São João Macias nasceu na Espanha, de família era pobre, mas abundante em bens espirituais e dons da graça.
Perdeu seus pais muito cedo, e juntamente com a irmã foi criado por um tio. Assim que atingiu a idade da razão, foi-lhe confiado o cuidado do rebanho de sua casa. Desde pequenino ocupava seu tempo em rezar e meditar.
Certo dia apareceu-lhe um menino de extraordinária beleza, que lhe disse: “Eu sou João Evangelista. Deus confiou-te à minha guarda por causa de tua piedade. Não tenhas, pois, medo algum”. O Evangelista disse-lhe também que algum dia o menino partiria para terras remotas, onde haveria de ser erigidos templos e altares em sua honra. Depois disso continuou a aparecer-lhe com frequência e com ele conversar.
Entretido com Deus e seus santos nessa vida recolhida, virtuosa, calma e aprazível, João Macias acabava de completar 20 anos de idade. Em 1619, levado por um impulso interior, foi para Jerez de la Frontera e depois para Sevilha, de onde partiam as grandes empresas para o Novo Mundo. Lá entrou para o serviço de um mercador que fazia negócios nas Américas, acompanhado-o numa de suas viagens. Esta durou 49 dias, atracando finalmente o navio no porto de Cartagena na Colômbia. Ali o mercador, sob o pretexto de que João Macias não era suficientemente instruído para o serviço de que necessitava, abandonou-o à sua própria sorte.
O que fazer? Não tendo outra profissão que a de pastor, pouco comum na América, João Macias ficou “ao Deus dará”. Levado mais uma vez por um impulso interior decidiu ir para Lima, capital do Peru.
Foram 900 léguas percorridas a pé ou em lombo de burro através das solidões, passando por privações incríveis, até chegar a seu destino depois de quatro meses e meio de viagem.
Ali, dedicou-se ao trabalho no campo nos arredores de Lima durante dois anos.
O tempo passava, João Macias estava para fazer 36 anos e ainda não encontrara sua vocação definitiva. Foi então que o Céu o inspirou a entrar na Ordem dominicana como irmão leigo.
No noviciado, João Macías foi modelo de observância. Julgado digno de fazer a profissão solene, esta ocorreu no dia 23 de janeiro de 1623. Foi então designado para a portaria do convento, apesar de sua propensão para a vida contemplativa. Durante 20 anos esse foi o teatro de sua ardente caridade.
Começou então a trilhar a via das mortificações e austeridades. Não concedia a seu corpo senão o absolutamente necessário para não morrer. Disciplinava-se diariamente, passava em oração quase todas as noites, e levava rudes cilícios. Sua cela era muito pobre: um estrado de madeira coberto com couro de boi por cama, uma cadeira rústica e uma arca. O único adorno do aposento era uma tela representando Nossa Senhora de Belém.
A íntima união com Deus deste irmão leigo manifestava-se em fatos extraordinários. Por exemplo, no momento da elevação da Sagrada Hóstia, na Missa conventual, ele não precisava estar presente para adorar a Deus-hóstia, pois contemplava milagrosamente da portaria o que se passava na igreja, apesar das várias paredes intermediárias.
Certa noite em que a comunidade rezava o ofício no coro, o convento foi sacudido por violento terremoto. Os religiosos correram para o jardim do claustro, considerado como o lugar mais seguro. Frei João corria também quando uma voz, vinda do altar de Nossa Senhora do Rosário, chamou-o pelo nome:
“Frei João, aonde vais?”.
Respondeu ele: “Estou fugindo, como os demais, dos rigores de vosso divino Filho”.
Nossa Senhora então lhe disse: “Regressa e estejas tranquilo, pois aqui estou eu”.
Voltando para junto do altar, Frei João Macías pediu fervorosamente à Virgem que se compadecesse do povo cristão. Imediatamente cessou o tremor de terra.
Certa noite em que rezava junto ao altar de Nossa Senhora, ouviu golpes que uma mão invisível dava sobre o altar. Sobressaltado, viu então um vulto rodeado de chamas que lhe disse:
“Sou frei João Sayago, que acabo de morrer e necessito muito de tuas orações e de teu auxílio. Para que, satisfazendo assim a justiça divina, saia destas penas expiatórias”.
Este frade vivia no mosteiro do Santíssimo Rosário, tendo expirado à mesma hora em que apareceu ao santo. Alguns dias depois tornou a aparecer rodeado de luz, dizendo que a Virgem bendita o havia tirado do Purgatório graças às orações e penitências de Frei João Macías.
Ao morrer, São João de Macías acabou por confessar que havia libertado um milhão e 400 mil almas do Purgatório!
O prodigioso burrico provedor
Para poder socorrer o convento e seus pobres, Frei João Macias servia-se de um expediente muito prático: enviava todos os dias às ruas de Lima um burrinho carregado com dois grandes cestos para recolher esmolas, sem condutor nem guia. O animal desempenhava-se exemplarmente deste ofício, dirigindo-se aos lugares a que estava acostumado. Ao chegar à porta da mercearia ou casa particular onde deveria receber esmola, parava e não se movia até que alguém pusesse no cesto a esmola combinada. Desse modo o burrinho atravessava toda a cidade. Como todos já o conheciam, enchiam seus cestos com esmolas. Ninguém se atrevia a tirar nada, pois o animal sabia defender com mordidas e coices as doações recebidas.
Todos os dias às cinco da manhã, depois de tocar a alvorada, São João Macias levava para a cozinha os alimentos destinados à comida dos pobres.
Depois, por volta do meio-dia, começava a distribuir as refeições aos necessitados. Para os sacerdotes e pessoas graúdas caídas em pobreza, havia um refeitório reservado, onde o santo os servia ajoelhados. Aos pobres “envergonhados” (em geral pessoas de alta condição social que haviam caído na miséria) enviava secretamente a comida com alguma esmola. Não descuidava também dos enfermos, aos quais, além da comida, enviava remédios. Sua imensa caridade estendia-se às viúvas, aos órfãos e a outros desamparados.
Apesar da multidão crescente de pobres, e de o convento não ser rico para atender a tantas demandas, nunca faltava comida, pois esta era milagrosamente aumentada segundo as necessidades.
São João Macias dividia a reza do Rosário em três partes: uma pelas almas do Purgatório — que muitas vezes vinham pedir a esmola de suas preces —, outra pelos religiosos do convento, e a terceira por seus parentes.
Faleceu no dia 18 de setembro de 1645, aos 60 anos de idade.
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