Acontece que se criam certos modelos religiosos que vão à prática através de tradições e se tornam leis morais e oprimem as pessoas. É o caso das superstições; Na Igreja Católica, a Quaresma foi um campo fértil para essas invenções que acabavam se transformando em pecado: Na Sexta-Feira Santa, bater martelo era crucificar Jesus. Para outros, cortar cabelo é um pecado. No caso das novenas: Lembramos a rica piedade ao Sagrado Coração, com as comunhões da primeira sexta-feira. Tem que ser nove. Se acontecia de perder uma primeira sexta-feira (mesmo por doença), devia recomeçar (Onde existe esta lei?). As promessas: Faz promessa e não dá conta de cumprir. Aí o santo se vinga, pensam. Até na vida moral podemos encontrar idéias que prejudicaram. Que dificuldade para comungar. Pos-se tanta exigência que acabou afastando o povo da comunhão. E não são exigências evangélicas. E assim por diante. Jesus viveu essa condição no judaísmo. Tantas leis (e não temos menos) que prejudicavam o povo. Vejamos como Jesus trata as tradições judaicas: “Por causa da vossa tradição anulastes a Palavra de Deus” (Mt 15,6). “Sabeis anular o mandamento de Deus para observar vossa tradição” (Mc 7,9). Jesus apresenta o modo de superar a inutilidade de certas atitudes: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo, 8,32). 
Medo da liberdade 
Gostamos de ser livres e não ter ninguém que nos controle. Por outro lado aceitamos muitas imposições supersticiosas. Ao agirmos assim, estamos buscando seguranças para nossa vida. Estamos de acordo com elas e nos sentimos salvos, pois cumprimos o ritual. Vejamos quantas proibições recebemos. Temos necessidade de leis e orientações, mas o que seguimos nem sempre são os princípios do Evangelho. No início da Igreja, não havia estas imposições. Lemos no texto de Atos, quando se dá a orientação para os cristãos vindos do paganismo e os vindos do judaísmo. As tradições do judaísmo não passaram aos cristãos vindos do paganismo (At 15,1-35). 
Amor, chave da liberdade 
O santo, a santa são pessoas livres, pois a chave de sua orientação é o amor de Deus. O amor liberta do temor. A liberdade interior é capaz de orientar nosso dia-a-dia entre os muitos entraves à liberdade. Não confundamos liberdade com libertinagem; “Fostes chamados à liberdade. Que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros” (Gl .5,13). Diz Santo Agostinho: “Ama e faze o que queres”. Quem se dirige pelo amor de Deus se liberta e liberta os outros. É preciso uma evangelização libertadora. Um pouco mais de evangelho liberta.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM FEVEREIRO DE 2012

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