Sigismundo, filho do rei da Borgonha, abjurou publicamente a heresia de Ário, e congregou-se à Igreja Católica, pelo ano de 513. Sigerico, seu filho, imitou em breve este exemplo, e Santo Ávito de Viena fez ao povo uma homília a propósito disto. O único fragmento que nos resta diz-nos que uma princesa, filha de Sigismundo, havia sido reconciliada com a Igreja no dia precedente; foi aparentemente ela que se casou com o rei da Austrásia. Uma vez abjurada a heresia, Sigismundo empreendeu viagem a Roma, para reverenciar as tumbas dos santos apóstolos e render homenagem ao chefe visível da Igreja, à qual tivera a felicidade de congregar-se.
O Papa Símaco recebeu o príncipe com honras condizentes à alegria que lhe proporcionava esta conversão. Presenteou-o com diversas relíquias, e falando-lhe com a bondade e autoridade de pai, deu-lhe bons conselhos.
Sigismundo, uma vez regressado, testemunhou o reconhecimento numa carta ao Papa. Nela chama Símaco de prelado da Igreja Universal; atribui a sua conversão às preces desse Santo Pontífice, agradece-lhe os conselhos paternais que lhe havia dado de viva voz, e lhe solicita o envio das relíquias de São Pedro, porque não havia podido recusar a diversas a diversas igrejas uma grande parte daquelas que trouxera de Roma.
Sigismundo tinha a corte em Gênova. Sua primeira preocupação foi purificar a cidade, infestada não somente pelos arianos, mas ainda por outros heréticos e cismáticos, como depreendemos de uma carta de Santo Ávito. Santo Máximo, bispo de Gênova, animou e susteve o zelo deste príncipe; aconselhou-o a reconstruir e ampliar o mosteiro de Agaune, em honra dos santos mártires da legião tebana.
Falecida a primeira mulher de Sigismundo este contraiu segundas núpcias com uma mulher que não era da nobreza. O desintendimento não tardou em manifestar-se entre a madrasta e o enteado.
Num dia de festa, Sigerico, reconhecendo na madrasta as vestes de sua mãe, disse-lhe com rancor: - "Não sois digna de trajar as vestes de vossa senhora, vale dizer de minha mãe." A madrasta sentiu-se ultrajada pela censura. Com o objetivo de vingar-se envidou tudo o que estava a seu alcance para fazer crer ao marido que o filho, contando com o apoio do avô, Teodorico, conspirava contra a coroa e sua vida.
Sigismundo demasiadamente crédulo, deu ordens de estrangular o filho, depois de havê-lo feito embriagar durante um banquete. Apenas a ordem havia sido executada o pai arrependeu-se e lançou-se sobre o cadáver do filho, vertendo lágrimas amargas. Um ancião da corte lhe disse: "Não é sobre vosso filho que deveis chorar: sua inocência é notória; é sobre vós mesmos, que cometestes o mais cruel infanticídio."
Sigismundo seguiu o conselho; retirou-se ao mosteiro de Agaune, para expiar o pecado com lágrimas e jejuns na santa solidão. Prostrado diante das tumbas dos santos mártires da legião tebana, rogou insistentemente a Deus que não o fulminasse com a morte em punição de seu crime, mas que lhe fizesse carregar o seu castigo nesta vida, e não na outra. Em breve pareceu que suas preces haviam sido atendidas.
Os filhos de Clóvis, rei da França, marcharam contra Sigismundo, que foi inteiramente batido, foi traído por súditos e entregue a Clodomiro, que o enviou prisioneiro a Orleans, com a esposa e dois jovens, Gisclades e Gundebaldo.
Clodomiro formulou o propósito de fazer morrer Sigismundo, sua mulher e os dois príncipes, seus filhos, antes de deixar Orleans.
O meio mais seguro de vencer era suprimir os inimigos era esmaga-lo completamente, assim, mandou matar Sigismundo, sua esposa e seus dois filhos. A execução verificou-se em Columelle, no ano de 524, nas fronteiras de Orleans e Beauce, e os corpos foram lançados num poço, que foi denominado poço de São Sigismundo.
A vida penitente que levou este príncipe após seu pecado, a fé com que ousou orar a Deus, e a submissão com que aceitou, para expiá-lo, as mais humilhantes tribulações, e sobretudo a morte injusta que sofreu, propiciaram-lhe as honras de mártir na Igreja, segundo um costume assaz comum destes tempos recuados, de conceder tal distinção às pessoas virtuosas que sofreram morte injusta.
Havia três anos que seu corpo, o deu sua esposa e de seus filhos estavam no poço onde haviam sido lançados, quando o abade de Agaune solicitou a um senhor borgonhês que os pedisse ao príncipe. Obteve-os, e foram conduzidos, com cânticos e salmos, de Orleans até Agaune, onde foram enterrados na igreja de São João Evangelista. Os milagres que Deus operou na sepultura de São Sigismundo tornaram-no dia a dia mais célebre.
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