sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Economia da fé”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
54 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
(Ao lado, PADRE BRANDÃO(+))
Cara ou coroa?
 
O Evangelho do 29º domingo continua a nos mostrar a situação de tensão entre Jesus e os chefes do povo que fazem de tudo para prendê-lo. Nesse texto de hoje vemos uma armadilha política. Querem colocar Jesus ou contra o imperador romano, César, ou contra o sentimento de nacionalidade do povo que odiava pagar o imposto ao invasor estrangeiro. Perguntam se devem pagar o imposto ao imperador. Jesus, percebe sua maldade – “De quem é a imagem da moeda?”, pergunta. - “De César!”, Respondem. “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” responde Jesus (Mt 22,20). Jesus explica que o Reino de Deus não se reduz às categorias humanas de pagar ou não pagar o tributo a César. Jesus diz que se devem cumprir as obrigações para com Deus sem se esquecer das obrigações civis para com a sociedade. O dilema que lhe é colocado é uma situação presente no mundo. Os cristãos vivem em uma situação onde há um estado paralelo ao Reino de Deus. Há duas realidades nem oposição nem em servidão. Vimos na história tempos em que a Igreja assumiu o poder civil. Outras vezes o Estado assumiu posições que dominaram a Igreja, absorvendo o Estado o direito divino. 
Um mundo sem coroa 
Penso que a posição de contraposição não é solução. Jesus, como mestre, dá-nos um encaminhamento de reflexão: em nossa realidade vivemos um tempo de pós-cristandade em que os países primam pelo distanciamento do religioso. Se por um lado é bom o distanciamento da tutela religiosa, por outro lado caímos em uma idolatria selvagem, onde os Estados se fazem donos do mundo, decidido sobre o bem e o mal, sobre a vida e a morte. O Salmo nos leva rezar: “Do Senhor é a terra e o que ela encerra, o mundo e seus habitantes” (Sl 24,1), “dai-lhe a glória que lhe é devida” (Sl 95,7). É absurdo um estado que se ponha como o cume do poder. Deve levar em conta Deus e os homens. O estado sem Deus é tirano, pois se põe no lugar de Deus. Não precisa ser fundamentalista, o que seria pior, pois se faria dono de Deus. Nem por isso Jesus ensina o desrespeito à autoridade constituída, como expressa Paulo “sede submissos à autoridade superior que provém de Deus” (Rom 13,1), O profeta diz que se deve reconhecer a Deus: “Chamei-te pelo nome e não me reconheceste” (Is. 45,4). Deus rege o mundo através dos homens que devem reconhecê-lo para serem plenos. 
Dar César a Deus 
O cristão vive em um mundo com o qual deve se comprometer. Ao mesmo tempo deve comprometer-se com o Reino de Deus. Essa junção de compromissos vai levá-lo a solucionar o dilema apresentado a Cristo: “é justo pagar o imposto a César ou não?” Deve dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. E mais ainda: vai dar César a Deus, transformando as estruturas injustas. O bom cristão será sempre um bom cidadão. É urgente na Igreja a formação político-social das comunidades para que possam, em sua condição, ter os fiéis suficientemente preparados para transformar as estruturas injustas. Dar César a Deus vai exigir um novo modo de viver o Evangelho e de implantá-lo nas estruturas da sociedade. Somente vivendo na justiça na fraternidade poderemos, como Jesus, responder às grandes questões políticas de nossa sociedade. 
Leituras: 45,1.4-6; Salmo 95;
1Tessalonicenses1,1-5b;Mateus22,15-21 
Ficha: 1. Continua a tensão entre Jesus e os chefes do povo. O evangelho de hoje mostra-nos como os fariseus e herodianos querem levar Jesus a uma posição incômoda de atacar ou o império ou o sentimento de nacionalidade do povo. Perguntam se se deve pagar o não o tributo a César. A resposta de Jesus desmonta o dilema: Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O Reino no de Deus não se reduz a categorias humanas. São duas realidades não em oposição mas em referência necessárias. 
2. A contraposição não é solução. Em nossa realidade temos predominantemente o estado laico. A tutela religiosa é perniciosa, mas a idolatria do sem Deus faz dos estados tiranos que se tornam donos da vida, do bem e do mal. Nem por isso Jesus exime os cristãos de não respeitarem a autoridade constituída. 
3.A solução do dilema cristão é dar César a Deus, transformando as estruturas injustas, viver o evangelho e implantá-lo nas estruturas da sociedade. Somente vivendo na justiça e na fraternidade podermos dar a resposta libertadora de dar César a Deus. 
Homilia do 29º Domingo do Tempo Comum
EM OUTUBRO DE 2005

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