PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+) SACERDOTE REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR |
Jesus, em seu caminho, continua dando os fundamentos a todas as questões que atingem a vida humana. São três questões que Marcos apresenta no capítulo 10: o casamento, o dinheiro e o poder. Notemos que estão aí as três tentações de Jesus, que são as nossas, exemplificadas na vida das pessoas. Os fariseus apresentam uma dessas, fundamentados nas Sagradas Escrituras. Colocam uma questão complicada: “Pode o marido divorciar-se de sua mulher?” Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou nas Escrituras?” Responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la” (Mc 10,2). No Deuteronômio pode-se ler: “O marido que não ama mais sua mulher escreva seu repúdio, dê à mulher e a mande embora” (Dt 24,4). Jesus lembra o mandamento mais antigo, já da Criação: “Os dois serão uma só carne”. Passam os dois a ser a imagem de Deus e sua semelhança. Unidos por desígnio divino, uma só existência. Os dois são um modo de unidade querida por Deus. O divórcio não se justifica. O que Deus uniu não vem da vontade humana, mas da vontade de Deus que une o casal a si. O casal é imagem e semelhança de Deus. Na criação Adão deu nome aos animais, o que significa assumir posse. “Mas não havia entre eles um que lhe fosse igual”, consubstancial. Deus tira uma costela e faz a mulher. Em hebraico, costela tem também o sentido de vida. É a mesma vida do homem. Homem e mulher são expressões de uma mesma vida. Ser uma só carne significa ser uma só vida. Tanto é uma vida que a criança, fruto do casamento, é expressão maravilhosa dessa vida que gera vida.
Crianças, a força do Reino
As mães trazem crianças para que Jesus as toque. Grandiosa cena: Jesus abraça as crianças. Ele, a criança do Pai do Céu, abraça seus irmãozinhos, mais próximos ao coração do Pai. Ele é Filho com muitos irmãos. A carta aos Hebreus diz: “Ele não se envergonha de chamá-los seus irmãos” (Hb 2,11). As crianças são a esperança do Reino. “Deixai que as crianças venham a mim, não as impeçais.” O Reino é das crianças e dos que se fazem crianças de Deus. Abençoando as crianças, coloca-as em comunhão intensa com o Pai e impõe as mãos como sinal dessa comunhão. E reza por elas. Na ligação com o casamento, a abertura do casal a sua significação maior, que é a união mútua na união a Deus, está realizando esse mandamento de ser crianças, isto é, de acolher a comunhão amorosa de Deus que os une e abençoa.
Pelo sofrimento à glória
Jesus, o sumo sacerdote, possuía tudo para nossa redenção. Mas precisou fazer a experiência de sofrimento e tentação para poder compreender o coração humano. Por isso, “é capaz de socorrer os que são tentados” (Hb 2,18). No matrimônio, o sofrimento, a luta para realizar sempre mais a união de corpo e de alma, requer a passagem pela dor do amor. O amor será sempre um sair de si para ir ao encontro do outro e realizar exteriormente a unidade que o sacramento realiza. Essa atitude é o que propõe Jesus ao abraçar as crianças: O casal torna presente o Reino de Deus na medida em que se acolhe como criança. Assim lhe é dado crescer em Deus e na vida. Se não se tornarem criança que acolhe o outro como presente, jamais entrarão na dinâmica do Reino de Deus, nem realizarão o sacramento que é redenção. O salmo 127 reza: “Assim é abençoado o homem que teme o Senhor. O Senhor te abençoe cada dia de tua vida”.
Leituras:Gênesis2,18-24;Salmo 127;
Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16.
1. Marcos narra que os fariseus colocaram a Jesus a questão do divórcio, apoiados em Moisés. Vejamos que Marcos 10 apresenta 3 questões que refletem as 3 tentações de Jesus. São também as nossas. Jesus volta à questão do mandamento da criação: não haja separação porque os dois serão uma só carne. É a unidade querida por Deus à sua imagem e semelhança. A palavra costela, em hebraico, que significa também vida, indica essa unidade. Ligando à temática da criança, compreendemos que, sendo fruto do casamento, é expressão maravilhosa dessa vida que gera vida.
2. Belíssima cena de Jesus com as crianças. São seus irmãozinhos, pois ele é a Criança do Pai (em grego - παíς). Jesus assume a criança, que em seu acolhimento, é símbolo do acolhimento necessário ao Reino. Em ligação ao casamento, esse espírito da infância espiritual é o modelo para o mútuo acolhimento do casal.
3. A carta aos Hebreus anota que Jesus passou pelo sofrimento para “ser capaz de socorrer os que são tentados” (2,18). A luta para realizar a união matrimonial requer a passagem pela dor do amor. Amar é sair de si para ir ao encontro do outro, com o espírito de acolhimento da criança, tornando possível assim a realização do sacramento que é redenção.
Jesus era antiquado?
Por que Jesus não aceitava o divórcio? Muito simples. Por que entendia de casamento e sabia que o casamento faz dos dois uma só realidade. O casamento faz uma unidade que, sendo destruída, destrói os dois. E serão os dois uma só carne. É uma união feita por Deus e não por um contrato.
O Reino dos Céus é dado a quem o recebe como uma criança. De coração aberto. Assim no casamento. Só pensam em criança, mas não iguais a crianças. Criança gosta de presente. Cada um, no casamento, é presente para o outro.
Homilia do 27º Domingo Comum
EM OUTUBRO DE 2006
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