Santo Estevão foi o sucessor de São Lúcio, cuja história não muito difere da sua em relação às fortes perseguições sofridas, também em curto espaço de tempo (2 anos), infligidas também pelo imperador Valeriano. Sua dedicação e empenho em manter a mesma linha de seu predecessor, ou seja, inflexibilidade nas questões relativas à sua fé e ao seu fiel apostolado, fizeram que da mesma forma, recebesse a coroa do martírio pelas mãos do imperador tirano.
Filho de Júlio, nasceu no final do segundo século e, apesar de haver poucos relatos acerca da sua infância, todas as evidências confirmam que pertencia nesta época já a uma família cristã. Sua dedicação aos estudos das letras humanas e divinas, particularmente à vida dos Santos, fez com que em curto espaço de tempo, atingisse grau de especial distinção entre os fiéis de Roma. Era jovem quando foi admitido ao clero. Os Papas São Cornélio e São Lúcio, que viriam a se tornar seus predecessores, julgaram que não se podia deixar escondida aquela brilhante tocha de sabedoria. Foi ordenado diácono para em seguida ser administrador dos bens eclesiásticos, ao mesmo tempo que recebeu jurisdição vicarial.
Logo que assumiu a cadeira de São Pedro, empenhou-se valorosamente no sentido de extirpar a chama da heresia, defendendo em primeiro lugar os sagrados cânones e as orações para culto divino. Persistia o erro da heresia novaciana, cuja evolução Santo Estevão acompanhou de perto desde os tempos de São Cornélio que, após decisão conciliar, excomungou e declarou Novato antipapa. As raízes da heresia, apesar disso, alastraram-se danosamente. Foi certamente por sua influência que São Cornélio foi decapitado. São Lúcio, em apenas oito meses, lutou implacavelmente contra ela durante seu pontificado, de apenas oito meses.
São Cipriano, bispo de Cartago, que desde os tempos de São Cornélio, lutou incansavelmente contra a maligna heresia, foi uma grande coluna de apoio aos seus sucessores Lúcio e agora Estevão. Os erros doutrinários eram já partilhados por muitos membros do clero, não só do ocidente, mas também do oriente. Apesar da condenação dos erros novacianos em diversos outros concílios, com especial empenho de São Cipriano e também de São Dionísio, bispo de Alexandria, a chama do erro, com enganoso pretexto de “reforma”, fazia que muitos fiéis, em debandada, apoiassem as ideias erróneas. Foi, sem dúvida, uma triste, porém, necessária fase purgativa no seio da Igreja. Seus sectários afirmavam que não poderia, em hipótese alguma, serem admitidos à Comunhão, qualquer pessoa que tivesse caído em crime de idolatria, independente de arrependimento. E que todo o fiel que estivesse em pecado mortal, só o poderia ser admitido, caso fosse baptizado novamente. Estenderam esta proibição à todo o género de culpas e tentavam, com seus actos de insubordinação regional, comprometer o poder de “atar e desatar”, enfim o poder e autoridade divina do Papa
Sucede que, os gentis, percebendo as funestas divisões e balbúrdias promovidas pelos hereges, encontraram oportunidade exacta para intensificar as perseguições, incitando os imperadores e magistrados à moverem guerra contra a Igreja, mediante diversas artimanhas e articulações.
Alastraram-se documentos libeláticos (falsos certificados de sacrifícios aos deuses), com os quais muitos cristãos covardes o portavam para garantir seu meio de vida, diante das perseguições imperiais. Tais documentos alastraram-se no meio do episcopado, inclusive, foram denunciados de libeláticos Basilides - bispo de Astorga, na Espanha, e Marcial, bispo de Márida, além da denúncia de diversos outros crimes. Estes, apressando-se pelas denúncias, que culminariam na perda da mitra, dirigiram-se ao Papa e fizeram o que puderam para convencê-lo que tratavam-se de calúnias. O Papa Estevão recebeu-os com tanto amor e benignidade, que deram-se por restituídos à cadeira episcopal. Só que, São Cipriano e os bispos da Espanha, atentos à ardilosa astúcia de Basilides e Marcial, cientificaram o Papa dos crimes por eles cometidos, motivo pelo qual o Papa baniu-os e manteve-se inflexível em sua decisão.
Porém, o que dá maior ideia do mérito do nosso Santo é a célebre disputa que sucedeu entre os mais santos bispos da Igreja, sobre o valor da nulidade do baptismo ministrado por hereges. Parece que esta disputa teve início na Igreja de Cartago, onde São Cipriano, baseando-se na prática de seu predecessor Agripino, ensinava que era nulo o baptismo fora da Igreja Católica e, por conseguinte, que se deviam rebaptizar todos os hereges que se reconciliavam com ela. Seguiram esta mesma opinião os bispos do oriente, que se juntaram em Icónio, especialmente no oriente como na África. Entretanto, Santo Estevão a condenou, e declarou que a respeito dos que voltavam ao grémio da Igreja, de qualquer seita que fossem, nada se devia inovar, senão seguir precisamente a Tradição, que era impor-lhes as mãos pela penitência, sem rebaptizá-los, uma vez que tivessem sido baptizados em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e que por outra parte não se tivesse omitido coisa alguma das essenciais ao Baptismo.
A muito custo São Cipriano mudou de parecer. Convocou muitos Concílios que confirmara sua opinião, e em virtude disso, escreveu ao Papa. O mesmo fizeram os bispos do oriente, porém, Santo Estevão, guiado pelo Espírito Santo, que governa sempre a Igreja, escreveu a São Cipriano e aos bispos da Cilícia, da Capadócia e da Galácia, que se separaria de sua comunhão, se persistissem suas opiniões sobre o baptismo dos hereges. Com o tempo, se reduziram todos os bispos do oriente à decisão do Pontífice, contribuindo não pouco a este feliz sucesso São Dionísio, Bispo de Alexandria. Maior foi a resistência dos bispos africanos; porém, no final toda a Igreja abraçou o que ficou definido por Santo Estevão. Também teve o consolo de saber por carta de São Dionísio Alexandrino que, em geral, todo o oriente havia abandonado o partido dos novacianos, unindo-se com Roma; ao mesmo tempo que participava desta boa notícia, se congratula com o Santo Papa dos socorros espirituais e temporais com que ajudava os fiéis da Síria e Arábia; prova evidente do muito que se estendia sua caridade e vigilância pastoral.
Publicou o Imperador um édito pelo qual confiscava os bens dos cristãos, e os concedia que os denunciasse. Por esta ocasião, convocou o Papa ao clero e ao povo; e falou com tanta energia e com tanta eficácia sobre a vaidade dos bens desta vida, que um presbítero chamado Bono, arrebatado de santo fervor, exclamou em nome de todos, que não só estavam prontos a perder todos os seus bens, mas a padecer os mais cruéis tormentos, e a dar a vida por Jesus Cristo, declaração que foi recebida por aplauso universal.
Acendido o fogo da perseguição, é indizível o ardor com que todos de dispunham ao martírio. O Santo Papa andava de casa em casa, e passava os dias em lugares subterrâneos, oferecendo o Santo Sacrifício e dando aos fiéis a Sagrada Comunhão. Em um só dia baptizou 180 catecúmenos, administrando-lhes o sacramento da confirmação, dizem as atas, ofereceu por eles o sacrifício Incruento, sustentando-os com o Pão dos fortes, e poucos dias depois quase todos mereceram receber a coroa do martírio.
Santo Estevão convencionou o que mais urgia na actual constituição dos negócios para o governo da Igreja, empossando 3 presbíteros, 7 diáconos e 16 clérigos, a quem encomendou a custódia dos vasos sagrados e a distribuição das esmolas. Nemésio, tribuno militar, andava em busca do Santo Papa, por ter ouvido que era um homem extraordinário e que fazia grandes milagres. Tinha o tribuno uma filha única, cega de nascença, e suplicou a Estevão que desse vista à sua filha. “O farei, respondeu o Santo, porém, com a condição de que há de crer em Jesus Cristo, em cujo nome e virtude hei de fazer o milagre”. Sem deter-se um ponto, o prometeu Nemésio, e assegurando com juramento que se faria cristão, acreditou em Jesus e pediu o Baptismo. Instruindo-lhe o Papa e baptizando-o juntamente com sua filha, o qual recobrou a vista logo que recebeu o Baptismo, se lhe deu o nome de Lucila.
À vista deste milagre, se baptizaram maravilhados 63 pagãos. Nemésio e Lucila foram presos, como também Semprónio, seu primeiro secretário, a quem o Tribuno Olimpo ordenou que declarasse o estado de todos os bens de seu amo. Respondeu o fiel criado ao Tribuno que não haviam bens, já que tudo havia sido repartido entre os pobres. “Então tu também és cristão como teu amo?”, replicou Olimpo, que se chamava o juiz. “Esta sorte tenho, e me orgulho muito dela”, respondeu Semprónio. Irritado, Olimpo fez trazer uma estátua do deus Marte, e mandou a Semprónio em nome daquela falsa divindade, que declarasse os tesouros de seu amo. Olhando Semprónio com indignação ao ídolo, exclamou: “Confunda-te Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, e faça-te em pedaços neste mesmo instante”. Imediatamente caiu o ídolo a seus pés reduzido a pó. Assombrou a Olimpo o milagre, e abrindo os olhos da alma, creu que todos seus deuses eram quimeras, e que não havia outro verdadeiro Deus, senão Jesus Cristo. Descobriu-se a Exupéria, sua mulher, que interiormente era cristã; esta o confirmou sobre suas reflexões, e lhe aconselhou que se convertesse. O fez com toda sua família, atendidos por Santo Estevão que, informado sobre o que se passava, instruiu-os, baptizou-os e exortou-os à perseverança.
Deu-se grande alvoroço em Roma pela conversão de famílias tão conhecidas; noticiado o Imperador, cheio de ira, mandou que a todos lhes tirassem a vida no mesmo dia, tendo o Santo Papa o consolo de dar a todos sepultura. Da mesma sorte lograram doze clérigos aos quais, à frente, estava o presbítero Bono. Ordenou o Imperador que fosse preso Santo Estevão, e quis ver-lhe. Perguntou-lhe sem delongas se era aquele sedicioso que perturbava ao Estado, desviando o povo do culto devido aos deuses do Império. “Senhor, respondeu Estevão, eu não perturbo o Estado; só exorto ao povo que não renda culto aos demónios, e que adore ao verdadeiro Deus, a quem unicamente se lhe deve adorar”. “Ímpio, exclamou o imperador, dessa blasfémia que acabas de proferir virá tua morte!” E voltando-se aos soldados de sua guarda, acrescentou: “Quero que seja conduzido ao templo do deus Marte, e que ali seja degolado e oferecido em sacrifício”.
Executou-se a ordem, mas tão logo foi conduzido, o céu rompeu em trovões, relâmpagos e raios; caiu por terra o templo do deus Marte, e fugiram todos os pagãos. Ficou só Estevão com as pessoas que o haviam seguido. Retirou-se com eles a um lugar onde costumavam juntar-se e ofereceu o Divino Sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus. Tão logo acabou de celebrá-lo, os soldados que o procuravam por todas as partes entraram e o degolaram sobre sua cadeira pontifical, quando exortava os cristãos ao martírio. Sucedeu isto em 2 de agosto de 257, e seu santo corpo, junto com a cadeira em que foi sacrificado, toda banhada de sangue, foi enterrado pelos cristãos no Cemitério de Calixto. Trasladou-se sua cabeça a Colónia, onde é singularmente venerada.
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