quarta-feira, 24 de agosto de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Realizai as maravilhas que operastes”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Espírito é dom
 
Desde o início do mundo, o Espírito paira como “vento que sopra onde quer e ouves o seu ruído mas não sabes de onde vem e nem para onde vai” (Jo 3,8). Ele está sempre presente no caminho da salvação, até fazer chegar o Verbo de Deus, o Filho, a ser homem e até constituí-lo Senhor na glória com o Pai. Em Pentecostes, acontece um começo novo. Agora Ele é difundido pelo Pai e por Cristo. Ele é o Espírito de Jesus e o poder de sua ressurreição. Ele se comunica como uma pessoa. Jesus dá o Espírito como dom, como na Crisma dizemos: “Recebe o Espírito Santo como dom”. Toda energia de vida dada aos fiéis pelo Espírito, resume em si as maravilhas operadas pela salvação da humanidade. É como seacontecesse toda a História da Salvação em cada um de forma total. O Espírito Santo faz memória do dom de Deus para a Redenção. O Espírito realiza nos fiéis o que realizou em Cristo, a ressurreição. O Pai o Ressuscitou pelo Espírito. O Espírito revela o Cristo ressuscitado. Nós temos essa ressurreição no sacramento do Batismo e sua continuação nos demais sacramentos. Participamos do dom do Espírito que é sem medida (Jo 3,34). 
A quem perdoardes os pecados 
Os discípulos tornam-se apóstolos, palavra que vem do verbo enviar. São enviados, à missão, como Jesus o foi, pelo mesmo Espírito do Pai. Lembramos o início do evangelho de Lucas que diz “impelido pelo Espírito Santo” (Mc 1,12), pois Jesus se movia por Ele. Eles são penetrados pelo Espírito e se tornam, mesmo na fragilidade, participantes da natureza divina (1Pd 1,4), o que é concedido a todos nós. O Espírito gera o Corpo de Cristo que é a Igreja, iniciando assim uma nova criação. Cristo não é só uma presença, mas Ele começa a recapitular em si todas as coisas, realizando o projeto do Pai (Ef 1,10). Quando Jesus dá o Espírito, diz: “Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 21,22-23), não está se referindo a uma confissãozinha cochichada, mas à grande reconciliação de todo o cosmos, pois o pecado é universal. 
O Espírito gera um corpo novo 
A oração da missa implora que o Espírito continue agindo no mundo. O Espírito faz a Igreja. Nessa nova comunidade, Ele é o Espírito do Ressuscitado que convoca, reúne e envia. Faz a Igreja apostólica. A Igreja não é só uma estrutura hierárquica. Ela é fonte visível e acessível, onde todos recebem a vida, pois ela é o Corpo de Cristo que continua. Não podemos ter um relacionamento só devocional com o Espírito. Não podemos também ter a Igreja baseada unicamente no aspecto sociedade visível, pois ela é a irrupção das coisas de Deus. Do corpo de Cristo ressuscitado jorra a vida em nosso mundo. No seio de Maria o Espírito fez do Verbo Carne. No dia de Pentecostes penetra a carne de toda humanidade e faz dessa carne, corpo de Cristo. Cada fiel vive e está unido ao corpo. Não somos um amontoado de gente que chamamos de comunidade. Temos uma individualidade que nos une à comunidade. O Espírito suscitou a fé no coração dos discípulos e os uniu ao Corpo de Cristo. Nasceu assim a Igreja. Essa Igreja tem a presença do Espírito permanentemente. Não temos o que aumentar, mas acolher. Não podemos ter o Espírito como um pronto socorro de curas e dons maravilhosos. Por isso pedimos que Ele realize em nós hoje as maravilhas que fez no início da pregação da Igreja. Essas maravilhas são a revelação, para nós, de Jesus Ressuscitado e nossa capacidade de anunciá-lo pela palavra e testemunho, unidos ao Espírito revelador. 
Leituras: Atos, 2,1-11; Salmo 103; 
1 Cor 12,3b-7.12-13; João 20,19-23. 
1. O Espírito está presente no caminho da salvação. Ele conduziu a história culminando com sua ação de levar o Filho a se encarnar. Sua presença em Pentecostes é o começo novo no qual encarna Cristo no novo corpo que é formado pelos que creram em Jesus. O Espírito dado pelo Pai revela o Cristo Ressuscitado. Iniciamos essa ressurreição no Batismo e continuamos na Igreja pelos sacramentos. 
2. Os discípulos são enviados pelo Espírito para a grande reconciliação do universo e de cada coração. Essa reconciliação não pode ser reduzida a uma confissão cochichada. Realiza o projeto de recapitular todas as coisas em Cristo. 
3. O Espírito faz a Igreja. Ela não é só estrutura. É fonte visível e acessível. Participa da irrupção de Deus no mundo. Assim como age na encarnação do Verbo, o Espírito age também no corpo da Igreja, unida a Cristo. O Espírito não pode ser tido somente do ponto individual, devocional. As maravilhas que queremos são a revelação de Jesus ressuscitado para nós e nossa capacidade de acolhê-lO.
Organizando a confusão 
Ao anoitecer daquele primeiro dia, Jesus se manifesta aos discípulos. Imagina a alegria daqueles apavorados seguidores seus. Dá-lhes a paz tão desejada. Naquele momento Jesus sopra sobre eles dizendo: Recebei o Espírito Santo. João põe assim a vinda do Espírito unida à Ressurreição, formando um único mistério. Lucas, seguindo outro pensamento, coloca a vinda do Espírito 50 dias depois, o que não muda nada. Lembramos a torre de Babel, quando as línguas se confundiram. Agora há uma compreensão do Evangelho de Jesus quando há diversidade de línguas. Esse Espírito anda precisando vir por aqui, pois a gente não está se entendendo.
Homilia da Solenidade de Pentecostes
EM MAIO DE 2007

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