"Uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala sozinho para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das injustiças, não é verdadeiramente a Igreja de nosso divino Redentor" (04/12/1977).
"Quando nos chamarem de loucos, embora nos chamem de subversivos, comunistas e todas as ofensas que atacam contra nós, sabemos que não fazem mais que pregar o testemunho 'subversivo' das bem-aventuranças, que anima a todos para proclamar que os bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados os sedentos de justiça, bem-aventurados os que sofrem" (11/05/1978).
"Uma Igreja que não sofre perseguições, e que está desfrutando dos privilégios e o apoio da burguesia, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo" (11/03/1979).
Oscar Arnulfo Romero nasceu em agosto de 1917 numa família modesta em Ciudad Barrios (El Salvador). Aos 14 anos, ingressa no seminário, mas seis anos depois afasta-se para ajudar a família que estava com dificuldades. Passa a trabalhar nas minas de ouro com os irmãos. Retoma os estudos e é enviado para Roma para estudar teologia, na Universidade Gregoriana. Romero é ordenado sacerdote em 1942, regressa a El Salvador e assume uma paróquia do interior. Foi depois transferido para a catedral de San Miguel, onde fica por 20 anos. Sacerdote dedicado à oração e à atividade pastoral, dedica-se a obras de caridade, mas sem nenhum particular empenho reconhecidamente social.
Em 1970 é nomeado Auxiliar de San Salvador. O Arcebispo Luis Chávez y Gonzalez busca atualizar a linha pastoral de acordo com o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín. Mas Romero não se identifica integralmente com a linha pastoral proposta. Em 1974 é nomeado bispo da diocese de Santiago de Maria no meio de um contexto político de forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas.
No ano seguinte, a Guarda Nacional executa cinco camponeses e Dom Romero celebra missa pelas vítimas. Ele não faz uma denúncia explícita do crime, mas escreve uma carta severa ao presidente Molina.
Em 1977, Dom Oscar Romero é nomeado Arcebispo de San Salvador. Pouco tempo depois, é assassinado o jesuíta padre Rutílio Grande, empenhado na luta do povo e ligado a Dom Romero. Dom Oscar Romero afirmou que foi o exemplo do Padre Rutilio e sua morte que o convenceram a ficar firmemente ao lado dos pobres e dos injustiçados de El Salvador. Esse é o momento em que ele reavalia a sua posição e coloca-se corajosamente junto dos oprimidos, denunciando a repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e econômicos, apoiada pelos Estados Unidos da América. O Arcebispo denuncia também a violência da guerrilha revolucionária. As suas homilias são transmitidas pela rádio católica, dando esperança à população e provocando a fúria dos governantes.
Em outubro de 1979, um golpe de Estado depõe o ditador Humberto Romero. Uma junta de civis e militares assume o poder, e nesse cenário, exército e organizações paramilitares assassinam centenas de civis (entre eles sacerdotes). A guerrilha responde com execuções sumárias.
Em fevereiro de 1980, Dom Romero escreve ao presidente dos EUA, Jimmy Carter, um apelo para que ele não envie ajuda militar e econômica ao governo salvadorenho e para não financiar a repressão ao povo.
Os dias do pastor estavam contados. Ele sabia. E o dizia claramente. São conhecidas o sem número de vezes em que anunciou sua morte próxima. Recorda os anúncios da Paixão feitos por Jesus do Nazaré e que os evangelhos recolhem. Com muita clareza, afirmava: "Se nos cortarem a rádio, se nos fecharem o jornal, se não nos deixam falar, se matarem todos os sacerdotes e até o arcebispo, e fica um povo sem sacerdotes, cada um de vocês deve converter-se em microfone de Deus, cada um de vocês deve ser um mensageiro, um profeta".
Duas semanas antes de sua morte, em uma entrevista ao jornal Excelsior, do México, disse:
"Fui frequentemente ameaçado de morte. Devo lhe dizer que, como cristão, não acredito na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandato divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinem. Se chegarem a cumpri-las ameaças, a partir de agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição do Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, entretanto, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se transformará logo em realidade. Minha morte, se é aceita Por Deus, que seja pela liberação de meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Pode escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdoo e benzo aquele que o faça".
No dia 24 de março de 1980, - Domingo de Ramos - às 6 h da tarde, Dom Oscar celebrava missa na capela do Hospitalito, hospital de religiosas que cuidavam de doentes de câncer. No momento da consagração, o tiro desfechado por um atirador de elite escondido atrás da porta traseira da capela atingiu o coração do pastor e matou-o imediatamente.
Calava-se assim a voz que defendia os pobres no regime cruel e sangrento que dominava El Salvador. E Monsenhor Romero passaria a estar vivo, a partir de então, no coração de seu povo, no qual profetizou que ressuscitaria, se o matassem. Assim foi e assim é. Não existe um só salvadorenho nos dias de hoje que não fale com carinho extremo de Monsenhor Romero e não reconheça nele um pai e um protetor.
Calava-se assim a voz que defendia os pobres no regime cruel e sangrento que dominava El Salvador. E Monsenhor Romero passaria a estar vivo, a partir de então, no coração de seu povo, no qual profetizou que ressuscitaria, se o matassem. Assim foi e assim é. Não existe um só salvadorenho nos dias de hoje que não fale com carinho extremo de Monsenhor Romero e não reconheça nele um pai e um protetor.
Para inúmeras comunidades cristãs do continente americano, Oscar Romero passou a ser considerado santo desde o dia do seu martírio. Chamam-lhe São Romero da América Latina pelo seu empenho em favor da paz, sua luta contra a pobreza e a injustiça.
Foi beatificado no dia 23 de maio de 2015 numa cerimônia que reuniu centenas de milhares de pessoas na Praça do Divino Salvador do Mundo, em El Salvador.
A Missa foi presidida pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, com a participação de vários chefes de Estado e de Governo, para além dos vice-presidentes de Cuba e Costa Rica.
O cardeal italiano leu a carta apostólica em latim com que o Papa Francisco proclama o Beato Oscar Romero, “bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heroica do Reino de Deus, reino de justiça, fraternidade e paz”.
Foi canonizado pelo Papa Francisco em 14 de outubro de 2018, que usou uma relíquia do Dom Romero na missa: o cíngulo que Dom Romero usava o dia em que foi assassinado em San Salvador e que ainda está manchado de sangue.
Foi canonizado pelo Papa Francisco em 14 de outubro de 2018, que usou uma relíquia do Dom Romero na missa: o cíngulo que Dom Romero usava o dia em que foi assassinado em San Salvador e que ainda está manchado de sangue.
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