O Martirológio Romano afirma: “Em Roma, Santa Asélia, Virgem, que segundo as palavras de São Jerônimo, sendo abençoada desde o ventre de sua mãe, viveu até a velhice em jejum e oração”.
Este nome incomum tem um significado ainda mais inesperado: em latim, Asellia significava "burrinho, jumentinho". Não era um nome ofensivo, nem ridículo: ele tinha mesmo um tom carinhoso, talvez como uma homenagem à paciência e a docilidade do burro. Lembremo-nos que este animal aparece em vários momentos no Novo Testamento, especialmente quando Nosso Senhor Jesus Cristo entrou triunfalmente em Jerusalém montando um deles.
Asélia não era uma celebridade, e ela teria desaparecido da memória do mundo se o grande São Jerônimo, o tradutor da Bíblia para o latim e Doutor da Igreja, não tivesse escrito sobre ela em suas cartas.
Vivendo em Roma nos anos de sua maturidade, São Jerônimo reunira em torno dele um grupo de mulheres dedicadas e estudiosas, cujos nomes ainda são encontrados no Calendário: Santas Paula Romana, Marcela, Lea, Eustaquia e, finalmente, Asélia.
Estas primeiras sementes de árvores que dariam frutos em abundância nos séculos seguintes, devem ser veneradas por nós com entusiasmo, pois foram modelos para as gerações que, de auge em auge, chegaram à culminâncias sublimes. Infelizmente, quando, no dizer de Paulo VI, “a fumaça de satanás penetrou no seio da Igreja”, um feminismo malsão foi destruindo paulatinamente o que elas construíram com tanto amor e dedicação...
A história de Asélia, narrada em uma carta do Santo, é esta: filha de uma família distinta, com apenas 10 anos decidiu dedicar-se inteiramente ao Senhor. Ela vendeu suas joias e suas roupas festivas, vestiu uma túnica escura despojada e começou a viver em sua casa como uma sepultada viva.
A princípio, seus pais não permitiram que ela usasse as roupas normalmente usadas pelos ascetas, mas ela secretamente vendeu um colar de ouro, pagou pela produção da roupa e, aos 12 anos, surpreendeu seus pais ao aparecer para eles “neste traje de consagração”.
"Trancada em um quarto pequeno - São Jerônimo escreve - ela estava à vontade como no céu. Uma única camada de terra era o lugar de sua oração e de seu descanso; o jejum era para ela divertimento, a abstinência, uma refeição... Observou bem a clausura para jamais colocar um pé fora dela, nem nunca falar com um homem...".
Segundo o historiador Claude Fieury, Aselia nunca falou com nenhum homem. Como afirmou a hagiógrafa Agnes Dunbar: “Ela trabalhava com as mãos e cantava salmos”. Apesar de seu estilo de vida austero, isso não afetou sua saúde. Também visitava os túmulos dos mártires, mas na obscuridade, para nunca ser reconhecida. A vida difícil não enfraqueceu o seu corpo: pelo contrário, aos 50 anos, de acordo com o testemunho de São Jerônimo "ainda estava com boa saúde e ainda mais saudável de espírito".
"Nada poderia ser mais alegre do que a sua gravidade - escreve o grande Doutor - nada mais grave do que a sua alegria; nada é mais grave do que seu riso; nada mais atraente do que a sua tristeza. Sua palavra é silenciosa e seu silêncio fala".
Quando o grande erudito teve que sair de Roma, forçado pelas muitas hostilidades e suspeitas malévolas, enviou uma carta diretamente para Asélia, em seu caminho para a Palestina. Mas nesta carta, como era natural, não falava dela, nem tentava sua modéstia com elogios. Abria para ela seu coração amargurado, fazendo para ela, agora morta para o mundo, uma defesa apaixonada de sua conduta, contra as calúnias e as críticas injustas.
A admiração e o afeto pela cristã Asélia transpareciam, entretanto, na despedida, quando São Jerônimo escrevia: "Lembre-se de mim, ó ilustre modelo de modéstia e virgindade, e com suas orações aplacai as vagas do mar".
Asélia, que na época tinha mais de cinquenta anos, viveu muito tempo ainda em sua clausura e em sua penitência. Vinte anos depois ainda estava viva e bela, de uma beleza espiritual. Assim pelo menos a viu um bispo e historiador da época, Paládio, que visitou Roma em 405, e conheceu Aselia, o qual escreveu: "Vi em Roma a bela Asélia, esta virgem envelhecida no mosteiro. Era uma mulher dulcíssima, que dirigia várias comunidades”.
Santa Aselia morreu em c. 406 de causas naturais.
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