Estamos acostumados a pensar a Igreja sob o ponto de vista de estrutura. No fundo, para muita gente, mesmo que não diga, Igreja é o padre e a turma que o cerca. Talvez se pense em Bispos e Papa. Certo! Há uma estrutura, uma organização. Atrás dessas verdades há algo importante: o povo de Deus, composto de pessoas vivas que tem um nome, moram em um lugar, possuem uma fé, uma dedicação a Deus e à comunidade. Esses são os seguidores de Jesus. A Igreja é feita de pessoas. As estruturas são necessárias e importantes. É como uma casa que não é feita só das colunas e vigas, mas também de tijolinhos, e até de grãozinhos de areia. Mas o fundamental é o seguimento de Jesus. Ser como Jesus era. Todos somos chamados a contemplar Jesus e viver como Ele ensinou e viveu. Jesus não impõe o modo como Ele escolheu para viver, pois foi celibatário, viveu vida de pregador que girava pelas cidades. Como viveu? Cumprindo a vontade do Pai, coerente com sua pregação. Jesus era leigo, não sacerdote do templo. Não era da tribo de Levi encarregada do culto, nem da família de Aarão de onde vinham os sacerdotes. A vida cristã se espelha em Jesus. É nele que vamos fundamentar o sacerdócio do povo de Deus. Vivia para o Pai e sempre em união ao povo. Viver o Evangelho e implantá-lo no mundo é a vida de todo cristão.
Não os tires do mundo
A tendência da espiritualidade foi sempre tirar as pessoas do mundo porque ele é mau. Diz certa espiritualidade: “quanto mais fui para o meio dos homens, menos homem voltei”. Por que não dizemos: ‘quanto mais fui para o meio das pessoas, mas humanas e cristãs elas se tornaram?’ O mundo não é um inimigo. João fala do mundo como perigo, mas o mundo do mal. O mundo das pessoas foi santificado pela encarnação de Jesus. A Igreja perde muito quando se fecha nas sacristias, nos conventos, nas estruturas e nas piedades vazias afastando-se do meio das pessoas. Perde a capacidade de ser fermento no meio da massa (Mt 13,33), sal que dá gosto e luz que ilumina (Mt 5,13.16.22). Uma igreja cheia com mil pessoas é linda, mas é doloroso, quando pensamos que fora há milhões que não conhecem Jesus nem vivem o Evangelho. O lugar do cristão é no meio do povo, lá, onde não chega o padre ou o bispo, ou a freira. O mundo é o templo do povo de Deus. Ali se faz anunciador do evangelho pelo seu testemunho de vida e palavra; faz-se pastor que orienta o mundo para Deus; faz-se sacerdote quando une esse mundo a Deus. Jesus disse “Não peço que os tire do mundo” (Jo 17,15), mas “ide pelo mundo e fazei discípulos meus todas as nações, batizando-as... e ensinado-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20)
Mas livra-os do mal
Estando no meio do mundo podemos ser atingidos pelo espírito do Maligno (Jo 17,15). É curioso como cristãos se deixam levar para o mal com facilidade.Viver o Evangelho será a maneira de purificar o mal que distancia o mundo de Deus. Jesus ensina aos discípulos “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16). O sacerdócio do povo de Deus viverá nessa realidade e transformará as estruturas diabólicas do mundo em Reino de Deus. Para viver a espiritualidade desse sacerdócio o cristão deve estar no mundo e transformá-lo. Depois sim, ir à igreja para celebrar a vitória. A primeira igreja do cristão é sua família, seu trabalho, seu divertimento. E depois, então, celebrar a comunhão dos irmãos.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JANEIRO DE 2007
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