quinta-feira, 11 de maio de 2023

ANTONIO GALVÃO DE FRANÇA franciscain, saint 1739-1822

Frei Galvão foi um franciscano da Ordem de Alcântara que viveu na pobreza e na obediência. Um irmão simples. Simples em tudo: na sua pessoa, na sua obra, nos seus escritos. O que ele fez foi assim descrito: “Nada impôs, nada ostentou, nada fez para impressionar, nada exigiu”. A força de suas virtudes e o testemunho de sua vida atraíam as pessoas e iluminavam o ambiente em que vivia. A ponto de tornar sua presença preciosa e insubstituível. Frei Galvão nasceu em 1739 e morreu em São Paulo em 23 de dezembro de 1822. Nessa época, importantes acontecimentos históricos e religiosos ocorreram no Brasil e em São Paulo… A sua vida abrange um período que vai da era colonial à transformação do país em império e aos primeiros meses da independência. E é uma história marcada pela presença e pela ação dos missionários da Igreja Católica, inclusive dos franciscanos, que, durante o governo do Marquês de Pombal, seguidor da filosofia das Luzes, sofreram fortes restrições. São Paulo era então uma capitania, depois uma província, dependente do Rio de Janeiro. Foi o ponto de partida dos “bandeirantes-descobridores”, garimpeiros de ouro e pedras preciosas, e muitas vezes esteve em guerra para defender seu território contra os espanhóis ou em busca de nativos ou negros importados da África para trabalhar como escravos. É neste difícil contexto que surge a influente figura deste homem de Deus "recomendável pelas suas virtudes", e no ponto mais alto da sua caridade, virtudes que o levaram a partilhar as angústias e as esperanças de seu povo ainda sujeito à escravidão e vivendo em estado de profunda degradação humana e social. Não há dúvida de que foi por sua caridade sem limites que o povo de São Paulo quis mantê-lo em seu meio por toda a vida. Não poderiam viver sem ele, como atesta a carta da Câmara do Senado de São Paulo em que está escrito: “Foi o socorro dos pobres”, “a consolação dos aflitos...”. Depois de estudar com os jesuítas em Belém e entrar para os franciscanos em 1760, passou o resto da vida em São Paulo. A sua personalidade e a qualidade da sua formação foram imediatamente notadas pelos seus superiores que lhe confiaram muitas tarefas de responsabilidade, bem como pelas pessoas cultas e pelas pessoas que «o ouviam com muita confiança e vinham ter com ele de regiões longínquas, quando eles precisavam dele". Procuraram-no pela sua fama de homem de paz, «para pôr a paz nas discórdias, nas famílias e também para resolver os assuntos temporais», dizem-nos os autos. Assumiu, a partir de 1768, a delicada função de porteiro, pregador e confessor do convento de São Francisco, tarefa que a partir de então continuou sendo sua atividade principal. De facto, até ao fim exerceu o ministério da confissão tanto no convento franciscano como no Recolhimento Nossa Senhora da Conceição da Luz, convento de freiras que fundou comolaus perennis em 1774, no coração de São Paulo e que permanece até hoje como sua obra tangível. Gastou todas as suas energias na sua construção e ali morreu, aos oitenta e quatro anos, num miserável colchão, colocado no chão, atrás do sacrário da igreja. Uma personalidade muito precisa, límpida, reta, corajosa, de inteligência clara, que lhe permite estar sempre atento às necessidades daqueles que lhe são confiados e que estão prontos para buscar a ajuda mais eficaz; uma pessoa que revela seu temperamento forte quando, por exemplo, se trata de denunciar o que é contrário à justiça ou quando defende os fracos e os que sofrem injustiças, como demonstra, entre outras coisas, sua atitude em 1780, na ocasião do conflito com o capitão-governador de São Paulo, que culmina na renúncia do governador. Em 1780, o capitão Martim Lopes de Saldanha, conhecido por seu despotismo, condenou à morte um soldado que havia sido maltratado por seu filho e que, em resposta, o feriu levemente. Uma sentença injusta que provoca a reação dos paulistanos. Entre os defensores do soldado Caetaninho está frei Galvão, que fica do lado desse militar e condena o abuso de poder do governador. No entanto, apesar dos protestos, o soldado é executado. E, não contente com esta execução, o capitão condena Frei Galvão ao exílio. A ordem é definitiva: o irmão deve deixar São Paulo em vinte e quatro horas. Mas a notícia do exílio de Frei Galvão se espalhou imediatamente pela cidade e a população voltou a se mobilizar plenamente. Em nenhum momento a casa do governador é cercada por uma multidão de homens armados. O capitão, diante da rebelião do povo, não tem escolha a não ser rescindir a pena de exílio. E assim que a ordem é revogada, as pessoas vão buscar frei Galvão e o trazem de volta ao convento. “O querido Santo Padre foi encontrado. A cidade pode agora ficar tranquila porque recuperou o seu grande tesouro”. Isto é o que é relatado nos escritos. Sim, e é preciso ainda ressaltar que essa fama de santidade é a principal característica de Frei Galvão. Durante sua vida, no momento de sua morte e post mortem. Até hoje. Os testemunhos falam de uma devoção viva, sem perturbação ou interrupção. Frei Galvão sempre foi objeto de grande veneração em São Paulo e em todo o Brasil, como também demonstra a difusão popular das “pílulas de frei Galvão”. São os “papelinhos”, pequenos pedaços de papel enrolados como papeis de enrolar nos quais está escrita em latim uma invocação à Virgem Maria. É uma forma de devoção que nasceu de um episódio da vida de Frei Galvão. Desde então, os milhares de fiéis que vão rezar e pedir graças ao seu túmulo levam e ingerem estes comprimidos feitos hoje pelas freiras do “Mosteiro da Luz”. Frei Galvão, é verdade, fez o contrário do que fazem os “gurus”. Ontem e hoje. Tornou-se extraordinário na sua vida ordinária de sacerdote, como podia ser então naquelas circunstâncias e como pode ser hoje, sem artifícios nem promessas vãs, sem “efeitos especiais”. Frei Galvão é uma dessas almas que se tornaram grandes diante de Deus e diante dos homens, na humildade e no perfeito cumprimento dos deveres cristãos, sem perturbar as pessoas com fatos aparentemente extraordinários; e conseguiu entrar no coração das pessoas a ponto de aí permanecer através dos séculos. A importância desta causa, também neste momento da vida da Igreja brasileira, vem do fato de mostrar e comprovar o valor de uma vida sacerdotal vivida de forma evangélica e passada de forma apostólica a serviço de seus irmãos . , especialmente dos mais pobres, dos mais necessitados, para a glória de Deus. Brasiliensis Ecclesiae decori praeclarissimo . No frei Galvão, o povo, de onde provém o irmão e ao qual pertence, encontrou um modelo, um incentivo ao bem, à caridade, à oração. Esta canonização é um ato histórico. Uma data histórica. Antonio de Sant'Anna Galvão é o primeiro santo nascido no Brasil. É um brasileiro cem por cento elevado à honra dos altares da Igreja universal. Um homem de paz e caridade. E então, não esqueçamos, o Brasil também é o país com o maior número de católicos do mundo. E diria que foi quase um escândalo, que neste país onde tantas crianças trabalham pela evangelização e são ao mesmo tempo fruto eminente desta evangelização, não houve até hoje santo canonizado, nascido nesta terra. Canonizado em 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI. Cardeal José Saraiva Martins Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

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