Falar em virtude da castidade é até arriscado, pois a consideram, como castração que prejudica a personalidade das pessoas. Realmente, mal compreendida, faz mal até para quem a observa como santidade. Mas, ela é a virtude que sintetiza nossos dinamismos humano-carnais e as forças espirituais que atuam em nós. Trata-se da virtude que une a carne ao espírito, na pessoa como um todo. É a bela confluência da carne e do Espírito. Bem vivida, faz a pessoa feliz na carne e no divino espiritual que habita em nós. Ela não coíbe a carne, mas a faz completa e eleva o espiritual a seu verdadeiro nível, recompondo o desequilíbrio. Torna a carne santa e o espiritual bem carnal. Parece um contra-senso, mas se o espiritual perde a dimensão do carnal, gera o desajuste da pessoa. Se o carnal perde sua dimensão espiritual, perde a riqueza que pode gerar. Por que? A pessoa não é corpo e alma, mas um corpo animado por uma alma, criada por Deus, para esse corpo. É uma pessoa. Pela história, sentimos que o assunto sexualidade foi sempre um espinho em nossa cultura ocidental. Nas outras, não sei. A Igreja foi influenciada por filosofias antigas, como um platonismo mal compreendido, que viam o corpo como prisão da alma, do qual ela tem que se libertar. A ascese, mal interpretada, quis oprimir o corpo para salvar o espiritual. Com a liberação total existente na sociedade atual, partiu-se para o contrário sufocando o espiritual para liberar a carne, o sensível. Não resolveu o problema. A Sagrada Escritura, na criação do homem e da mulher, Ele ficou muito satisfeito com sua obra mais elevada: “Deus viu tudo que havia feito: era muito bom” (Gn 1,31). A castidade bem compreendida torna boa nossa vida porque realiza o justo equilíbrio daquilo que nos é mais precioso.
Síntese do bem viver
A pessoa humana é um dom de Deus. Jesus, como pessoa humana e divina viveu intensamente sua sexualidade na doação, no amor, na entrega, na proximidade das pessoas. Alguns querem vê-lo em casos com sua amada discípula Madalena. Isso não passa de uma projeção mórbida de quem não se resolveu e decide emporcalhar quem tanto soube amar. A castidade vivida como sexualidade, integra a vida. Não reprime, mas orienta. A sociedade vive um pansexualismo, mas não sabe amar, se doar e construir o ser humano. Os resultados da incapacidade de amar são claros. Amar vai além do gostar. Se existe amor de entrega, acolhimento e doação, a prática sexual vai ser enriquecer de tal modo que se torna encontro com Deus, eucaristia encarnada no amor do casal e páscoa matrimonial. Sexo se torna encontro com Deus, santificação, caminho e porta do Céu. Quando é sem amor de doação, egoísmo de mútuo uso, é a delapidação do ser humano.
Caminhos de felicidade
A sexualidade deve ser estimulada, não coibida. O que estamos ensinando e praticando é unicamente a genitalidade, sem a conexão com todo nosso ser. O pecado que fere é o sexo egoísta (mesmo dentro do casamento). A expressão sexual na relação matrimonial é santificadora, querida por Deus e desenvolve todas as virtudes. Se for egoísta, desenvolve todos os vícios. Sexo sem o amor de entrega, diminui o ser humano e não realiza sua vocação maior. Mesmo os solteiros e consagrados são chamados a viver a sexualidade na doação de vida que o faz completo. É o que vemos os santos tão amados pelo povo. Eles souberam amar. É como Jesus que deu a vida e na cruz realizou o maior ato de amor de entrega e doação. Realizou-se plenamente como homem e completou a obra de Deus. O tema é amplo e requer uma abertura de coração para ser tratado com amor.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MAIO DE 2009
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