terça-feira, 9 de agosto de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Amou-os até o fim”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Consagra-os na verdade
 
Estamos iniciando o Tríduo Sacro a partir da missa de Quinta-Feira Santa até Domingo de Páscoa ao entardecer. São os três dias sagrados nos quais celebramos o Mistério Pascal de Cristo, isto é, sua passagem para o Pai. Três dias para um único acontecimento em diversos momentos. Na Quinta-Feira Santa nós nos detemos no acontecimento da Ceia do Senhor. Ela não é um simples jantar. Jesus celebra a ceia pascal judaica, momento resume que em si a história do passado do povo de Deus que recebe a liberdade. Na ceia Jesus antecipa, de forma ritual, sua morte e ressurreição. Esta ceia nos é dada como um memorial, não de uma libertação passada (Ex 12,1-14), que era profética, mas da verdadeira e total libertação realizada por Ele. Para que sua entrega ao Pai continuasse, Jesus manda que seus discípulos a realizem em Sua memória. Ele não manda simplesmente celebrar uma cerimônia, mas tornar presente sua vida, morte e ressurreição que aconteceram. Por isso reza “consagra-os na verdade”. Jesus faz um gesto: durante a ceia, tirou o manto, cingiu-se com uma toalha, tomou uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e enxugá-los com a toalha. Há uma interrupção no cerimonial. Tirar o manto significa sua morte. Pedro recusa. Então Jesus diz a Pedro, “Se Eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 12.8). A consagração dos apóstolos, união a Cristo, reservando-os para Deus, não é com o óleo, mas com o serviço humilde de sua Paixão. Jesus faz os discípulos participarem daquilo que Ele é: “Se Eu que SOU Mestre e Senhor vos lavei os pés, deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz” (14-15). Dentro da Ceia Pascal, eles recebem de Jesus a ordem de continuar seu exemplo, quer dizer, sua vida e sua missão. Sua vida será pascal, pois unidos a Cristo.
Proclamando a morte do Senhor 
O lava-pés, gesto fundamental da ceia, passou a ser visto, já desde o século IV como uma comovente demonstração de humildade. Mas é mais do que isso. Quando Jesus diz “Fazei isto em memória de mim” ou “dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz vós o façais também”, está a nos dar a ordem de prolongar pelos séculos seu gesto e sua intenção. No gesto de lavar os pés dos discípulos e repartir o pão, Jesus está a enviá-los, como rezou: “Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17,18). Paulo, em 1Cor 11,23-26, referindo-se à Eucaristia, escreve: “O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti” (23). A Tradição da Igreja refere-se, não só a um ritual a realizar, mas à transmissão do mistério da Redenção que se atua na liturgia e continua na vida dos cristãos. Quanto mais seguimos “seu exemplo”, mais presente é sua redenção. 
Páscoa – Passagem do Senhor 
A palavra Páscoa não tem uma explicação clara. São muitos elementos de tradições que foram se acrescentando com o tempo. Era uma festa dos nômades do deserto que sacrificavam cordeirinhos e passavam o sangue nos mourões dos cercados para afastar maus espíritos. Vemos aí a ligação com o sangue passado nas portas das casas dos judeus. É um sentido de proteção contra o mal. A essa tradição cultural se junta a libertação do Egito, a morte dos inimigos, a Lei dada no Sinai e a entrada na terra prometida. Jesus não se distancia dessas tradições, mas coloca algo novo: Quem salva agora é seu sangue. Sua passagem por nós é libertadora do mal e salvadora do inimigo. Ele faz conosco a nova aliança e nos introduz na terra nova que é seu Reino.
Leituras:Êxodo12,1-8.11-14,Salmo115; 
1Coríntios 11,23-26;João 13,1-15. 
1. Iniciamos o Tríduo Sacro. É um único acontecimento celebrado em diversos momentos. Na Quinta-Feira Santa nós nos detemos no acontecimento da Ceia do Senhor. Jesus celebra a ceia pascal judaica que resume em si a história do povo. Jesus, nela, antecipa, de forma ritual, sua morte e ressurreição. A ceia de Jesus celebra a salvação. Ele manda os discípulos realizarem a ceia em Sua memória. Não manda celebrar uma cerimônia, mas tornar presente o acontecimento central de sua vida. Nela Ele consagra os discípulos. Tirar o manto significa morte. Ele introduz os discípulos na mesma realidade que Ele vive. 
2. O lava-pés não é só um gesto de humildade. A ordem de fazer esse gesto e também de celebrar a fração do pão, permanece pelos séculos. Jesus, enviado pelo Pai, envia seus discípulos com a mesma missão de lavar os pés dos outros e partir o pão. 
3. A celebração da Páscoa reúne muitos elementos das tradições que se acumularam através da história. Jesus não se distancia dessas tradições, mas cria, nesse ritual antigo, algo completamente novo: Quem salva é seu sangue. Sua passagem por nós é libertadora do mal e salvadora do inimigo. Ele faz conosco a nova aliança e nos introduz na terra nova que é seu Reino. 
Homilia da Quinta-Feira Santa
EM ABRIL DE 2007

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