segunda-feira, 25 de julho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “É fácil ser feliz”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
O que vale a pena
 
Jesus passara a noite em oração. O Senhor do mundo precisa conversar com o seu Pai para fazer suas escolhas. Os apóstolos nascem do coração do Pai, colhidos pelo Filho. Não é assim que tomamos decisões. No evangelho de Mateus Jesus sobe o monte e seus discípulos se achegam dele. É o Moisés legislador da nova lei. Em Lucas, Jesus desce à planície e conduz os apóstolos que escolheu a estarem com o povo. É lá que vai proclamar a nova lei. Lucas usa o material escrito por Mateus. São 4 bem-aventuranças, e quatro infelicidades: “ai de vós...!” Lucas proclama: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”. A comunidade de Lucas é de fato pobre. O Reino de Deus é Cristo e o Espírito Santo. “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). O pobre de Lucas é aquele para o qual Deus é a riqueza. Felizes são os que se deixam fazer pobres por Deus. As riquezas são os bens de Deus. Coitados dos ricos, porque não querendo ter Deus, se fazem miseráveis, pois os bens passam. À bem-aventurança da fome promete a saciedade no banquete dos pobres. Lembramos a parábola dos convidados que recusam o banquete e são convidados os pobres (Lc 14,15-24). A fartura não sacia o coração humano. A terceira proclamação refere-se aos que choram, porque serão consolados. João escreve: “E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 7,17; Is 25,8). Deus vai dar motivo para sorrir. Esse motivo é a participação da alegria divina. “Entra para a alegria do teu Senhor!” (Mt 25,21). As lágrimas dos infelizes, não vêm de vingança, mas do amargor por ter saciado sua sede no gozo que passa. A quarta bem-aventurança é a dor e a perseguição. Na ceia Jesus afirma: “Se eles me perseguiram, perseguirão também a vós” (Jo 15,20). Assim perseguiram os profetas. A recompensa será a mesma de Jesus: a glória do Pai. Os falsos profetas não dão sustento. Muitos vivem no afã de apoiar e correr atrás de quem prega o vazio da vida. Jesus também sofreu e muito para manter-se na verdade sem demagogia, como nos ensina Lucas. 
Ser como uma árvore 
Jeremias 17,5-8 e o salmo 1º retratam aquilo que é a síntese das opções humanas: buscar o vazio ou ter a confiança em Deus. O resultado é a vida que se esvai na falta de frutos e na sequidão, e a vitalidade e a abundância de frutos à beira d’água que tem sempre vida. Viver as bem-aventuranças é ser saciado pela Água da Vida, daquele rio que nasce do altar de Deus (Ap 22,1; Ez 47,1). A dimensão do vazio não gera vida. O salmo e o profeta anotam muito bem que a confiança em Deus, a fé em sua Palavra, a recusa em assentar-se com os malvados, a alegria de encontrar o prazer na lei de Deus, fazem do fiel uma pessoa consistente que o vento não leva (Sl 1). Sua vida frutifica em boas obras. 
Caminho de ressurreição
Paulo não está a comentar essas leituras, mas seu ensinamento sobre a ressurreição é denso e faz parte da fé primitiva. Sem a fé na ressurreição de Cristo, nossa fé é vã. Essa fé em Jesus não é para o momento. Lucas cita que os felizes são pobres, sedentos, dolorosos e perseguidos. Não esperem outra recompensa que a Ressurreição. Ela é a maior recompensa e traz em si tudo o que necessitamos. É para depois da morte, mas começa agora com a mudança das estruturas para uma vida digna para todos, mesmo para os que possuem, são felizes agora, riem agora, e são elogiados. Não se trata de condenação, mas de alerta para que se mude do vazio para a plenitude. 
Leituras: Jeremias 17,5-8; Salmo 1; 
1Coríntios 15,12.16-20; Lucas 6,17.20-26. 
1. Jesus passa a noite em oração para escolher os apóstolos. Desce à planície e faz o discurso inaugural ao povo, abrindo seu caminho de novo legislador. Jesus leva os apóstolos a seu campo – o povo. Lucas apresenta 4 bem-aventuranças e quatro caminhos de infelicidade. Felizes são os pobres, os que têm fome, os que choram, os odiados e os perseguidos. Lucas propõe a mudança: terão o Reino que é Cristo e o Espírito, serão saciados, receberão a alegria e terão a grande recompensa que é o Céu. Em contrapartida, os que foram ricos, saciados, que riram e que apoiam os profetas do vazio, sentirão o peso de sua escolha. 
2. A liturgia, dando a resposta às bem-aventuranças e a suas promessa, afirma por Jeremias e o salmo 1º que o justo é como a árvore plantada à beira d’água e tem consistência. Frutifica em boas obras. O ímpio, como a planta do deserto ou a palha, sem consistência. Não vale a pena. 
3. O grande fruto da vida bem-aventurada é a ressurreição. Sem fé na ressurreição , nossa fé é vã. Não podemos pensar uma ressurreição só após a morte. João afirma que quem crê tem a vida eterna já (Jo 6,45). Viver as bem-aventuranças é já ser saciado, consolado, premiado, mesmo no meio das dificuldades. O vazio da “más-aventuranças”, da infelicidade tem já sua recompensa: inconsistência e não dura. O pobre é bom não porque é pobre, mas porque sabe por sua riqueza em Deus. E quem põe sua riqueza em Deus, mesmo na abundância, é pobre. 
Mapa da mina 
Os olhos brilham diante de um mapa da mina. Embora essas minas sejam tão poucas, os olhos estão sempre brilhando. Jesus abre um mapa falso que conduz diretamente ao tesouro da vida. Como ter uma vida rica, saudável e feliz? Felizes os pobres de espírito, os que agora tem fome, os que choram, os que são perseguidos! Deles é o Reino, serão saciados, poderão rir e terão grande recompensa no Céu. É um tesouro. Os que escolhem o mapa falso, vão ser ricos, farturentos e muito divertidos. Mas não irão longe. O mapa não leva a nada. Jesus não quer a dor, nem a vida insuportável. Quer que encontremos a verdadeira estrada. 
Homilia do 6º Domingo do Tempo Comum
EM FEVEREIRO DE 2007

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