Somos batizados – mergulhados na água. O batismo é um símbolo exterior e uma ação de Deus em nós que realiza e explica o encontro salvador com Cristo. O rito de jogar a água na cabeça de uma criança, e não mergulhar, faz perder muito a força do símbolo, mas não diminui a graça sacramental. Para Deus uma gota d’água é um oceano e um oceano é uma gota d’água. Sua graça ultrapassa qualquer ideia que tenhamos, porque ela é a comunicação do próprio Deus Pai, Filho e Espírito. O Batismo, como ponto de partida para a vida cristã, mergulha-nos em Deus, não como um corpo que é molhado, ou como uma esponja que é embebida, mas como vidas que se unem. Passamos a viver em Deus e Deus em nós. Somos introduzidos na vida divina que circula nas três Pessoas da Santíssima Trindade. Somos encharcados da natureza divina. Diferentemente de Jesus que era de natureza divina e humana unidas em suma uma só pessoa, continuamos humanos, mas participamos da natureza divina, como diz Pedro em sua segunda carta 1,4: “Por ela (glória e virtude de Cristo) nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina”. Exprime a plenitude da vida nova em Cristo, isto é, a comunicação que Deus faz de uma vida que só pertence a Ele. Contemplemos o que significa o batismo e quanto de participação de Deus ele nos dá. Quando batizo as crianças gosto de beijá-las assim que derramo a água, para salientar a santa presença de Deus que vive nessa criança.
Caminhar em Deus
A espiritualidade cristã só existe e progride em Deus. Todos os outros elementos que a definem daí decorrem. São João explicita essa verdade com a parábola da videira e os ramos (Jo 15,1-8). O galho tira a vida do tronco. Assim, é a mesma vida que passa por Cristo e leva a produzir frutos. João insiste na palavra permanecer: “Permanecei em mim” – “permanecei no meu amor”. Acentua também a comunhão: “e nossa comunhão é com o Pai, com seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1,3). “Deus é amor, quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (4,16). Caminhar em Deus é ter consciência dessa presença e deixar que Ele transpareça através das atitudes do amor de comunhão guardando a Palavra de Deus: “Aquele que guarda Sua palavra, nesse verdadeiramente o amor de Deus é perfeito. Nisso conhecemos que estamos nEle. Aquele que diz que permanece nEle, deve andar como Ele andou” (2,5). Jesus foi o modelo. Nele vivemos pelo amor “ Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3,11).Conhecemos o amor: “Ele deu sua vida por nós: nós também devemos dar a vida pelos irmãos” (3,16). Dar a vida é empenhá-la para que o outro tenha vida.
Sereis iguais a Deus
A serpente, na narração da queda, diz a Eva: “Deus sabe que, no dia em que comerdes do fruto, vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5). Está aí a raiz do pecado. Querer ser como Deus – ter o poder. Mas é fácil “ser como Deus”: Caminhar como Ele caminhou, doando a vida. À medida que nos mergulhamos em Deus, somos como Ele, no amor, promovendo a vida em abundância. Cada gesto de doação e entrega é um sinal da vida de Deus em nós, porque nEle estamos mergulhados pelo Batismo. Dar vazão a essa vida é a espiritualidade que nasce do batismo.
ARTIGO REDIGIDO EPUBLICADO
EM JANEIRO DE 2006
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