Refletimos sobre tornar-se criança como uma virtude. Como encerramento do ciclo das virtudes humanas, chegamos à virtude do saber envelhecer. Agora que a vida está se prolongando mais, com vitalidade, é uma virtude extremamente saudável. Nas reflexões sobre as virtudes, baseei-me nos escritos do Pe. Bernardo Häring, redentorista, o maior moralista dos tempos modernos. Ele foi o homem que abriu a reflexão moral para o mundo atual. Foi perseguido, inclusive por grupos da Igreja. Tive a alegria de conviver com ele. Pe. Häring, reflete sobre sua vivência aos 84 anos, isto, antes de 1998. Ele afirma que “a virtude de saber envelhecer é a capacidade de respeitar e amar o outono da vida, isto é, arte de envelhecer com dignidade”. A arte de morrer (ars moriendi, como se dizia na Idade Média), é preparar-se para uma boa morte com as virtudes que coadunam com o outono da vida. Ele ensinou-nos a viver na “memória agradecida”. É preciso deixar as mágoas de lado e partir para reviver, de modo agradecido, as coisas belas da existência, mantendo a gratidão. É importante para as novas gerações ter a sabedoria de conviver com os idosos. Na Angola as famílias se sentiam privilegiadas por terem um ancião. ‘Quando morre um velho, se diz, queimou-se uma biblioteca’. É belo aprender a sabedoria lendo o livro da vida. Não se pode dizer: ‘Só meu tempo é que prestava. Agora acabou tudo!’ A sabedoria é cultivar a alegria das coisas boas e conviver com a novidade.
Sinais belos da vida
Hoje procuramos esconder os sinais do envelhecimento. A gente fica feliz quando alguém diz que não demonstramos a idade que temos (pior quando dizem que parecemos mais velhos !!!). A idade existe e tem suas conseqüências. Envelhecer não é um mal. É um dom a ser aproveitado em cada ruga. Há um caminho, apresentado pelo Pe. Häring, que é interessante: Cultivar o bom humor, dar preferência às boas notícias e deixar programas de televisão que provocam medo e insegurança. Aceitar as limitações da saúde, da situação social e da diferença de formação, da cultura etc... sem ficar se queixando. Aceitar que nos distanciamos das coisas. Não se trata de ser colocado de lado. É uma separação serena que nos conduz à separação definitiva. Não se levar demasiado a sério. E, sobretudo, manter-se intelectualmente ativo. Não nos preocupemos: Ninguém é insubstituível.
Saber aprender
Não conviver com velhos e crianças é ser pobre de vida. Meus pais estão idosos. Papai tem 95 e mamãe, 91. Perguntei a meu irmão Carlinho (51), porque gosta de conversar com papai. Respondeu: “Eu me sinto muito bem de conversar com ele. Ele tem muita confiança em mim. Gosto de contar tudo a ele, pois o retorno é muito grande. Ele se interessa pelos assuntos. A pessoa idosa quer saber detalhes do que está acontecendo. Quer viver e não quer ficar no cantinho. Desperta-o muito. Tira um pouco da tristeza. A gente que viveu longe, não teve convivências, então aproveita agora”. Esse mútuo aprendizado é muito enriquecedor. Papai sempre quer saber e contar sua experiência. Aqui, em minha comunidade, temos o Pe. Morgado (94). É um poço de informações. Ele diz: ‘Minha missão é rezar’. É tempo de rezar. D. Aloysio dizia que a velhice é o tempo de rezar. De nossa parte, importa provocar maravilhoso intercâmbio das idades. Por fim, aprender dar à morte seu melhor sentido que é porta para a vida eterna. Pe. Häring rezava: “Sim, Pai, aqui me tendes pronto para partir para vós”. Simeão disse: “Agora, Senhor, deixai vosso servo ir em paz, porque meus olhos viram a salvação” (Lc 2,29).
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MAIO DE 2009
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