quinta-feira, 6 de outubro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA -- “Deus escuta a súplica do humilde”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
O orgulho não compensa
 
Continuando a catequese sobre a oração, Jesus aborda um tema muito simpático: a humildade, garantia da oração. O ponto de partida que Jesus toma é a oração dos que confiam na própria santidade e desprezam os outros. Ensina que a auto-suficiência é uma refinada forma de orgulho. A oração do fariseu no templo começa a ser insuficiente para a justificação no momento em que diz: “Eu não sou como esses outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos” (Lc 18,11). Suas virtudes e vida correta são excelentes. Ele pratica os mandamentos e vai além das exigências da lei. É um homem bom. Mas... Colocou tudo sob a exaltação de si mesmo, no orgulho de ser bom, acima dos outros. E Jesus completa: “Quem se eleva será humilhado” (14). Jesus não se dá com o orgulho. É o pecado fundamental do ser humano. O fariseu poderia ter falado tudo o que disse, sem se julgar melhor do que o pecador, que em seu íntimo reconhecia a grandeza do Deus que perdoa. A atitude orgulhosa do fariseu provém da falsa religião que louva a Deus, mas comete a exploração dos pobres. Eles “devoram as casas das viúvas e simulam que estão fazendo longas orações” (Mc 12,40). Jesus ensina não pôr a confiança em si mesmo e nas boas obras que realiza. É curioso, atualmente, como as pessoas sempre dizem o que fazem de bom para Deus, para justificar que tem que as ouvir em tudo e como querem. Eu rezei, Deus tem que me pagar. Até ao contar os pecados se justificam. 
A prece do humilde atravessa as nuvens 
O pobre clama e Deus o escuta, reza o salmo. Por que Deus está tão atendo ao humilde? Porque coloca sua confiança em Deus. A humildade é ser inteligente diante de Deus, reconhecendo nele a fonte da misericórdia e da vida. A primeira leitura afirma que “Deus jamais despreza a súplica do órfão nem da viúva quando desabafam suas mágoas” (Eclo 35,17). A leitura insiste que “a oração do coração do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar, não terá repouso” (21). É importante notar que Jesus não fala da humildade como um bom conselho. Quando convida a segui-lo, está a indicar também que devemos aceitar a humildade como caminho da vida: Isso nós podemos ler na carta aos Filipenses: “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de escravo, tomando a semelhança humana. E achando-se em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até à morte e morte de Cruz! Por isso Deus o exaltou grandemente” (Fl 2,7-9). Ele se coloca como servo quando, na ceia, lava os pés dos apóstolos e manda fazer o mesmo (Jo 13,15). Disse que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida (Mc 10,45). Deus exige a disposição de pedir com humildade o perdão, como fez o publicano: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador” (Lc 18,13). Não condenemos como o fariseu. Apliquemos a nós a parábola e sejamos humildes. 
Humildade na verdade 
Paulo, na 2Timóteo, expressa seus últimos sentimentos, pois está prisioneiro e pronto para ser sacrificado. Reconhece que cumpriu com força: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7). Paulo não conta vantagens. Reconhece que tudo foi bem porque o Senhor estava ao seu lado e lhe deu forças (17). É humildade reconhecer o que Deus faz em nós. Por isso, a Ele glória pelos séculos! (18). Ele lhe dará a coroa da justiça. Não só a Ele, mas a todos os que esperam sua manifestação (8). No seguimento de Jesus, a humildade será a força da Igreja. Tudo é bom, mas na humildade. 
Leituras: Eclesiástico 35,15b-17.20-22ª; Salmo 33;
 2Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14 
1. Jesus continua a catequese sobre a oração salientando a necessidade da humildade. A oração do fariseu perdeu o valor por condenar os outros e exaltar a si mesmo. Há uma recusa da oração do fariseu porque ela não é acompanhada das obras da justiça. Nós não podemos ter a mesma atitude. 
2. O segundo ponto é a força da oração do humilde. Deus não despreza a súplica do órfão nem da viúva quando desabafam suas mágoas. A oração do humilde atravessa as nuvens. Jesus se põe como modelo de humildade pela própria vida que foi assumida na condição do escravo, como escreve Paulo. Deus nos pede a disposição do publicano que pede com humildade: “Meu Deus, tem piedade de mim pecador”. 
3. Paulo dá um testemunho da humildade na verdade. Reconhece o que realizou em sua vida, sua luta e sua vitória. Isso porque Deus esteve ao seu lado. Humildade é reconhecer o que Deus faz em nós. Ele dá a coroa da justiça. 
Pavão tem pé feio 
Dois homens subiram ao templo para rezar. Um, cheio de si, contava suas vantagens diante de Deus e desfazia dos outros. O outro, encolhido de vergonha, pedia perdão: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. Jesus afirma que o pecador voltou justificado, isto é perdoado. O outro não. Por quê? O orgulho não tem lugar diante de Deus. Faz tantas coisas boas, mas está cheio de si e não de Deus. É um pavão. Bonito, mas tem o pé feio. Deus gosta da humildade. Ser humilde não é ser bobo, é ser inteligente. Reconhece sua realidade diante de Deus e por isso é feliz. Assim se mostra que o orgulho e a presunção são prejudiciais. O caminho para Deus é a humildade simples. É um grande prejuízo para nós não reconhecer os nossos pecados. O orgulho diante de Deus não leva a nada. 
Homilia do 30º Domingo Comum
EM OUTUBRO DE 2007

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