segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Vim chamar os pecadores”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
Deus mudou de lado?
Jesus está banqueteando-se na casa de Mateus. Por sua profissão de cobrador de impostos era tido como pecador público. Assentar-se à mesa com um pecador público era fazer-se igual a ele. Jesus escolhe estar ao lado dessa gente. Por que muda de lado se Ele é o Justo? Jesus não condena os fariseus porque são justos, mas porque não compreendem o modo de agir de Deus. Parece Deus passou para o lado dos necessitados. Não somente vem em socorro dos fracos e sofredores, vai mais longe, está perto do pecador. Deus é a melhor saída para quem está no mal e no pecado. Não quer o mal, mas quer o pecador. A atitude de Jesus em se misturar e fazer comunhão de vida com os pecadores é para mostrar que sua missão realiza o projeto do Pai: “Eu quero misericórdia”, como diz o profeta Oséias. Jesus explica Sua atitude respondendo aos que o acusavam: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9,11-13). Define, assim, o modo de realizar Sua missão. Ao mesmo tempo propõe aos discípulos como deverão agir. A Igreja não é uma sociedade de “puros” e distantes do mundo das pessoas. É a extensão curativa da missão de Jesus. Uma Igreja que põe fora os pecadores sem lhes oferecer a misericórdia de Deus trai o plano do Pai em Seu Filho. Sempre há esperança para nossos males. Mesmo que tenhamos dificuldades em deixar nossos males, nem por isso a esperança se esgota. 
Quero a misericórdia 
A misericórdia é o em que se encontra o Pai. Se por um lado se exige a fé, por outro, Deus acredita e confia que a “obra de Sua mão”, a pessoa, tem condições de passar para Seu lado, realizar seu projeto, mesmo que esteja em uma situação triste de pecado. Com Sua presença misericordiosa é estímulo, convite, atrativo e força para sair de qualquer dificuldade. A pessoa humana jamais é um caso perdido. Deus está sempre de coração aberto, pois é misericórdia, isto é, já enviou seu coração para nosso lado. Misericórdia vem do latim mittere cordia, enviar os corações. O Senhor vai usar nosso coração para que seja como que um ‘sacramento’, sejamos o coração de Deus. O respeito de Deus para com cada um exige dEle que não Se manifeste de modo a assustar a pessoa. Deixa-Se manifestar através de nós, como Se manifestou através de seu Filho, o Bom Pastor. Quando Jesus envia seus discípulos diz: “ide e fazei discípulos meus todos os povos”, cria o grande movimento de misericórdia. Há quem tema a pastoral da misericórdia. 
Fé misericordiosa. 
Por fé comumente pensamos em um conjunto de doutrina a ser aprendida e defendida. Certo, mas lendo Paulo (Rm 4,18-25) vemos que Abraão e Sara impossibilitados de gerar, tornam-se pais de uma imensa posteridade. A fé na misericórdia de Deus foi suficiente para a recuperação de seu corpo já amortecido. Isso lhe “foi creditado como justiça”, isto é, santidade. Porque creu na promessa de Deus que recupera, foi feito pai. Assim também acontece com os que crêem que Jesus ressuscitou. Se vivermos da fé, vai acontecer na prática a misericórdia em todas as dimensões da vida, no trato com os pessoas, no modo de gerir as estruturas e de encarar a realidade do mundo e da natureza.
Leituras: Oséias 6,3-9; Salmo 49; 
Romanos 4,18-25; Mateus 9,9-13. 
Ficha: 1. O evangelho de Mateus nos apresenta Jesus banqueteando-se em sua casa, ele que era um pecador. Isso causa escândalo. Jesus, recusando a mentalidade dos fariseus, diz que Ele veio para exercer a misericórdia – são os doentes que precisam de médico. Misericórdia é estar ao lado dos que necessitam. 
2. O Pai está ao lado de quem necessita de ser compreendido e amado. Nós continuamos a missão de Sua misericórdia. Quando envia Seus discípulos, inaugura no mundo o reino da misericórdia. A pastoral deve partir da misericórdia. 
3. A fé não deve ser compreendida ao como um conjunto de doutrinas, mas como misericórdia que recupera em todos as dimensões da vida. A fé deve compreendida, mas sobretudo vivida. 
Homilia do 10º Domingo do Tempo Comum
EM JUNHO DE 2005

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