O sonho de uma vida melhor motiva os imigrantes a sair de sua terra na Galícia, partindo para a América do Sul. Mas infelizmente muitas vezes a realidade é dura e injusta. Muitas vezes trabalhavam de sol a sol em suas terras férteis, navegando em rios amplos, ou se instalando na periferia, quando conseguiam se acomodar nas cidades. Mas, com sua pobreza de origem levavam a riqueza de suas tradições católicas. Assim aconteceu com os Pérez-Rodriguez que diante da adversidade não desesperaram. Em Córdoba, em meados de 1889, Agustín Pérez se casa com Ema Rodriguez, diante do altar da Virgem do Pilar.
A Argentina vivia momentos agitados que faziam alternar partidos conservadores e liberais no governo das cidades, isso fez com que o casal emigrasse para Montevidéu. Mas como o jovem casal não encontrava horizontes de progresso naquele país, decidiu voltar para a Argentina.
Em San Martin, Buenos Aires, no frio agosto de 1897, nasceu a pequena Maria Angélica. Família rica em fé e em filhos: nasceram ainda Agostinho, Aída, Maria Luísa, José Maria. Porém, a jovem mãe adoece e o médico consultado aconselha que a levassem para um clima mais ameno. Assim, a família parte para Pergamino com seus filhos, seus poucos bens, e uma fé profunda.
Dia a dia, quase inconscientemente, a mãe transmitia a seus filhos o conceito da fé. E assim cresceram estas crianças, com essa mãe forte que ensina a responder com amor ao amor de Deus, a transformar alegrias e dores em momentos de graça. Cresceram com profundas convicções religiosas, embora fossem à igreja ocasionalmente, porque esta ficava a três horas de distância.
A maior parte do ciclo primário Maria Angélica cursou no Lar de Jesus, de Pergamino. Ali também se formou em mestra de Trabalhos.
Sua vocação religiosa, que havia crescido ao longo destes anos, tomou uma forma definida quando em 31 de dezembro de 1915 ingressou no noviciado das Irmãs do Horto, em Buenos Aires. Recebeu o hábito em 2 de setembro de 1918, com o nome de Irmã Maria Crescência. Nesta ocasião morreu seu pai. A Congregação das Filhas de Maria Santíssima do Horto fundada por Santo Antônio Maria Gianelli, motivo porque as Irmãs são chamadas Gianellinas.
Não desejando outra coisa que agradar a Deus com uma vida santa e ser instrumento dEle para salvar as almas, se entregou totalmente à sua missão, fazendo-se “toda para todos”, em obediência perfeita e na caridade ilimitada.
Segundo testemunhas, a virtude especial de Irmã Maria Crescência foi a humildade. Esta virtude permitiu que ela vivesse as exigências da caridade fraterna e da perfeita vida em comum com íntima e serena alegria. Era feliz em poder fazer a vontade de Deus.
Os primeiros anos de sua vida religiosa foram dedicados à infância. Desempenhou a tarefa de mestra de Trabalhos e catequista, em primeiro lugar na escola anexa à Casa Provincial, e depois no Colégio do Horto, de Buenos Aires.
Uma segunda etapa de sua vida teve como destinatários os doentes. Começou esta missão no Sanatório Marítimo de Mar del Plata (Solarium), dedicado exclusivamente à internação e atenção à crianças afetadas pela tuberculose óssea. Permaneceu ali por três anos.
Como sua frágil saúde começou a declinar rápida e seriamente, seus superiores decidiram enviá-la para um local cujo clima ajudasse na sua recuperação. Vallenar, no Chile, onde as Irmãs do Horto atendiam no hospital, foi o local escolhido. Em 1928, a Irmã Maria Crescência visitou Pergamino pela última vez para despedir-se para sempre de seus familiares. Pouco depois, acompanhada pela Madre Provincial, viajou para o Chile, onde transcorreu a última etapa de sua vida.
Apesar do muito que lhe custou deixar sua pátria, família e comunidade, Irmã Maria Crescência viu claramente a vontade de Deus nas palavras de sua Superiora e com gosto aceitou o que lhe pedia. Ela havia dito: “Para cumprir a vontade de Deus eu iria ao fim do mundo”.
Ela viveu em Vallenar totalmente entregue ao serviço de seus irmãos doentes, chegando a dizer: “Senhor, que eu Te ame tanto como Tu te amas a Ti mesmo”.
Deus tinha reservado graças muito especiais para seus momentos finais. Segundo as crônicas, ela recebeu em visão a visita do fundador, Santo Antônio Maria Gianelli. Da imagem do quadro da Virgem do Horto, que ficava junto de seu leito, Maria abençoou-a e às Irmãs. O Menino Jesus quis sair dos braços de sua Mãe e Irmã Maria Crescência estendeu os seus para recebê-Lo.
Com piedade recebeu o Santo Viático, rodeada de sua Superiora e de suas Irmãs, e enquanto rezava com elas as orações dos agonizantes, ergueu-se, e inclinando-se profundamente diante do quadro do Sagrado Coração de Jesus, repetiu as palavras que o mesmo Jesus lhe havia ensinado: “Coração de Jesus, pelos sofrimentos de vosso Divino Coração, tem misericórdia de nós!”
Em seguida iniciou uma fervorosa oração: “Coração de Jesus, abençoai-me e abençoai estas minhas Irmãs; dai forças a elas para combaterem com fervor e para procurarem a salvação das almas nestes tempos difíceis. Abençoai nosso Instituto, do qual recebi tanto bem e no qual nestes momentos me considero a criatura mais feliz do mundo. Vos peço, Coração Santíssimo de Jesus, que mandeis muitas e boas vocações para o nosso Instituto. Ó Coração de Jesus, peço-Vos uma especial bênção para o Chile, e já que é Vossa vontade que eu aqui morra contente, Vos ofereço este sacrifício pela paz e tranquilidade desta Nação”.
Seu desejo de unir-se a Jesus era veemente, por isso exclamou: “Não me detenham mais... Não me detenham mais... Sim, que todos vão ao Coração Santíssimo de Jesus. Ali encontrarão a salvação de sua alma”. Finalmente, disse sorrindo: “Pai, em Tuas mãos encomendo meu espírito”. Assim faleceu santamente no dia 20 de maio de 1932.
Logo depois de seu falecimento no Colégio do Horto de Quillota, 600 k distante de Vallenar, neste local as Irmãs reunidas sentiram uma fragrância semelhante ao perfume das violetas, que permaneceu vários dias dentro dos muros do colégio. Diante deste fato inexplicável, a Superiora disse: “A Irmã Crescência morreu!” Imediatamente chegou um telegrama avisando de sua morte.
Quando as Irmãs do Horto deixaram Vallenar, a população não quis que levassem o corpo daquela que chamavam “a santinha”. Assim, ela ali ficou por 35 anos, até que em 8 de novembro de 1966 a Congregação ia transladar seus restos, porém, ao abrirem seu caixão encontraram seu corpo e seu hábito intactos e em perfeita conservação.
Irmã Maria Crescência foi beatificada em 17 de novembro de 2012 em Buenos Aires, na Argentina, durante uma celebração presidida pelo Cardeal Ângelo Amato.
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