O Reino de Deus traz sempre surpresas que nos encantam. A mim impressiona muito como as coisas boas do Reino estão sempre na contra-mão. É o que vemos na virtude de ser criança. Será isso, uma virtude? Parece que nem nome tem. Mas Jesus a coloca como uma virtude fundamental. A nós, adultos, interessa a maturidade, a grandeza da personalidade, a plenitude do ser humano. Jesus diz que a grandeza está em ser como a criança. Ela é o que é. Não tem máscaras, não se pensa mais do que é, acolhe. Por isso Jesus afirma que “aquele que não receber o Reino de Deus como criança, não entrará nele” (Mc 10,15). Para isso exige-se a conversão, a mudança radical: “Se não mudardes, e não vos tornardes como criancinhas, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3). Qual é a virtude dos pequeninos? Continua Jesus: “Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt 18,4). É isso que acontece com Maria, a pequenina grande do Reino: “Deus olhou a humildade de sua serva ... Ele exaltou os humildes” (Lc 1,48.52). Jesus se identifica com as crianças: “Quem recebe um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe” (Mt 18,5). A virtude de ser criança exige uma maturidade imensa. Curiosamente a gente não se preocupa com essa virtude. Entre nós, até nas pessoas que consideramos santas ou foram assim declaradas, não é uma virtude privilegiada. As crianças também podem elaborar umas coisas más que são fruto da educação, da convivência ou do próprio egocentrismo natural. Jesus contempla o normal das crianças. A humildade é uma de suas características. Humildade significa acolhimento.
Crianças diante de Deus
Jesus é modelo também desta virtude. Diante do Pai Ele se faz pequenino e se relaciona com o Pai como uma criancinha: Ele chama Deus de Abbá, que, em hebraico significa paizinho. É diminutivo de Ab, que é quer dizer Pai. Jesus era fascinado por seu Pai, como uma criança que confia, que ama, que se ampara e sente segurança. Para ela o pai sempre é o maior. Pelo Evangelho notamos esta virtude na vida de Jesus. No último momento, no maior desespero, na noite total, Ele se joga cegamente nos braços do Pai: “Em vossas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46). No fundo do poço, vê os braços do Pai. Precisamos aprender a confiar com simplicidade aos cuidados e ao amor paterno de Deus, pois somos acolhidos por Ele. Ele nos faz sentir seguros em todas as necessidades, mesmo nas turbulências. A espiritualidade deve estruturar-se a partir desta virtude. Nós não temos esse relacionamento com o Pai. Nós nos tornamos complicados, tensos, estressados.
Vocação à infância espiritual
A Igreja sempre teve um carinho especial pelas crianças (infelizmente muitas comunidades e sacerdotes não se preocupam com o acolhimento das crianças). Mas que acolher a crianças é preciso criar em nós a espiritualidade da infância espiritual que é tão apreciada em Santa Terezinha. Temos um servo de Deus, redentorista, que adota esse caminho com grande simpatia. Chama-se Marcel Van. Está em processo de beatificação. Eles nos ensinam o pequeno caminho, caminho das pequenas coisas para chegar a ser grande. Trata-se dos pequenos gestos de amor, da humildade, da serenidade nos sofrimento. O pequeno caminho é o amor. A maior obra do amor, é amar como crianças, com totalidade no que é pequeno. Amaremos e respeitaremos Deus como nosso Pai se nosso amor a Ele se traduzir no amor recíproco. Por isso precisamos mudar nossa mentalidade e, ao apelo do Reino, nos convertermos em criancinhas.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MAIO DE 2009
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