Jerônima Maria Inês nasceu no dia 1º de Setembro de 1592 em Barcelona, a última de quatro filhos de Cristóvão e Catarina Astorch. Não chegou a conhecer a sua mãe que morreu dez meses após o seu nascimento. Confiada a uma senhora que a amamentasse, perde também o pai aos cinco anos. Sua irmã Isabela seguia o grupo de jovens, atraída pela espiritualidade de Ângela Serafina Prat. Também a pequena Jerônima ligou-se rapidamente à vida das capuchinhas. E mais ainda quando, com sete anos, por ter comido algumas castanhas, fora considerada morta, se não fosse a intervenção da madre Serafina a qual, numa oração de êxtase a fez retornar a vida, o que deu uma volta na sua vida. A mesma Jerônima escreveu: a minha infância terminou aos sete anos; em seguida tornei-me mulher de juízo, responsável, e por isso, paciente, medida, silenciosa e veraz.
Aos nove anos, os seus tutores quiseram que ela estudasse. Aprendeu a ler e a escrever, e os trabalhos femininos. Surgiu nela uma verdadeira paixão por livros, especialmente os escritos em latim, o que enchia de admiração o seu professor. Por isso se fazia, a respeito dela, brilhantes prognósticos para o seu futuro. Mas ela, desejosa de seguir o exemplo da sua irmã, pediu para entrar no mosteiro. Após certa perplexidade dos parentes, considerada a sua maturidade superior à sua idade de 11 anos, pôde realizar o seu desejo. No dia 10 de setembro de 1603 atravessou a porta da clausura. Como religiosa recebeu o nome de Maria Ângela. Teve como diretor espiritual um confessor muito bem preparado, que vivera, durante dez anos como eremita, o Padre Martin Garcia.
Ela procurava imitar a fundadora Ângela Serafina Prat e a sua irmã Isabela. A madre mestra era muito exigente e tratava-a com métodos espartanos. O amor da jovem pelos livros latinos fez com que a sua mestra tivesse receio pela humildade da candidata, que teve de resignar-se a renunciá-los. Mas o latim desabrochava em seus lábios com o conhecimento das Escrituras, dos santos padres e com a Liturgia das Horas que levou teólogos e o bispo a pensar que se tratasse de ciência infusa. Como aspirante passou cinco anos da sua vida, a menina da casa, mas em regime de noviciado. No dia 17 de Setembro de 1608 iniciou realmente o noviciado sob a direção discreta da sua irmã como mestra. Não faltaram tentações e aflições. Pela sua cultura superior teve de desenvolver uma espécie de encargo de "professorinha" das companheiras de noviciado. No dia 08 de Setembro de 1609 fez a profissão nas mãos de Catarina de Lara, que sucedera à fundadora que havia morrido no ano anterior. Enquanto isso, a nova congregação capuchinha ia-se expandindo rapidamente. A madre Ângela Maria com outras cinco irmãs foram enviadas a fundar um convento em Saragoça, destinado a tornar-se um centro de irradiação das clarissas capuchinhas na Espanha. No dia 19 de Maio de 1614 aquele grupinho de religiosas partiu para Saragoça. A Irmã Maria Ângela tinha o encargo de mestra das noviças e da secretaria; mas custou-lhe muito o separar-se da irmã que morreria apenas dois anos depois, aos 36 anos de idade. A viagem foi um desastre: carro e cavalos tombaram. No novo convento de Nossa Senhora dos Anjos, Maria Ângela torna-se fundadora de uma geração de capuchinhas.
Em 1624 torna-se vigária da comunidade, e três anos mais tarde, abadessa. Mas permaneceu sempre a responsável da liturgia coral, da dignidade da recitação da Liturgia das Horas. No início de seu ofício de abadessa conseguiu do papa Urbano VIII a aprovação das constituições das capuchinhas espanholas. Consciente da importância do conhecimento da regra para a santificação de qualquer instituto religioso, insistia para que as irmãs a estudassem continuamente, e no mosteiro fazia lê-las publicamente no refeitório, uma vez ao mês, para que também as analfabetas aprendessem de cor. Era uma madre que fazia de tudo: cozinha, lavanderia, enfermaria, horta. Quando alguém lhe perguntava o porquê, respondia: por vocês eu daria até a vida. Dividia com os pobres as esmolas do convento e socorria com generosidade os necessitados com o pouco que dispunha. Quando Saragoça foi invadida por fugitivos miseráveis, provenientes da Catalunha em revolta, distribuiu a algumas pobres mendigas os vestidos que as noviças tinham trazido quando vieram para o convento.
A sua espiritualidade tornou-se ainda mais profunda, toda bíblica e litúrgica. Todos os mistérios de Cristo e de Maria, os anjos e os santos encontravam ressonância no seu coração, com visões e iluminações superiores. Aos santos dirigia-se com grande familiaridade. Tinha suas predileções: S. João evangelista, modelo de amor; S. Francisco de Assis, na perfeita fidelidade à regra; São Bento pela sua pureza; Santa Clara em todas as dimensões. A Liturgia das Horas inspirava-a e nela enquadrava a sua vida interior: Acontece-me freqüentemente - escrevia em 1642 – que, ao cantar os salmos, o Senhor me comunica, por efeitos interiores, aquilo que estou cantando, de forma que posso dizer que realmente canto os sentimentos internos do meu espírito e não a letra dos salmos. Parecia-me que o Senhor tivesse se tornado meu mestre e avalista de quanto cantava, tornando-me capaz das infinitas verdades da Escritura.
No mosteiro de Saragoça permaneceu ao longo de trinta anos. A comunidade crescera em número e qualidade e o espaço já se tornara insuficiente. O desejo de Ângela de propagar a Ordem aconteceu após um crime sacrílego realizado pelas forças de Luiz XIV que profanaram algumas igrejas em Barcelona. Um sacerdote diocesano, Aleixo de Boxadós, pensou em erguer um convento de clarissas com o título reparador Exaltação do Santíssimo Sacramento e entrou em contacto com as capuchinhas. No dia 2 de Junho de 1645 cinco irmãs guiadas pela Madre Ângela com o referido padre dirigiram-se para Múrcia. Também desta vez a viagem foi desastrada. O cocheiro adormeceu e caiu sob as rodas da carroça. Só a fé das irmãs conseguiram reanimá-lo e prosseguiram. Uma solene procissão inaugurou o novo mosteiro em Múrcia dedicado ao Santíssimo Sacramento, bem ao gosto da madre Ângela, pois ela recapitulava toda a cristologia na eucaristia. E conseguiu introduzir a prática da comunhão diária entre as religiosas.
O mosteiro tornou-se um centro de espiritualidade. Durante a peste de 1648 que se alastrou pela região, as religiosas foram poupadas, bem como das freqüentes inundações do Rio Segura no ano de 1651, se bem que o mosteiro tenha sido muito danificado. As religiosas tiveram de se retirar para uma residência de férias dos jesuítas, nas montanhas. Nesta residência permaneceram por treze meses até que o mosteiro fosse restaurado. Regressaram no dia 22 de Setembro de 1652, mas um ano depois tiveram de voltar à casa da montanha devido a uma nova inundação. Na ocasião uma calunia muito séria atinge a madre Ângela, mas logo a sua inocência foi comprovada.
Voltando ao mosteiro, ela continuou seu oficio de abadessa até 1661. Entrando na casa dos setenta anos deveria retirar-se sozinha. Passou a dedicar mais tempo à contemplação. Em meados de Novembro de 1665 teve crises de epilepsia, recuperando-se em seguida. Mas era sinal do fim. Sentia-se na cruz. Cantava alguma vez o Pange Lingua na expectativa do seu esposo de sangue. Recebeu a visita do esposo no dia 02 de Dezembro de 1665, com 75 anos de idade. O seu corpo conserva-se no novo mosteiro de Múrcia.
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