segunda-feira, 8 de agosto de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Domingo de Ramos”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Da glória à Paixão
 
A celebração do Domingos de Ramos é antiga na Igreja. Etéria, monja espanhola que viajou pela Terra Santa, deixou-nos um documento, chamado Diário de Viagem (380), que escreve sobre domingo de Ramos. A cerimônia corresponde ao que fazemos atualmente. A Igreja de Jerusalém, desse tempo, é mãe e mestra de liturgia. Sua liturgia influenciou profundamente a Igreja. O aspecto geográfico é uma característica dessa liturgia, isto é, liga-se aos lugares onde aconteceram aqueles fatos da vida de Jesus. Em Jerusalém o domingo de Ramos tem um caráter de alegria, sobretudo pela predominância da participação das crianças, conforme se canta: “Os filhos dos hebreus, com ramos de oliveira, foram ao encontro do Senhor, clamando: ‘Hosana ao Filho de Davi!’”. A liturgia antiquíssima dos maronitas, no Líbano, faz nesse dia uma festa para as crianças. Esse caráter festivo indica a ressurreição. Jesus entra em Jerusalém como o rei prometido. Vem, como Davi, montado em um jumento manso, sem prepotência e destruição. É o prenúncio de sua glorificação. O povo o acolhe. Mas é recusado pelos chefes: “Jesus chorou sobre Jerusalém dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz!” (Lc 19,42). Sua vida foi uma permanente subida a Jerusalém para sua glorificação. 
Da humilhação à glória 
A primeira parte da liturgia é festiva, a segunda está voltada à Paixão de Cristo, como podemos ler em Isaias 50,4-7, sobre o servo sofredor que, mesmo maltratado, não perde a confiança em Deus. Mesmo destruído, tem certeza de que “não sairá humilhado”. O próprio salmo 21 reza: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes” é a expressão do sentimento de Jesus diante de seu sofrimento e sua morte. Por outro lado tem a certeza do socorro de Deus: “Ele não desprezou nem desdenhou a dor do aflito, mas o atendeu quando gritou por socorro” (25). Paulo, explica-nos o sentido desse sofrimento dizendo que a humilhação de Cristo em sua encarnação e morte tem o sentido entrega que lhe dá a ressurreição. A glorificação de Cristo passa primeiro pela cruz. “Por isso Deus O exaltou: Jesus é o Senhor para a glória de Deus Pai” (Fl 2,9.11). A liturgia faz uma síntese do mistério Pascal de Cristo. Em sua subida ao Pai, tem sua descida até os infernos na humilhação, para chegar à maior glorificação. 
Jesus, lembra-te de mim 
Em seu sofrimento, encontra uma diversidade muito grande de pessoas que expressam todo o universo das dores. Temos a traição de Judas, a negação de Pedro e seu arrependimento, os soldados que o prendem e esbofeteiam, seus inimigos que O condenam, Pilatos que fraqueja, Herodes que escarnece, seus flageladores, Simão que O ajuda, os que crucificam, os que ofendem, o povo que assiste ao espetáculo... A dor! No meio desse mar de lama do mundo, surge a beleza de uma flor: “Senhor, lembra-te de mim quando estiveres em teu Reino” (Lc 22,49). Era o ladrão que era bom. Ele é o grito de uma humanidade humilhada no pecado por culpa sua ou provocados pelos males do mundo. Jesus responde: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Podemos imaginar o que significou para Jesus aquela mão, também ensanguentada, que o acaricia com fé, no meio de tanta dor. Roubou a vida toda e no fim, rouba o Céu, como se diz com humor. Que prece bonita podemos fazer em nossa miséria e dor. E a mãe? Está ali. 
Leituras: Lucas 19,28-40; Isaías 50,4-7; 
Sl 21; Filipenses 2,6-11, Lucas 23,1-49 
1. A celebração de Ramos é antiga na história da Igreja. A Igreja de Jerusalém foi mãe e mestra de liturgia. Sua liturgia tem também a característica geográfica (única na Igreja): está ligada aos lugares onde aconteceram os fatos. É uma liturgia alegre, que envolve sobretudo as crianças que aclamam “Hosana –viva Deus). Jesus vem manso, não como um destruidor. É o prenúncio da glorificação. Jesus tenta conquistar Jerusalém para a paz. Mas esta não o reconheceu.
2. A primeira parte da liturgia é festiva, a segunda reflete sobre o sofrimento redentor, como lemos em Isaias, na figura do Servo Sofredor, em Filipenses e no Evangelho da Paixão. O salmo 21 expressa o sentimento de Jesus: “Meu Deus, porque me abandonastes?” Mas Jesus tem confiança no Pai. Paulo explica que a aniquilação de Jesus é o princípio de sua glorificação pela ressurreição. 
3. Os sofrimentos de Jesus são minorados pelas palavras de fé do ladrão. Ele clama: “Senhor, lembra-te de mim, quando estiveres em teu Reino”. “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. É a mão ensangüentada também que o acaricia pela fé. 
Abre bem os ouvidos 
Jesus vai ter uma semana cheia. Imagina que, em tão poucos dias, vai viver a glória, a intimidade tão feliz com os seus, a humilhação e derrota, o nada da morte e a explosão da ressurreição. Começou com um humilde jumento que levava o rei glorioso e terminou como Senhor da Vida. A humildade de sua encarnação e morte só se explica pela capacidade de ouvir o Pai. Diz o profeta: “Ele me abriu os ouvi para prestar atenção como discípulo”. Faremos o mesmo caminho abrindo os ouvidos. 
Homilia do Domingo de Ramos
EM ABRIL DE 2007

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