Foi no castelo de Druelle, situado a 8 km de Rodez, capital de Rouergue, que, a 6 de setembro de 1787, nasceu Marie Guillemette Emilie de Rodat, a primogênita do casal Jean Louis Guillaume Amans de Rodat e Henriette de Pomairols.
No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizada na Igreja de Saint Martin de Lomouze, tendo por padrinhos seus avós: Guillaume de Rodat e Marie Marguerite de Pomairols.
De uma família de santos, Emília teve bons exemplos de virtudes. Recebeu uma boa educação de seus pais, uma instrução suficiente e uma excelente formação moral e espiritual.
Seu trisavô Sr. De Ramondy despojou-se de seus haveres em favor dos pobres num tempo de fome, decorrente da Revolução Francesa. Na Sra. De Selves, sua bisavó, residia o espírito de misericórdia. Sua avó paterna tinha grande espírito de fé. Havia ainda, na família dos Pomairols, uma jovem de nome Carlota, considerada como santa. Muito tempo após sua morte, encontraram-lhe o corpo perfeitamente conservado.
Com a chegada ao lar de mais uma criança, que recebeu o nome de Eleonora, a avó de Emília pediu para levar a netinha, que contava apenas 18 meses de idade, para o castelo de Ginals, situado numa verdejante colina perto de Villefranche.
Foi nesse ambiente de muita tranquilidade e paz que Emília passou os mais belos anos de sua vida, gozando da amável companhia dos avós, dos tios Stanislas-Victor e Ágata — ex-religiosa visitandina — e de sua bisavó madame De Selves.
Além de Eleonora, modelo de virtude, Emília tinha mais três irmãos: Charlotte, Louis Guillaume e Armans Henri.
Emília recebeu, aos 11 anos, sua primeira comunhão, clandestinamente, na capela de Ginals, sem nenhuma festa. Apenas puseram-lhe sobre a cabeça um véu branco. Seus avós aproveitaram a presença de um dominicano, Joseph Delbès, refugiado no castelo, para realizar a cerimônia, marcando uma etapa de sua vida interior. Era a época da grande Revolução Francesa, na qual os religiosos foram expulsos dos conventos; as igrejas foram profanadas; as relíquias, quebradas; e os túmulos, violados.
Emília gostava de contemplar os encantos da natureza, de meditar à borda de um riacho. Apreciava muito a leitura e entregava-se com ardor a esse exercício. Não tinha relações senão com seus parentes e com a família Dulac, cujos membros cumpriam fielmente seus deveres de cristãos.
Em 1803, Emília era uma encantadora jovem de 16 anos. Seu caráter se manifestava à medida que crescia. Naturalmente viva e graciosa, um pouco altiva e autoritária, notava-se nela tendências para a vaidade e o orgulho. Fisicamente, era bem-dotada. De estatura média, membros bem-proporcionados, espessa cabeleira castanha, olhos negros e expressivos, atraía a atenção e a simpatia de todos.
Apesar das crises próprias da adolescência, Emília conservou sempre vivo o atrativo pelos pobres. Em companhia de Maria Anna Gombert, uma humilde moça de Villefranche, visitava, com frequência, os pobres e doentes.
Em 1804, o Papa Pio VII concedeu um jubileu pregado por missionários nas paróquias da França, onde refloresceu a vida cristã. Na Festa do Corpo de Deus, na Igreja de Saint Martin — a mesma onde Emília foi batizada —, as palavras de um desses missionários ditas no confessionário determinaram a sua total e muito pacífica conversão. De súbito, uma luz a invadiu, e ela teve a “experiência de Deus”. Ficou de tal forma absorvida na presença que não percebia o que se passava em torno dela. Foi a conversão total. Emília experimentou o poder libertador da graça. Vida de oração e vida sacramental, assistência aos miseráveis e pobreza pessoal, de muita renúncia, tomaram novamente um lugar primordial em sua vida. O mundo que ela tinha amado na sua tibieza tornou-se digno de desprezo. Só queria Deus, e unicamente. Sentia Sua presença em tudo e por toda parte. Começou a vestir-se com muita simplicidade, desprezando modas. Ia diariamente à Igreja de Ampiac, à meia hora de Druelle, para participar da Santa Missa.
Ainda nesse ano, recebeu o sacramento da confirmação, a crisma, com muito fervor.
Aos 16 anos, deixou Druelle a fim de voltar para Villefranche e ir morar na casa da Sra. Saint-Cyr, dona de um pensionato reservado às “senhoritas” da sociedade. Pe. Antoine Marty era o confessor da casa, tornando-se seu diretor espiritual. Sua direção era assídua, quase diária. Ao exercitar a docilidade de Emília, ele a ajudou a renunciar a inclinação para o orgulho, que poderia, ocasionalmente, se acentuar.
Em 1806, a Sra. Saint-Cyr aproveitou a relativa instrução de Emília para lhe confiar aulas de Catecismo e de Geografia, como também vigilâncias, que lhe deram oportunidade de aperfeiçoar seus dons pedagógicos inatos, desempenhando essa tarefa com tal sucesso, competência e doçura que os pais das alunas desejaram participar das aulas. Falava-lhes, frequentemente, sobre Nossa Senhora, desejosa de que elas a amassem com ternura. Inspirava-lhes grande respeito à Igreja, dava-lhes grande ideia dos sacramentos, da penitência e da eucaristia. Induzia-as ao amor do Anjo da Guarda, do qual lhes falava com frequência. Era sempre pela doçura e insinuação que as conduzia, jamais usando de repreensões.
Após Emília lhe ter comunicado seus projetos de vida, Pe. Marty preferiu esperar quatro anos para que ficassem mais claros. Entretanto, foi ainda necessária uma série de experiências dolorosas para que começasse a se manifestar, embora negativamente, a vontade de Deus. Foi só em 1809, aos 22 anos, que Emília ingressou na vida religiosa, como postulante na Congregação das Religiosas de Nevers, em Figeac. As perturbações de consciência e as angústias que sentia fizeram Pe. Marty concluir que lá não era o lugar para ela. Decorrido apenas um mês, voltou para Villefranche. Pouco tempo depois, Emília esteve em Cahors, na Congregação das Religiosas da Adoração Perpétua de Picpus. Realizada em suas aspirações contemplativas, Emília não se sentia em paz, e Pe. Hippolyte de Launay, supervisor da comunidade, disse-lhe que devia deixar aquela congregação. Triste, mas não desanimada com esse duplo fracasso, obteve de seu diretor a permissão para pronunciar os votos privados de religião em 21 de novembro desse mesmo ano, permanecendo sob a sua orientação até outubro de 1811. Nesse mesmo ano, Pe. Marty pôde responder ao convite que lhe fez a Sra. Genyer, fundadora de um seminário e do Instituto das Irmãs da Misericórdia, em Moissac, indo ajudá-la no seu primeiro empreendimento. Durante a ausência do Pe. Marty, Emília teve como confessor o Pe. Grimal, do qual obteve a permissão excepcional de comungar com muita frequência.
Um novo fracasso a esperava. Tendo a Sra. Genyer e o Pe. Marty a encorajado a entrar em um novo instituto, ali chegou em abril de 1812 e logo sofreu uma “tempestade” de escrúpulos e de sofrimentos espirituais que obrigaram a sua superiora a despedi-la após seis meses. Emília retomou suas atividades costumeiras, levada pelo desejo insuficientemente explícito, sem dúvida, de proporcionar formação religiosa a meninas pobres. A Providência prolongou sua indecisão até maio de 1815. Então, durante uma visita que fazia aos pobres, Emília ouviu várias mães de família lamentarem a ignorância de suas filhas, sobretudo da instrução religiosa. “Antes da Revolução Francesa”, diziam elas, “as ursulinas ensinavam gratuitamente; nós fomos educadas por elas. E hoje, como não temos os meios de mandar nossas filhas à escola, é preciso vê-las estagnar na ignorância e no esquecimento de Deus.” Essas palavras transpassaram como um dardo a alma de Emília, que lhes disse: “Enviem-me suas filhas, eu as instruirei”. Sentiu o apelo irrecusável de Deus para socorrê-las numa fundação, em Villefranche, destinada à instrução das meninas pobres. Soube falar disso ao Pe. Marty, que a encorajou sem reservas.
Querendo iniciar sem demora a execução do seu projeto, Emília obteve da Sra. Saint-Cyr a permissão para dar aulas, no seu exíguo quarto, às crianças, cujo número chegou rapidamente a quarenta meninas. Como o espaço de que dispunha era muito pequeno, Emília se viu obrigada a colocá-las sobre sua cama. Pensava, sobretudo, na função que Deus lhe tinha confiado. Pedia conselhos ao Pe. Marty, que designou três jovens professoras do mesmo pensionato para ajudá-la: Ursule Delbreil, Marie Boutaric e Eléonore Dutriac. As quatro eram intimamente unidas e tinham um zelo extraordinário; rezavam juntas todos os dias o Ofício de Nossa Senhora para implorar sua proteção maternal e encorajavam-se mutuamente. Emília tinha, nessa época, 28 anos.
Emília e suas companheiras tiveram que enfrentar grandes dificuldades. O projeto, parecendo quimérico, era considerado loucura pelos mais criteriosos. Todas as senhoras do pensionato levantaram-se contra elas, inclusive a Senhora de Pomairols. O clero e o povo da cidade censuravam-nas fortemente. Pe. Marty não podia tomar a defesa delas, apenas ajudava-as em segredo com seus conselhos e avisos.
Nesse ambiente hostil e sem meios financeiros, era difícil achar um local para morar, mas a Providência veio, enfim, em auxílio delas, no início de 1816, inspirando uma antiga aluna da Sra. Saint-Cyr, a senhorita Victoire Alric, que prometeu alugar, logo que ficasse desocupada, a metade de um imóvel, embora insalubre e mal situado. Apesar de todos os inconvenientes, Emília aceitou. No dia 30 de abril, com suas companheiras, começou a viver uma rigorosa vida religiosa e, no dia 1º de maio, vestiram um hábito muito simples e uniforme. No dia 3 de maio, à sombra da cruz, abriram também uma classe denominada Santa Maria para as meninas de média condição. Três órfãs foram igualmente adotadas. Para acomodá-las, foi necessário colocar a cama de Irmã Ursule no vão de uma janela, e Emília passou a dormir numa mansarda desabrigada, quase ao ar livre: gesto de caridade que a Santa renovou em quase todas as fundações; uma marca de simplicidade e de humildade devia identificar desde o início o instituto.
Um dos maiores desejos de todas era possuir o Santíssimo Sacramento em casa. Dom Grainville, bispo de Cahors, que fazia, então, a visita pastoral da diocese, achava-se em Villefranche e, muito edificado com a ordem e a regularidade que reinava na casa, consentiu, em junho de 1816, que as Irmãs tivessem uma capelinha com o Santíssimo Sacramento. Pe. Martiy foi designado para benzer a capelinha e celebrar a primeira missa. A partir desse momento, as Irmãs julgaram-se ricas no meio de tanta pobreza.
Na Páscoa de 1817, Emília fez seus primeiros votos temporários.
O grande número de alunas tornara necessária a aquisição de um novo local. No dia 29 de junho de 1817, transferiram-se para a casa Saint-Cyr, abandonada pelos membros da frágil federação. Algumas candidatas vieram aumentar a pequena comunidade. O número das Irmãs dobrou, e o Pe. Marty, apesar de inúmeras ocupações, permaneceu como capelão oficial. A obra prosperava sempre. A superiora começou a pensar, desde então, em obter a aprovação do governo e comprar uma casa mais espaçosa, que se prestasse melhor à observância da clausura. O Pe. Grimal, benfeitor do instituto e protetor das Irmãs, decidiu pela compra do antigo Convento dos Franciscanos, abandonado desde 1793, uma casa contínua e, mais tarde, um jardim. Ao todo, eram 42 mil francos que deviam pagar, mas nada tinham. A Providência suscitou ainda sábios conselheiros e benfeitores. Há mesmo, segundo o testemunho de Emília e de vários contemporâneos, acréscimos miraculosos de dinheiro. Um dia, deviam fazer um pagamento e encontraram 7 mil francos no fundo do armário, o que as deixou numa admiração indescritível.
Em 29 de junho de 1819, as Irmãs tomaram posse da moradia definitiva, atual Casa-Mãe das Religiosas da Sagrada Família, onde fizeram, solenemente, os primeiros votos. A transferência para a nova residência marcou o início de grandes provações para Madre Emília e seu instituto. Além disso, em agosto de 1820, começaram, para Madre Emília, as terríveis tentações contra a fé, a esperança e a caridade, que duraram 32 anos, levando-a a um estado extraordinário de sofrimento interior.
As Irmãs, as postulantes e até mesmo as alunas foram atingidas por uma terrível epidemia. A maioria das meninas abandonou as classes, e as postulantes voltaram para sua família. Nenhuma candidata se apresentava por ter medo do contágio e da morte. Infelizmente, a comunidade ia ser dizimada por uma série de lutos imprevisíveis e bastante misteriosos, uma ez que a epidemia permaneceu localizada no convento. No espaço de algumas semanas, Emília viu desaparecer sua tia-avó, as Irmãs Eléonore Dutriac e Marie Boutaric, uma órfã e outras religiosas. Diante de tantas provações, Madre Emília começou a pensar que Deus não estava mais aprovando a sua congregação e resolveu afiliá-la à das Filhas de Maria, na época muito recentemente fundada em Agen pela Senhora de Tranquelléon. Após dois anos de espera e de reflexão, o projeto de fusão foi rejeitado pelas Irmãs de Villefranche.
Passadas as provações desses primeiros tempos, Madre Emília foi atingida por uma penosa doença: um pólipo no nariz que a fez sofrer e várias vezes ameaçou-a de degenerar em câncer. Em 1821, a epidemia diminuiu, e os locais mais bem organizados receberam numerosas alunas. Mas é então que Madre Emília, muito atingida por seu pólipo, é submetida a uma dupla cirurgia, o que deixou a sua saúde mais debilitada.
A saúde de Madre Emília continuava inspirando sérios cuidados. No dia 29 de agosto de 1822, o Pe. Marty enviou-a a Aubin para consultar-se com um médico renomado. Ao mesmo tempo, a Sra. Constans, pensionista em Villefranche e originária da localidade, convidou Madre Emília para fundar, em Aubin, um educandário para moças. O Pe. Marty deu o seu consentimento. Chegando a Aubin, ocupou-se ativamente da nova fundação, primeira do instituto, que estava no seu sexto ano de existência.
O projeto foi bem aceito pelas autoridades locais e pelos habitantes. Além do cuidado com as crianças, as Irmãs visitavam os doentes e os pobres. Em breve, várias jovens, atraídas pelos bons exemplos das Irmãs, pediram para ser admitidas na Sagrada Família.
A comunidade de Aubin fortaleceu-se pouco a pouco apesar dos mal-entendidos ou processos suscitados em particular pelos herdeiros da Srta. Constans após a sua morte. Havia outra preocupação maior: O Pe. Marty, que antes era favorável à fundação, agora estava querendo que as Irmãs abandonassem a obra. Madre Emília, porém, vendo nas dificuldades a vontade de Deus, insistia em permanecer, porque só via o bem a fazer. Apesar de tudo, ali foi feito um sólido trabalho apostólico enxertado no Ministério Fundamental da Educação: cursos primários e religiosos, ministrados, sobretudo, a pessoas de idade e muito ignorantes; visitas no domicílio pelas Irmãs conversas; etc. Os acontecimentos provaram que ela tinha razão, pois a Casa de Aubin se consolidou e prosperou muito.
Na pequena paróquia de Livinhac, havia uma associação formada por cinco “beatas”, conhecida por Irmãs da União. Elas tinham por superiora a Irmã Séraphine Vallon — piedosa, humilde e obediente, que mais tarde professou seus votos recebendo o nome de Irmã Thaís. Ela almejava uma vida religiosa mais regular e expressava seu desejo de afiliar-se a outra congregação.
Após haver consultado a pequena comunidade, que, depois de muita relutância, foi favorável ao projeto, o bispo, de acordo com o Pe. Marty e Madre Emília, resolveu afiliá-la à Sagrada Família.
No dia 1º de agosto de 1832, Madre Emília, acompanhada de três Irmãs, viajou para Livinhac com a difícil missão de transformar a pequena comunidade numa casa religiosa destinada à educação dos jovens, como as de Villefranche e Aubin. A princípio, havia duas comunidades na mesma casa. O problema estava em uni-las e fundi-las num mesmo espírito. Foram necessárias a delicadeza e a paciência da Madre Emília para conquistar as Irmãs, com exceção da Irmã Séraphine e da irmã Vicnet Boutaric, que viam sem reticência a afiliação. Aos poucos, as Irmãs foram se adaptando ao novo estilo de vida, depositando em Madre Emília confiança e estima.
A Congregação da Sagrada Família compunha-se, até o ano de 1834, exclusivamente de Irmãs clausuradas que se dedicavam ao ensino no interior do convento e de Irmãs conversas. Estas exerciam diversas funções fora do claustro. Dedicavam-se, particularmente, aos pobres e aos doentes, levando-lhes o conforto espiritual e a ajuda material, quando necessária. Porém, do ponto de vista da história da congregação, foi esse ano que pareceu decisivo em razão de um acontecimento totalmente imprevisto: a fundação das casas não clausuradas. Dom Giraud apoiava muito as escolas. Em alguns meses, houve três fundações: Lassouts, a primeira escola rural (final de setembro de 1834); Firmi (30 de abril de 1835); e Saint-Beauzély (junho de 1835).
A Providência — como que ironizando e desafiando a sabedoria humana — aproveitou para dar origem ao segundo ramo do instituto: As Irmãs das Escolas (que seguiam em tudo as mesmas diretrizes que as outras, com exceção da clausura). Numa perfeita união, deveriam harmonizar o estilo de vida e deveriam a atividade dos dois “ramos”, embora se admitisse certa dependência das não clausuradas em relação às outras.
Em março de 1834, Madre Emília prepararou fundação de uma clausura que tinha inicialmente adiado e até mesmo recusado: a de Figeac, no Lot. Mais um claustro com um pensionato. As Irmãs não tinham talheres, pratos nem mesmo uma mesa. Comiam de pé, dispondo apenas de uma colher. Essa fundação trouxe-lhes muitas dificuldades; elas não tinham recursos e viviam cercadas de censuras e de críticas, contudo eram felizes.
No dia 15 de novembro de 1834, falece Pe. Marty, com 78 anos de idade. A madre, que o teve como diretor espiritual desde os 18 anos, sofreu profundamente com a perda. No dia 18 de novembro, o conselho escolheu o Pe. Blanc para substituí-lo no governo da congregação.
A fundadora continuou abrindo escolas num ritmo bastante acelerado: Lugan (agosto de 1836), Montbazens (fevereiro de 1837), Decazeville (abril de 1837, apenas uma transferência de Vialarels).
Em 1840, algumas escolas se especializaram no atendimento aos pobres e aos doentes, surgindo, após, mais uma obra de misericórdia, desta vez voltada para os prisioneiros. Em 1841, o leque da atuação apostólica de Madre Emília foi se abrindo mais. Um rico negociante de Villefranche mandou restaurar o local das antigas prisões, transformando-as em creches. Desejando que As Irmãs das Escolas assumissem a direção, propôs a ideia à Madre Emília, que concordou, e as crianças foram admitidas.
De janeiro de 1840 a abril de 1845, foram fundadas 22 escolas. Algumas delas foram fechadas porque não dispunham de recursos suficientes para a sua manutenção; outras, por falta de entendimento com o clero local; e outras, ainda, devido ao número insuficiente de Irmãs não clausuradas.
Em 1852, uma úlcera no olho da Madre Emília veio aumentar os seus sofrimentos. O mal, que parecia benigno, aumentou rapidamente e era acompanhado de uma incapacidade crescente de se alimentar. Um dos seus maiores sacrifícios consistia em não poder, ela mesma, fazer suas leituras.
Além das provações interiores e das doenças, Madre Emília carregou também uma profunda humildade, paciência e a cruz da incompreensão que teve de suportar da parte de várias Irmãs da comunidade. Acusavam-na de arruinar a congregação com suas caridades exageradas. Foi submetida à vigilância de uma ecônoma. Abriam suas cartas; vigiavam-na para impedi-la de conversar com as Irmãs que sofriam com essas humilhações e que pareciam auxiliá-la.
Apesar de tantas provações, a Madre vivia na mais inalterável paz. Na sua profunda humildade, dizia: “Peço a Deus que suscite alguém para reparar meus erros”. Em vez de se queixar, dizia a algumas Irmãs que sofriam ao vê-la sofrer tanto: “É a melhor moeda para comprar o céu. Oh! Como é bom viver no desprezo! Vejam como sou feliz, não tenho outro emprego que o de sofrer!”.
No início de julho, sentindo-se livre das terríveis tentações que a martirizaram durante 32 anos, pressentiu estar perto o seu encontro definitivo com Deus.
Na madrugada de 4 de setembro, sofreu um desmaio que a impediu de descer para a missa. A partir desse dia, não deixou mais o seu quarto.
Na presença dos dois terços da congregação reunida na Casa-Mãe para o retiro anual, recebeu a unção dos enfermos e abençoou todas as suas filhas: as presentes, as ausentes e as que viriam no futuro, pois havia profetizado: “É preciso que a nossa caridade atravesse os mares”.
Seus últimos dias, dedicou às suas filhas. Fez questão de falar com cada uma, em particular, para lhes dar seus derradeiros avisos, o que deviam fazer para corrigir seus defeitos e avançar na vida espiritual. Apesar de sua fraqueza, permaneceu lúcida até o fim. Não esquecia ninguém.
O Pe. Faber, que ia diariamente visitá-la, recolheu cuidadosamente todas as suas memórias, num ritmo de quatro a cinco horas seguidas, para completar seus escritos autobiográficos, que estavam incompletos.
No dia 19 de setembro, às 13h30, na presença do Pe. Faber e de algumas Irmãs, num último esforço, tomou seu crucifixo que nunca deixava, fitou-o, colocou os lábios nas chagas do Salvador e, inclinando a cabeça, exalou o último suspiro.
Quando a triste notícia do falecimento de Madre Emília espalhou-se pela cidade, o povo, chorando e lastimando a grande e irreparável perda, exclamava: “Morreu a Santa!”.
Depois que a comunidade prestou suas primeiras homenagens filiais a Madre Emília, os habitantes de Villefranche, durante quinze dias atentos a todas as notícias, quiseram manifestar a sua veneração à “Santa”. O ataúde ficou exposto na capela durante o dia 20, e cada um pôde rever o rosto descoberto da madre ou fazer tocar em suas mãos objetos de piedade, que depois seriam conservados como relíquias. O cortejo fúnebre, depois de ter percorrido as avenidas da cidade, seguiu para a igreja paroquial. De volta à Casa-Mãe, foi transportado para o altar de Nossa Senhora da Salete, no jardim do convento. O sepultamento foi realizado no dia 25.
Um ano depois, em dezembro de 1853, o corpo foi transferido para a capela. O povo queria, a todo custo, ajoelhar-se diante do túmulo para implorar graças e testemunhar sua gratidão. Foi colocada sobre o túmulo a seguinte inscrição: “Aqui repousa a Madre Emília de Rodat, fundadora do Instituto das Irmãs da Sagrada Família, falecida em 19 de setembro de 1852”.
Dom Croizier tinha pedido à nova superiora-geral, Madre Bousquet, para reunir documentos, tendo em vista uma eventual biografia, assim como testemunhos de favores atribuídos à intercessão da fundadora. No fim de longo processo de causa, definiu e declarou que Emília de Rodat tinha praticado todas as virtudes em grau heroico. A dupla série de processos — ordinário e apostólico — abriu-se em 28 de setembro de 1860.
Quatro fases principais assinalaram seu desenvolvimento:
• 7 de março de 1872: decreto de Introdução da Causa em Roma.
• 19 de maio de 1901: decreto de Heroicidade das Virtudes.
• 9 de junho de 1940: beatificação de Emília de Rodat.
• 23 de abril de 1950: canonização de Santa Emília de Rodat.
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