Maria Scrilli nasceu no dia 15 de maio de 1825 em Montevarchi, cidade do Grão Ducado de Toscana. Era a segunda menina que nascia no lar dos Scrilli-Checcucci; esperava-se que fosse um varão e a desilusão foi grande. “Naquela mesma manhã de domingo e muito cedo… a poucas horas de nascida, fui levada à pia batismal de forma privada, com grande desgosto de meus pais por terem tido uma segunda filha”, conta ela mesma. Era menosprezada até pela própria mãe... O que poderia ter sido um verdadeiro trauma para a criança serviu para ir modelando seu caráter sem nenhuma animosidade; ela soube compreender a tempo que a inveja corrói o coração e não o vazio pela ausência de amor. Maria Teresa vai dedicar toda a sua vida sem amargura, sem um mínimo de ressentimento para com sua própria mãe. Ela encontrará a solução para seu problema de afetividade junto da Virgem Maria, que será sua Mãe verdadeira; uma terníssima devoção mariana modelará seu coração feito para entregar-se aos que são vítimas do desamor. Aos 21 anos ingressou no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, em Florença, mas não prospera em seu propósito. Da experiência carmelitana adquire base para toda sua espiritualidade futura. Do Carmelo de Florença sai com uma decisão: será contemplativa, porém “contemplativa em ação”.
Seu amor ao sofrimento e o desejo de reparar as ofensas que se faziam ao Senhor, eram sustentados pela contínua meditação sobre a Paixão de Cristo, e em alguns apontamentos pessoais tomados durante um curso de exercícios espirituais, anotou entre os seus propósitos: "1. considerar-se sobre a terra como peregrino; 2. não basta, é preciso ser crucificado; 3. nem isto é suficiente. É necessário morrer; 4. mais ainda torna-se necessário ser sepultado" (Apontamentos pessoais, p. 173).
Desde 1849 aquela região toscana vivia um virulento anticlericalismo originado pelo liberalismo mais radical, então em moda. A sociedade jazia sob um grande nível de analfabetismo e de miséria. Maria Scrilli consciente que a falta de cultura e a ignorância degrada especialmente a mulher, começou em sua própria casa de Montevarchi a ensinar um grupo de meninas que encontra pela rua. “O número de minhas pequenas alunas chegou a doze; as mantinha gratuitamente, porém elas correspondiam com tantas demonstrações de agradecimento, que não tinha outro remédio senão mantê-las”, escreve Maria.
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A Beata jovem |
Logo se juntaram a ela outras companheiras. “Éramos Edvige Sacconi, Ersilia Betti, Teresa del Bigio e eu… Escrevi algumas normas que nos regulavam, porém normalmente o fazia verbalmente”.
Para responder às ansiedades do seu tempo, Madre Maria Teresa Scrilli quis dar às jovens, em especial às mais carentes, uma preparação humana completa do ponto de vista cultural, escolar e religioso, que correspondesse às necessidades da sua vida específica de mulher, preparando-as para um trabalho digno. Às suas filhas pediu para fazerem, além dos três votos habituais de castidade, obediência e pobreza, um quarto voto, ou seja o de "apresentar-se para a utilidade do próximo por meio da instrução moral cristã e civil a dar ao sexo feminino" (Regras e Constituições, 1854-55, 1).
Em 1854 nasceu o Pio Instituto das Irmãzinhas Pobres do Coração de Maria, aprovado pelo Bispo de Fiésole. Em agosto de 1857, Pio IX esteve no mosteiro de Santa Maria Madalena de Pazzi e as abençoou: “... e pôs sua mão sobre minha cabeça, enquanto eu me inclinava e lhe beijava os pés”, escreve, interpretando aquele gesto como um sinal de aprovação.
Em junho de 1859 as tropas piemontesas entraram em Montevarchi e ocuparam o convento das religiosas; por um decreto de 30 de novembro o Instituto foi suprimido: toda a obra da Beata veio abaixo e as monjas secularizadas voltaram para casa.
Madre Maria Teresa se refugiou em Florença de onde trata de reconstruir seu instituto, até que em 1878 o Arcebispo Eugenio Cecconi lhes concede recompor a comunidade, ficando restabelecido em 1892.
“O Instituto, sem dúvida, segundo os desígnios de Deus, devia fundar-se com lagrimas, com dor e com os combates da fundadora”. Algumas Irmãs abandonaram a casa, outras faleceram e nenhuma outra ingressava. A melhor colaboradora, Clementina Mosca, se transfere para as dominicanas de clausura. Todo o projeto de Madre Maria Scrilli desmorona. Porém seu ânimo não decai. Sabe muito bem que se aquilo é obra de Deus e Maria sua Mãe o quer, a obra seguirá adiante; ela tem consciência de que ela - como o grão de trigo - deve morrer e desaparecer para que uma nova vida surja.
E assim aconteceu. Madre Maria Teresa se ofereceu como vítima por aquela obra da Igreja. Caiu gravemente enferma e morreu no maior dos desamparos. Era o dia 14 de novembro de 1889. Após a morte de Madre Maria Teresa se pressagia a total extinção do Instituto, pois o panorama era desolador: uma Irmã anciã, outra doente, praticamente paralítica, e uma noviça.
Eis que acontece o milagre: inesperadamente Clementina Mosca (1862-1934) retorna: «o anjo enviado por Deus» adota o nome de Maria de Jesus e recolhe o precioso legado de Madre Maria Teresa.
Sob a liderança desta segunda fundadora o Instituto cresceu em membros e multiplicou as fundações, ampliando sua ação apostólica: ensino, cuidado dos doentes e outros trabalhos de caridade. Elaborou as Constituições e conseguiu que sua congregação fosse reconhecida de direito diocesano pelo Cardeal Mistrangelo, em 1929. No mesmo ano o Prior Geral Elias Magennis as afiliou a Ordem já com o nome definitivo de Instituto de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Nas primeiras Regras e Constituições do seu Instituto Madre Maria Teresa recomendava às suas companheiras: "Estamos nesta terra para cumprir a vontade de Deus e conduzir almas a Ele" (Regras e Constituições, 1854-1855, 7). Em vários trechos da sua Autobiografia este desejo é ainda mais claro: "Comparava-me a mim mesma, a Deus doada, ao ouro na mão do ourives, e à cera na mão do seu operário, disposta a tomar qualquer forma que ele quisesse" (Autobiografia, 45).
A Beata Maria Teresa Scrilli perseverou até à morte na fidelidade ao seu Senhor. "Amo-te, meu Deus, nos teus dons. Amo-te na minha nulidade, porque também nela compreendo a tua infinita sabedoria: amo-te nas vicissitudes múltiplas, diversas e extraordinárias, com as quais Tu acompanhaste a minha vida. Amo-te em tudo, na dificuldade e na paz, pois não procuro, nem jamais procurei as tuas consolações, mas Tu, Deus das consolações" (Autobiografia, 62).
Maria Teresa Scrilli foi beatificada em 8 de outubro de 2006.
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