Em Pisa, da Toscana, beata Clara Gambacorti, que, ao perder ainda muito jovem a seu esposo, aconselhada por santa Catalina de Siena fundou o mosteiro de santo Domingo sob uma austera Regra e dirigiu com prudência e caridade as irmãs, distinguindo-se por haver perdoado ao assassino de seu pai e de seus irmãos (1419).Etimologicamente: Clara = Aquela que está limpa de pecado, é de origem latina.
A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorti (o Gambacorta), que chegou a ser praticamente o amo da República de Pisa. Clara nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa, era sete anos mais velho que ela. Pensando no futuro de sua filhinha, a que a familia chamava Dora, apócope de Teodora, seu pai a comprometeu a casar-se com Simón de Massa, que era um rico herdeiro, ainda que a menina só tinha sete anos. Não obstante sua curta idade, Dora costumava tirar, durante a missa, o anel de esponsais e murmurava: "Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o teu".
Quando seus pais a enviaram, aos doze anos de idade, para casa de seu esposo, já havia começado a jovem sua vida de mortificação. Sua sogra se mostrou amável com ela; mas, quando viu que era demasiado generosa com os pobres, lhe proibiu a entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu cargo a uma pobre mulher cancerosa.
A vida de matrimônio de Dora durou muito pouco tempo; tanto ela como seu esposo foram vítimas de uma epidemia, em que seu marido perdeu a vida. Como a beata era todavia muito jovem, seus parentes tentaram casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus quinze anos. Uma carta de Santa Catalina de Siena, a quem havia conhecido em Pisa, a animou em sua resolução. Dora cortou os cabelos e distribuiu entre os pobres seus ricos vestidos, coisa que provocou a indignação de sua sogra e de suas cunhadas.
Depois, com a ajuda de uma de suas criadas, arranjou-as para tramitar em segredo sua entrada na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava a ponto, fugiu de sua casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e tomou o nome de Clara. No dia seguinte, seus irmãos se apresentaram no convento a buscá-la; as religiosas, muito assustadas, desceram-na pelo muro até aos braços de seus irmãos, os quais a conduziram a sua casa.
Aí esteve Clara prisioneira durante seis meses, mas nem a fome, nem as ameaças conseguiram fazê-la mudar a resolução. Finalmente, Pedro Gambacorti se deu por vencido e não só permitiu a sua filha ingressar no convento dominicano da Santa Cruz, mas prometeu construir um novo convento. Aí conheceu Clara a María Mancini, que era também viúva e ia a alcançar um dia a honra dos altares.
Os escritos de Santa Catalina de Siena exerceram profunda influência nas duas religiosas, as quais, no novo convento, fundado por Gambacorti em 1382, conseguiram estabelecer a regra em todo o fervor da primitiva observância. A Beata Clara foi primeiro sub prioresa e logo prioresa do convento, de que partiram sucessivamente muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades de Itália. Até ao dia de hoje, se chama em Itália as religiosas de clausura de Santo Domingo "As irmãs de Pisa".
No convento da beata reinavam a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: "Não olvideis nunca que em nossa ordem há muito poucos santos que não hajam sido também sábios" Clara teve que fazer frente, durante toda sua vida, às dificuldades económicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar de isso, numa ocasião em que chegou a suas mãos uma valiosa soma de dinheiro que podia ter empregado no convento, preferiu foram, sem dúvida, o sentido do dever e o espírito de perdão, que praticou em grau heroico.
Giacomo Appiano, a quem Gambacorti havia ajudado sempre e em quem havia posto toda sua confiança, assassinou-o à traição, quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também a mãos dos partidários do traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelo inimigo; mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger a suas filhas contra a turba, se negou a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado frente à porta do convento, e a impressão fez com que Clara adoecesse gravemente.
Sem embargo, a beata perdoou tão de coração a Appiano, que pediu que lhe enviasse um prato a sua mesa para selar o perdão, compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se achavam na miséria, Clara as recebeu no convento.
A beata sofreu muito até ao fim de sua vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: "Jesús meu, eis-me aqui na cruz". Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto, e a beata bendisse a suas filhas presentes e ausentes. Tinha, ao morrer, cinquenta e sete anos. Era em 17 de abril de 1420. Seu culto foi confirmado em 1830 pelo Papa Pío VIII.
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