quinta-feira, 8 de junho de 2023

QUITÉRIA DE BRAGA Virgem, Mártir, Santa séc. II

O seu nascimento, a par das suas oito irmãs gémeas, em 120, na cidade de Bracara Augusta, trouxe-lhe o repúdio maternal no assombro do considerado acto de terrifico macabro que a mente humana por não saber explicar assim julgou. Cálcia Lúcia, a mulher do governador romano Lúcio Caío Atílio Severo, que administrava o convento romano da Lusitânia correspondente à actual zona norte de Portugal e da Galiza, estando de esperanças entrou em trabalho de parto. Surpreendendo a parteira e as assistentes do parto deu à luz, não uma ou duas crianças, como seria comum, mas nove, sendo todas elas perfeitas e do sexo feminino. Número que não lhe inspirou bons augúrios neste fenómeno que natureza considerou no seu ventre, e, que a seu ver, era aberrante. Cheia de temor e superstição, receando ter colocado no mundo alguma monstruosidade, pelas consequências invariáveis que esta gesta lhe pudesse vir causar, sobretudo pelo rigor do seu marido, incube a parteira que lhe assistiu de com a maior descrição matar as crianças, afogando-as num rio não muito distante. A parteira, de nome Cilía, mulher boa e cristã, com um olhar de maior simplicidade não vê nas meninas mais do que bebés desprotegidos. Comiserada e incapaz de prosseguir com a obrigação, entrega secretamente as meninas ao cuidado de Ovídio, o lendário Bispo de Braga. As nove meninas enjeitadas, apressadamente baptizadas com a graça e nomes cristãos, passaram a ficar sob a protecção deste santo homem, que as entregando ao cuidado de diversas famílias cristãs da sua confiança, para melhor as educarem e guardarem, as vigiou sempre de perto com grande paternidade e o melhor zelo.
Com a idade de 10 anos, as meninas, agora unidas e inspiradas na fé cristã, decidem viver num espaço patrocinado por Ovídio, onde levariam um vida dedicada à causa cristã. Lúcio Caío Atílio Severo, desconhecedor de todo o assunto, encontrando-se na altura do parto acompanhando o Imperador Romano, Adriano, em viagem pelas Espanhas, só anos mais tarde viria a tomar conhecimento do ocorrido quando por uma invectiva imperial contra os cristãos as meninas, agora com 15 anos, vieram à sua presença como prisioneiras. Conhecedoras da sua origem, colocando-se à mercê do destino, contam ao governador a história do seu malogrado nascimento. Perplexo, e uma vez certo da veracidade da narração, acolhe-as, dignificando-as com o seu nome e as regalias de nobres da sua condição. Porém, um único requisito para a salvação oferecida: renunciar à vida e à causa cristã, prestando doravante tributo aos Deuses romanos. A Quitéria, Severo, propõe-lhe um imediato casamento com um tal de Germano, um nobre e cortesão da sua casa. Quitéria, tal como as irmãs, pedem tempo para ponderarem as suas decisões. Uma vez sozinhas difundem-se, fugindo por montes e vales. Quando Severo se apercebe do engodo, ordena ás suas hostes uma perseguição em demanda das meninas. Quitéria, sem a sorte das irmãs, é capturada. De novo na presença do pai, este ainda com largo benefício, pede-lhe que pense melhor, sobretudo nas promessas de casamento, aliciando-a com o garboso e rico noivo. Ganhando tempo, foge novamente, desta em conjunto com 38 prisioneiras da invectiva imperial. Refugiadas no monte Pombeiro, na zona de Felgueiras, este indiscreto grupo de cristãs foragidas em pouco tempo vêm-se novamente capturadas e prisioneiras no seu próprio refúgio. No monte, as jovens impressionam os sentinelas pelas suas convicções maiores levando alguns à conversão. Por fim, e uma vez mais interrogada, agora por emissário de Severo, Quitéria, avança dizendo, ser noiva mística de Jesus Cristo, e por essa ligação não pode aceitar um outro compromisso nupcial. Então, Severo, inclemente por esta recusa, em sinal do seu poder, dita a sua morte e para se certificar da execução ordena que seja o próprio Germano a perpetra-la. Sem que conste na sua hagiografia que tivesse sido torturada, mais do que a pressão psicológica já narrada, em oposição aos procedimentos físicos que antecedem o martírio de tantas jovens ou virgens de convicção cristã inabalável, consta apenas que não ofereceu qualquer resistência. Subindo ao monte de espada erguida, Germano, acompanhado por um bando de carrascos acercam as jovens desferindo-as de morte. Uma vez decepada, numa sentença que acusa a sua nobreza, e, jorrada pela cor do martírio, Quitéria, levantou-se perante o pasmo de todos. Pegando na sua cabeça, numa pantomina espectacular de maravilhoso macabro, atenta pelos olhares incrédulos e alvos de horror, encenou uma caminhada até à vila mais próxima enquanto os carrascos, perplexos, sentenciados pela injustiça cometida, caíam por terra com a vista turva e cheia de escuridão. Chegada ás portas do tal lugar, Quitéria, desfalecendo sem vida ou qualquer outro impulso, foi acolhida e sepultada com grande dignidade e sentimento de piedade.
Segundo consta do hagiológio português e na história d Braga, Portugal, Quitéria foi uma das nove filhas nascidas de parto único de Cálsia Lúcia, mulher de Lúcio Caio Otílio, governador de Portugal e Galiza sob o Império Romano, no século II da nossa era. Quitéria nasceu no ano de 120, em Bracara Augusta, na região do Minho, por ocasião em que seu pai acompanhava o imperador romano Adriano em viagem pela Península Ibérica.
     Naquela época predominavam as superstições, a ponto de represália do marido, homem de procedimento muito rígido, levar Cálsia Lúcia a instruir a parteira de nome Cília que matasse as nove crianças. Mas, movida pelos sentimentos cristãos de piedade e amor ao próximo, Cília desobedeceu à patroa entregando as meninas ao arcebispo de Braga, Santo Ovídio, que as batizou e encomendou o seu cuidado e educação a diversas famílias cristãs, tudo a suas expensas.
     Anos mais tarde, tomando conhecimento da existência das suas filhas e estando comprometido com um cortesão de nome Germano, Otílio desejou que a filha Quitéria com ele se casasse. Ante a recusa da filha, Otílio condenou-a à morte, cuja execução foi perpetrada pelo próprio Germano no dia 22 de maio do ano de 135. Quitéria estava com 15 anos de idade.
     Conta-se que os soldados que a prenderam ficaram cegos. Diz ainda a tradição que após ter a cabeça decepada, Quitéria a tomou em suas mãos e caminhou até a cidade vizinha onde caiu e foi sepultada
     De Quitéria diz-se que tinha a graça de estar sempre perante a presença física do seu Anjo da Guarda, com quem conversava frequentemente e que a aconselhava em cada momento da sua vida.
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     A vida de Santa Quitéria se encontra envolvida em aspectos lendários, ainda pouco estudados.
     O martírio é referido pela primeira vez no século XII, estando relatado nos Flos Sanctorum de Alonso de Villegas e de Diogo do Rosário e inscrito no Martirológio Romano (22 de maio).
     Os primeiros milagres obtidos por sua intercessão datam do século VIII, altura em que começou a ser venerada como mártir. O culto de Santa Quitéria, promovido particularmente pelos jesuítas, encontra-se bem alicerçado na devoção popular que a invoca como advogada contra a raiva.
     A arquidiocese de Braga celebra a sua memória no dia 8 de junho. Felgueiras não só lhe erigiu um santuário no local onde supostamente foi sepultada, como tem Santa Quitéria como padroeira.
     A iconografia desta nobre donzela romana faz alusão a certos episódios da sua vida e revela o instrumento material do martírio, aspectos que nos propomos analisar bem como fazer referência ao culto e às dificuldades causadas pelas diversas lendas sobre a sua vida.
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     Segundo uma tradição espanhola, o corpo de Santa Quitéria foi recolhido e sepultado pelos cristãos perto das ruínas de um antigo mosteiro, São Pedro da Mata, da época visigótica, que fora mandado edificar por São Eugênio, bispo de Toledo, no século V. O rei visigodo Wamba, mandou reconstruir o mosteiro para render culto a Santa Quitéria.
     Segundo esta versão espanhola da vida de Santa Quitéria, as relíquias da santa foram transladadas para o sul da França no ano de 711, quando da invasão dos árabes, por se temer que elas fossem profanadas. As relíquias foram levadas para a cidade de Aire-sur-Adour, a 100 k da fronteira espanhola. As relíquias foram colocadas em um sarcófago e ali permaneceram até o século XI, sendo seu túmulo confiado aos monges beneditinos da Abadia de Chaise-Dieu. Estes monges edificaram um mosteiro e uma bela igreja no local onde existira a velha igreja dedicada a Santa Quitéria. Em sua cripta românica há um belo sarcófago de mármore onde se guardava as relíquias da santa.

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